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Metade dos brasileiros não sabe se vacinas estão em dia

Desde o início da pandemia do novo coronavírus ficamos íntimos de termos antes desconhecidos na espera pela tão sonhada vacina como fase laboratorial, pré- -clínica, clínica e testes até a fabricação. Mas, enquanto a de COVID-19 não chega, existem imunizantes disponíveis no Calendário Nacional de Vacinação do país sendo negligenciadas pela população. Isso porque, embora 90% dos brasileiros reconheçam que a imunização é importante, apenas 50% verificam se a caderneta está em dia. Os dados são da pesquisa “Vacinação no Brasil: a percepção do brasileiro sobre a importância da imunização nos dias atuais”, realizada pelo Ibope Inteligência, a pedido da Pfizer.

O estudo foi conduzido com 2 mil brasileiros na capital de São Paulo e nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador e mostra que uma em cada 5 pessoas só checa se está com as vacinas em dia em casos de solicitação médica, quando algum familiar fala sobre o assunto ou durante surtos, epidemias e pandemias. Além disso, 13% acompanham somente a caderneta dos filhos e 17% nunca verificam, não têm, não sabem se têm ou onde está o documento. Essa porcentagem sobe para 29% a partir dos 55 anos.

Apesar do Brasil ser um país conhecido por ter um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de imunização do mundo, não há motivos recentes para comemorar. Dados levantados pela Folha de São Paulo mostraram que o país, pela primeira vez em 20 anos, não atingiu a meta para nenhuma das principais vacinas indicadas a crianças de até um ano. Pior, doenças já erradicadas voltaram a matar. Em 2019, foram registrados mais de 60 mil casos de sarampo. Em 2020, foram notificados 2.184 ocorrências suspeitas e 3 óbitos confirmados de crianças. Nenhuma delas era vacinada.

Outra questão evidenciada pela pesquisa é a falta de diálogo com os especialistas a respeito da vacinação. Segundo os dados, apenas 15% dos entrevistados relataram já ter conversado sobre a importância da imunização com o seu médico. Em relação às crianças, que são mais vulneráveis às infecções, a situação é ainda mais preocupante: 33% dos pais atrasaram as imunizações por conta da pandemia ou não sabem como está a situação da vacinação.

Para Estevão Urbano, infectologista, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI) e membro do Comitê de Combate à COVID em Belo Horizonte, isso acontece porque as novas gerações não conviveram com doenças graves como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche, que mataram milhões no passado. “Acredito que com o passar do tempo, quando algumas doenças ficam sumidas há uma tendência das pessoas de relaxarem e isso é um erro grave. Quando o número de vacinados e protegidos cai, facilitamos a introdução do vírus em determinado meio ou população. Para algumas patologias, o Brasil diminuiu o nível de vacinação e, com a globalização, esses vírus circulam com muito mais rapidez podendo chegar a um ambiente propício a sua multiplicação”, alerta.

Outro fator é a ascensão de grupos antivacina pelo mundo. “Essa corrente vem ganhando adeptos, principalmente nas redes sociais. Mas, são argumentos sem critérios científicos, uma mentira que vai levando as pessoas num efeito arrastão. O risco das vacinas é praticamente zero. Elas são extremamente seguras, sendo raríssimos casos de sequelas graves, e as vantagens superam infinitamente eventuais perigos”, afirma Urbano.

O infectologista enfatiza que os benefícios são individuais e coletivos. “Individualmente, o adoecimento de alguém por uma doença fatal que já possui vacina é algo terrível de se pensar em pleno século XXI e, ao se proteger, você cuida do outro”, diz. De acordo com o médico, apesar de grande parte dos imunizantes serem administrados até a adolescência, não existe idade para parar de tomar. A de tétano, por exemplo, é recomendada a cada 10 anos. Vacinas de gripe e pneumonia podem ser aplicadas até o fim da velhice.

De acordo com o Ministério da Saúde, para quem perdeu o cartão de vacinação, a orientação é procurar o posto de saúde onde recebeu as primeiras doses para resgatar o histórico e solicitar a segunda via. Entretanto, a ausência do documento não é um impeditivo e toda pessoa pode ser imunizada nos postos de saúde. Ela recebe um registro de controle da vacinação, podendo atualizar a caderneta mais tarde.