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Penduricalhos: só falta o de óleo de peroba e The Strange Case of Dr. Jekill and Mr. Hyde

Num país em que existem “penduricalhos” como verba de educação, junto com verba livro e mais verba de estudo remunerado, apareceu até uma incrível verba pré-escola para os servidores dos tribunais superiores, como juízes – felizmente, até agora, apenas para o Distrito Federal e Rio de Janeiro. Talvez tenha sido criada já imaginando que poderia ser utilizada por algum ministro da Educação do atual desgoverno, como o já extirpado Abraham Weintraub, que ganhou como prêmio para sair um salariozinho de mais de R$ 100 mil no exterior. Alguns milhares (ou muitos milhões na soma) de reais para lá – e nada para cá, porque tudo é bem embolsado às custas dos impostos que você (se não for um dos presenteados com penduricalhos) e eu pagamos.

Haja penduricalho! É de alimentação; moradia, não importando se o aquinhoado é dono de uma dúzia ou mais de imóveis, incluindo suntuosos flats ao lado de onde teoricamente trabalha; ajuda de custo; transporte e mais carro oficial; férias extras (as normais são só – para rimar – dos meros mortais); verba paletó (e como existe político que nunca vestiu um só na vida, nem para ir a enterro); premiação por desempenho, simplesmente por cumprir sua obrigação e ganhando “bicho” como jogador de futebol. São inúmeros os extras que volta e meia se incorporam aos polpudos salários. Nos tempos atuais não faltou nem o bônus pela COVID-19, criado pelo procurador-geral de Justiça do Mato Grosso, José Antônio Borges Pereira, para o qual quem ganha muito, muito mesmo, como promotores e procuradores de Justiça, também tem direito a mais um gordo “auxíliozinho”, já que os desempregados estão recebendo R$ 600 mensais. Infelizmente nem todos, porque milhões de necessitados ainda não conseguiram receber nada, enquanto os reis dos penduricalhos são cada vez mais numerosos.

Vivemos num país onde quem manda e desmanda se traveste num Dr. Jekill, como se médico (ou melhor, Ministro da Saúde) fosse, tanto que dá até receita que mais mal causa, sendo simultaneamente um Mr. Hyde, ambas as personagens de Robert Louis Stevenson em “O Médico e o Monstro”, livro escrito em três dias e lançado em 05 de janeiro de 1886. Estudiosos da literatura dizem que Jekill vem do francês je (eu) com o inglês kill (matar ou destruir), enquanto Hyde seria simplesmente face oculta.

Face oculta ou não, o fato é que a cada dia são mais claros os sinais de que a insanidade permanece tomando conta do país, enquanto mantém iludida e esperançosa boa parte da população. Vejam dois exemplos recentes:

Primeiro: Dona Márcia, esposa do seu Queiroz, conhecido por suas ligações com a família Bolsonaro, foi presenteada com uma chamada “prisão domiciliar” caso parasse de fugir. Seu magnânimo benfeitor, que já se recusou sistematicamente a conceder benefício semelhante a idosos e doentes graves, foi o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, aquele mesmo que não faz muito tempo ouviu, alto e bom som, diretamente do presidente da República, que tinha por ele, ministro “amor à primeira vista”. E também já se comenta uma nomeação, em novembro, para uma instância ainda mais alta, o Supremo Tribunal Federal (STF)! A reciprocidade do amor parece ser clara pelas seguidas decisões favoráveis ao governo – leia-se, família presidencial do Planalto.

Integrantes do próprio STJ ficaram estarrecidos com a decisão de seu chefe de conceder prisão domiciliar a um foragido da Justiça, ato que classificaram como absurdo, teratológico, vergonha, disparate e muito raro. Dona Márcia vai, segundo o magnânimo benfeitor, cuidar do Queiroz, o marido que ficou mais de um ano na casa de um estranho advogado cuja fisionomia parece copiada de revistas em quadrinhos e desenhos animados de vilões. Um detalhe importante quanto ao benfeitor Dr. Noronha: foi ele quem, derrubando decisões das instâncias inferiores, autorizou que o ignóbil racista Sérgio Camargo fosse empossado presidente da Fundação Palmares, onde continua, sob aplausos e elogios do clã Bolsonaro, achincalhando e humilhando justamente as pessoas que deveria defender.

Segundo exemplo: para o Ministério da Educação entrou agora mais um militar da reserva e pastor da Igreja Presbiteriana. Lamentável é saber quem ele é de verdade, através da sua pregação sobre filhos, que intitulou de “A vara da disciplina”: “Nada de meios justos e métodos suaves. Deve haver rigor, severidade. E vou dar um passo a mais: devem sentir dor”.

Para ser escolhido como agente público executor de medidas socioeducativas, Milton Ribeiro deveria conhecer e seguir o artigo 18-A do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Têm o direito de ser educados e cuidados sem uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto”. Se não conhece e não segue, deveria ser punido por violar a Lei… mas no desvario que assola o Brasil vai acabar é recebendo benesses. Para finalizar, outra “máxima” do novo ministro: “Temos uma vida privada bem escondida e fazemos coisas que se fossem publicadas seria uma vergonha para nós”. O que será que ele faz?

*Sérgio Prates
Jornalista

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