Quando o ano se inicia, algumas mudanças são inevitáveis, principalmente na rotina das crianças e adolescentes. Com a proximidade do início das aulas, o primeiro dia letivo pode ser um pesadelo para alguns e uma maravilha para outros. Na internet, os memes (imagens com frases engraçadas e ou sarcásticas) já circulam, além de listas de “o que fazer e o que não fazer no primeiro dia de aula”, “como arrasar no primeiro dia” e “como sobreviver no primeiro dia de aula”. Isso pode até ter graça, mas a ansiedade e a insegurança de alguns alunos pode prejudicar o seu desenvolvimento escolar e social.
A psicóloga da Escola Americana de Belo Horizonte, Michelle Rocha, explica que se a criança ou adolescente for mudar de colégio é preciso que os pais o conheçam e apresentem aos filhos previamente a fim de reduzir a ansiedade e segurança. “O espaço escolar é o novo ambiente da criança onde ela vai passar boa parte do seu dia e, por isso, é importante que ele seja o mais atraente possível. A convivência com pessoas diferentes no novo espaço é importante para o desenvolvimento de habilidades que serão usadas ao longo de toda a vida”, afirma.
Durante o período de adaptação é preciso levar em consideração os sentimentos da criança e do adolescente. Segundo a profissional, os adultos envolvidos no processo precisam compreender que estar em um novo ambiente pode gerar medos e apreensões. “Para isso, podemos fazer um exercício de nos colocarmos em seu lugar tentando imaginar como nos sentiríamos ao iniciar um novo trabalho e como gostaríamos de ser tratados”, exemplifica Michelle.
Ela ressalta ainda que é preciso envolver as crianças nas questões relacionadas à vida escolar, como falar sobre a mudança que será feita, as características positivas do lugar, o que ela irá aprender, os novos amigos que fará, dentre outros, é fundamental para que elas conheçam todos os detalhes e aspectos relacionados a escola em que vão estudar e, assim se sintam mais seguras.
As primas Emanuelle Pereira de Faria Santos, 11 anos, e Emily Faria Gonçalves, 8 anos, contam que o primeiro dia de aula é tranquilo para elas. Emanuelle trocou de escola há mais de 1 ano e segundo ela, a mudança foi boa, pois fez novos amigos. “Não estou ansiosa com a volta às aulas, mas já procurei saber com uma aluna da outra série quem serão os meus professores deste ano”, conta. Para Emily, a mudança será só de turno. Agora, ela irá estudar no período da manhã. “Eu quero que as aulas voltem logo, pois quero conhecer meus professores e fazer novos amigos, pois é sempre bom”, conta envergonhada.
Emanuelle dá a dica para quem está com medo: “Tenham coragem e façam amigos legais. Não fiquem perto de quem não é bom”, sugere a estudante.
Bullying – um problema silencioso
Um dos problemas que também prejudica os estudantes e torna a volta às aulas um tormento é a prática de bullying – termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por uma pessoa ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia, sendo executado dentro de uma relação desigual de poder. Além das agressões psicológicas e físicas, com a internet, os perseguidores tem um leque de alternativas para causar medo – fator que prejudica a adaptação, interação, convívio social e desenvolvimento da criança ou adolescente no ambiente escolar.
A psicóloga elucida que alguns tipos de bullying são difíceis de serem identificados pelos pais, pois suas consequências não são tão óbvias quanto um machucado. “É importante que os pais, e também os professores, fiquem atentos à qualquer mudança de comportamento: se a criança era extrovertida e passa a ficar mais retraída e a querer evitar situações sociais, se ela começa a se queixar de dor de barriga/cabeça ou demonstrar sintomas de ansiedade (nervosismo, sudorese, respiração ofegante etc.) logo antes de ir para a escola, se fica mais triste e chorosa ou agressiva, se ela verbaliza um não desejo de frequentar as aulas, se o desempenho escolar piora etc”, orienta.
Ela destaca ainda que os pais devem ter uma postura acolhedora e que conversem francamente com a criança. Se ela não quer voltar para a escola, a profissional aconselha que os pais tomem atitudes adequadas para cada caso, sempre com o cuidado de preservar a criança. “Uma vez detectados os motivos, e se for constatada uma situação de bullying, os pais precisam encontrar meios de fortalecer a autoestima da criança, ensinando-a a lidar com a situação e a se posicionar com mais firmeza e segurança frente ao agressor. Caso essa intervenção não seja suficiente, é preciso que conversem com as pessoas responsáveis da instituição de ensino, professores e direção, para que eles também possam tomar as devidas providências. Em último caso, é plausível que os pais considerem a possibilidade de uma mudança de escola, assim como o encaminhamento da mesma a um serviço de psicoterapia, para que os traumas deixados pelas situações vividas possam ser tratados por um profissional”, conclui.