A tradição de manter um negócio no seio familiar pode estar se perdendo ao longo dos anos. Segundo levantamento do Sebrae Nacional, a cada 10 pequenos negócios, apenas 3 seguem essa linha, ou seja, 36%. A pesquisa aponta que 37% das empresas têm familiares como sócios ou empregados. Contudo, esse número ainda é relevante para o Estado, pois engloba mais de um terço dos pequenos negócios em Minas e é líder da modalidade na região Sudeste.
[table “” not found /]Já entre as microempresas (ME), 52% são familiares e os Micro Empreendedor Individual (MEI) reúnem 25% de empreendimentos com essas características. De acordo com o estudo, as empresas de pequeno porte (EPP) são as que concentram a maior proporção de parentes em seus quadros de funcionários, atingindo 59%.
O gerente de inteligência empresarial do Sebrae Minas, Felipe Melo, diz que esse tipo de empresa é como qualquer outra. Contudo, apresenta algumas peculiaridades, como a questão cultural da família. “Se na companhia, o pai é o dono, os filhos trabalham com ele e essa família tem um perfil mais patriarcal – em que o pai centraliza todas as discussões e relacionamentos –, provavelmente, dentro da organização será da mesma forma”.
Melo destaca que o nível de confiança dentro desse modelo de corporação é maior. Em contrapartida, na medida em que há um ambiente de confiança fortalecido, tende-se a ter o controle gerencial mais fraco, gerando problemas de gestão”.
O caminho do sucesso
Há quem diga que as empresas familiares são mais longevas do que os outros modelos de negócios, no entanto, Melo afirma que não existe nenhuma pesquisa conclusiva que mostre que é o caráter familiar que faz com ela tenha êxito. “Se for pelo lado da sobrevivência, a familiar dura mais. Mas, se observarmos pelo crescimento e rentabilidade, as corporações não familiares crescem mais”.
Ele ainda conta que as características das mais duradouras são: cultura de investimento mais conservadora, possui um grau de endividamento mais baixo e tem uma cultura de negócio que é percebida e que atende as necessidades dos clientes.
Não misturar o pessoal com o profissional é um dos pontos mais vitais para o bom gerenciamento, segundo Melo. “Ao gerir qualquer empreendimento, a principal questão é não misturar o dinheiro da família com o da organização. O empresário precisa separar relação familiar de convívio no local de trabalho”.
O gerente sugere que é importante definir o papel de cada um dentro do negócio. “Qual é a função do sócio? O que se espera dele e o que ele almeja em termos de operação da empresa? É preciso tomar cuidados adicionais com relação aos diretos de propriedade e sucessão. A construção de um acordo societário formal e transparente é fundamental”.
De pai para filho
Segundo dados do Sebrae, 70% dos negócios familiares no mundo não resistem a morte do fundador. Melo aponta dois motivos para a situação: o primeiro é que os filhos não tem interesse em participar da empresa. Já o segundo tem a ver com a preparação e conhecimento dos herdeiros para dar continuidade. “Em alguns casos, os fatores que levam o empreendimento a ter sucesso estão concentrados na cabeça do fundador. E esse conhecimento não é transmitido para as gerações seguintes, criando um fator de risco”.
Ele reforça que existe uma cultura de negócios familiares no Brasil. “Observamos uma característica que são os negócios por conta própria, que refletem diretamente no microempreendedor individual e na micro e pequena empresa. Pois, o primeiro local que o empreendedor procura um sócio para expandir é entre os familiares. É difícil prever o crescimento, pois temos dois cenários: os empreendedores estão cada vez mais informados sobre como podem correr menos riscos. E, hoje, existem possibilidades de negócios mais amplos e disponíveis, fazendo com que os membros da família busquem outros meios de empreender”.
Em família
A loja Venutto Moto Peças foi idealizada, há 4 anos, pelos irmãos José e Leandro Venutto. Para José, os pontos positivos é a parceria, confiança e a tranquilidade de estar em sintonia e em busca do crescimento da marca que é o sobrenome da família.
Ele corrobora com a fala do gerente do Sebrae sobre desassociar profissional do pessoal. “Não é fácil, pois querendo ou não, os assuntos de casa sempre aparecem. Mas, conseguimos separar, porque somos profissionais responsáveis e queremos que a empresa continue a crescer”, salienta.
O Depósito Piracema, fundado há mais de duas décadas, é comandado pelo pai do administrador, José Heleno Caio Lara e seu sócio – que também é um parente. Confirmando as estatísticas, desde 2010, Lara, decidiu se juntar a gestão da companhia e nem pensa em sair do cargo que ocupa, hoje, ele é responsável pelas questões burocráticas e administrativas da empresa da família.
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