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Bilionários recuperaram perdas da pandemia em apenas 9 meses

Nos primeiros meses da pandemia, o mercado de ações viu bilionários reduzirem dramaticamente suas fortunas. No entanto, o susto passou rápido. Em 9 meses, as mil pessoas mais ricas do mundo já estavam tão bilionárias quanto antes da crise sanitária da COVID-19. Já os mais pobres vão precisar de, no mínimo, mais de uma década para se recuperarem. É o que aponta o relatório “O Vírus da Desigualdade”, divulgado pela Oxfam na abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

Segundo o material, este é um tempo recorde de recuperação econômica dos super-ricos do planeta. Para efeitos de comparação, após a crise financeira de 2008, foram necessários 5 anos para que a riqueza dos bilionários retornasse aos níveis anteriores àquela época. Do lado oposto da moeda, estima-se que o total de pessoas que vivem na pobreza pode ter aumentado entre 200 e 500 milhões em 2020.

Os números são impressionantes. Em todo o mundo, a fortuna do seleto grupo aumentou US$ 3,9 trilhões entre 18 de março e 31 de dezembro do ano passado. Juntos, eles possuem agora US$ 11,95 trilhões, o que é equivalente ao que os governos do G20, que inclui países como Alemanha, Canadá, Estados Unidos e França, gastaram em resposta à pandemia. Segundo o relatório, só esse acréscimo de riqueza seria mais que suficiente para evitar que ninguém – no mundo – caísse na pobreza e ainda pagaria uma vacina contra a COVID-19 para todos.

“A pandemia do coronavírus expôs os riscos advindos de sistemas de saúde mercantilizados e subfinanciados, da falta de acesso à água e saneamento, do trabalho precário, das lacunas na proteção social e da destruição de nosso meio ambiente. Revelou como nossos sistemas profundamente desiguais, racistas e patriarcais afetam particularmente os negros e negras e outros grupos racializados e excluídos no Brasil e no mundo”, afirma Lúcia de Castro, ativista de direitos humanos, coordenadora geral da ONG Criola e colaboradora do relatório.

Mulheres e negros

A indignação da ativista é resultante de outros dados do documento: o perfil dos mais afetados desde o surgimento da pandemia. De acordo com o parecer, no Brasil, pessoas negras têm 40% mais chance de morrer devido à COVID-19 que pessoas brancas. Se as taxas de mortalidade da doença nos dois grupos fossem as mesmas, até junho de 2020, mais de 9.200 pessoas afrodescendentes estariam vivas.

Nos EUA, país com o maior número de vítimas do vírus, pessoas negras e de origem latina também têm mais chance de morrer da doença que pessoas brancas. Se os índices fossem iguais para todos, até dezembro de 2020, cerca de 22 mil latinos e negros ainda estariam vivos.

Imposto bancaria auxílio-desemprego

“Devemos olhar para essa crise como o momento em que finalmente começamos a tributar os ricos de forma justa. Isso pode incluir aumento de impostos sobre fortunas, transações financeiras e o fim da evasão fiscal. A tributação progressiva dos estratos mais ricos da sociedade é a pedra angular de qualquer recuperação equitativa da crise, pois permitirá o investimento em um futuro sustentável e equitativo”, lê-se no documento.

O exemplo dado é o da Argentina, que criou um imposto temporário para os extremamente ricos, o que gerou mais de US$ 3 bilhões para pagar as medidas de contenção da pandemia de coronavírus, incluindo suprimentos médicos e auxílio financeiro para pessoas que vivem na pobreza e pequenos negócios.

Como parte da solução que ajudaria o mundo a passar por mais essa crise econômica, a organização sugere que o exemplo seja aplicado nos super-ricos de todos os países. Um imposto sobre os lucros excessivos das 32 maiores empresas globais, desde o início da pandemia, poderia ter gerado US$ 104 bilhões. O suficiente para fornecer auxílio-desemprego para todos os trabalhadores desamparados e apoio financeiro para todas as crianças e idosos de países mais pobres.

“O relatório da Oxfam chega a um momento crucial para mostrar como os que aparecem no topo estão prosperando, enquanto a maioria, representada por pessoas pobres, negras e negros, mulheres, povos indígenas e outros grupos oprimidos, estão sendo esmagados e mortos. Mostra também que chegamos a um ponto crítico. As pessoas têm o poder de pressionar por mudanças, com mulheres negras na liderança desses movimentos, e responsabilizar os governos para que possamos criar coletivamente uma realidade mais justa, igualitária e solidária. Um mundo baseado na equidade, independentemente de raça, gênero, identidade de gênero e orientação sexual, onde os direitos econômicos, sociais, políticos, culturais, ambientais e civis, entre outros, sejam a base para uma vida digna”, destaca Lúcia.