Não é novidade que a inadimplência assola o país. O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estimou que um total de 59,4 milhões de brasileiros ficaram com o nome negativado ao final de julho. Esse resultado representa 39,3% da população com idade entre 18 e 95 anos. Em junho passado, a estimativa apontava a marca de 59,8 milhões de inadimplentes. Na variação anual do número de dívidas atrasadas, o indicador mostrou uma queda de 5,53%. O dado mostra que a soma de dívidas tem cedido de maneira mais rápida do que a quantidade de inadimplentes.
Inadimplência por região | |
Região | Número de pessoas |
Sudeste | 25,6 milhões |
Nordeste | 15,7 milhões |
Sul | 7,8 milhões |
Norte | 5,3 milhões |
Centro-Oeste | 4,9 milhões |
Fonte: SPC
O analista técnico do Sebrae Minas, Bismarck Esteves, atribui o alto índice de inadimplência a falta de costume do brasileiro em planejar o orçamento. “A partir do momento que a pessoa gasta, sem criar metas e regras, ela acaba por criar um consumismo, além de sua capacidade de pagamento e a consequência é o endividamento. É necessário ter a cultura do planejamento porque ele é a principal ferramenta para o controle financeiro”.
Ele orienta não gastar mais do que deve e analisar o que é essencial. “A pessoa precisa colocar o valor que recebe no papel e, a partir disso, estabelecer o que é efetivamente necessário a fim de gastar o que foi desejado e planejado mediante seu orçamento mensal”.
Esse hábito é comum no dia a dia da universitária Ingrid Forato. Ela recorda que, desde sua infância, seus pais a induzia a ter noção de planejamento. “Eles me ensinavam a pensar antes de gastar. Às vezes, me davam uns trocados para comer algo na escola e eu optava por comer o lanche oferecido por eles para guardar aquele dinheiro e gastá-lo com alguma coisa que eu queria muito”.
Com base nisso, Ingrid aprendeu a, além de gastar com sabedoria, poupar parte do seu dinheiro e reservá-lo. “Atualmente, eu estou sem trabalhar, então meu pai me dá um valor todo mês e eu me organizo para pagar a mensalidade da minha faculdade, os gastos com meu carro e tudo o que precisar. Antes de comprar, eu sempre penso: preciso disso? Quase sempre a resposta é não”.
Me endividei e agora?
Quando a pessoa acumula dívidas, acaba sendo prejudicada. “Quando se tem as necessidades básicas comprometidas e, até mesmo, não saciadas, o indivíduo tem um impacto psicológico, em suas relações, na sua produtividade e até na sua autoestima”, explica Esteves.
A universitária Camila Teixeira vem sentindo isso na pele. “Eu usava muito o cartão de crédito quando não tinha mais dinheiro, acabei ficando desempregada e o débito acumulou. Com os juros, não consegui cobrir o cartão e sigo assim. Não tenho condições de pagar a minha dívida e isso me incomoda muito, além de me atrapalhar porque vários serviços que uso necessita de cartão, daí fico dependendo de outras pessoas”.
Em casos como o de Camila, o analista do Sebrae MG aconselha partir para a negociação. “A pessoa deve se aproximar de seus credores a fim de solucionar esse débito em médio ou longo prazo. Lembrando que é essencial que ela faça um parcelamento em que consiga pagar. Ela pode entender que isso está dentro do planejamento e que deverá quitar, do contrário, a dívida se tornará uma bola de neve”.
Esteves acrescenta que, dependendo do valor dos juros e correções, o empréstimo pode ser uma alternativa para quem está endividado. “É relativo, por exemplo, se os valores do crédito forem mais baratos que a dívida antiga, então vale à pena contratar esse serviço para desafogar de um custo maior”, conclui.