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Tempo de tela em excesso causa impactos na saúde física e mental

Sintomas associados ao brain rot são alarmantes / Foto: Pixabay

 

Considerada a palavra do último ano pela Universidade de Oxford, brain rot, ou podridão cerebral na tradução literal, é um termo que tem ganhado destaque. Apesar de ainda não ser uma condição clinicamente reconhecida, os sintomas associados são alarmantes e incluem dificuldade de concentração, redução da produtividade, aumento da agitação e quadros de ansiedade e depressão.

O psiquiatra Ricardo Assmé destaca que, antes de compreender o que é o brain rot, é essencial entender o funcionamento do cérebro. “Ele foi projetado com o objetivo de manutenção da espécie humana, possuindo como funções secundárias as cognitivas superiores. O cérebro consegue preservar a espécie humana gerando prazer, por meio da liberação de dopamina. Atualmente, algumas situações também fornecem essa descarga, como jogos eletrônicos, jogos de azar e consumo de vídeos curtos”.

“O brain rot pode impactar nossas vidas a partir de mudanças comportamentais. A capacidade de uma pessoa agir, analisar as coisas e socializar se degrada, pois, com a inércia desse comportamento, alguns hábitos e aprendizados antigos são perdidos. A habilidade de compreensão social muitas vezes é prejudicada em quem tem contato excessivo com a internet e pouca socialização. Mudanças comportamentais se tornam mais difíceis se a pessoa não acostuma o cérebro com atividades que demandam esforço e proporcionam prazer”, acrescenta.

A condição também pode trazer impactos significativos aos motoristas. “Costuma ocorrer uma deterioração cognitiva, afetando o raciocínio crítico. O cérebro, condicionado a funcionar em modo automático devido ao uso excessivo de telas, perde a capacidade de atenção plena e decisões rápidas. No trânsito, a situação pode ser fatal, pois exige concentração e respostas imediatas. Nessas circunstâncias, o brain rot mina essas capacidades, transformando os motoristas em potenciais agentes de risco e aumentando as chances de acidentes”, explica a psicóloga e diretora da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (Actrans-MG), Giovanna Varoni.

Ela ressalta que cerca de 90% dos acidentes no trânsito são provocados por fatores humanos, e as principais vítimas têm entre 18 e 35 anos. “O declínio da saúde mental gera impactos desastrosos. Motoristas distraídos tendem a provocar mais acidentes, exceder os limites de velocidade e até mesmo desrespeitar a sinalização de trânsito. Por outro lado, irritação e estresse geram comportamentos agressivos e imprudentes, aumentando as chances de acidentes graves. As pessoas subestimam o efeito da saúde mental na capacidade de dirigir com segurança”.

O adoecimento mental também pode acarretar outras consequências, como a privação do sono, segundo a presidente da Actrans-MG, Adalgisa Lopes. “Ao assistir vídeos no celular à noite, o cérebro não está relaxando, mas sendo estimulado o tempo inteiro. A pessoa demora a dormir e, consequentemente, tem menos horas de sono. Isso compromete a atenção e memória. No trânsito, o tempo de reação será reduzido, o que é extremamente perigoso”.

 

Como prevenir

Uma das maneiras de reverter o brain rot é limitar o tempo de uso de telas, segundo Ricardo Assmé. “Fuja de conteúdos rápidos e superficiais. Evite atividades que demandam muito tempo, como jogos eletrônicos em excesso, e engaje-se em práticas prazerosas, como socializar, conversar olhando nos olhos e abraçar as pessoas”.

Adalgisa complementa que as telas devem ser desligadas entre 30 a 40 minutos antes de dormir. Além disso, ela defende a necessidade de campanhas consistentes para mostrar como o uso excessivo pode ser prejudicial ao ser humano.