Parece que está longe, mas está muito perto. Dois anos não é quase nada neste mundo agitado do futebol. Falo da nossa Seleção Canarinho que se prepara para disputar mais uma Copa do Mundo em 2026. Apesar do perrengue que vem passando, acredito na classificação sem maiores atropelos. O novo maestro da orquestra agora é o professor Dorival Junior, com todo merecimento. Conquistou a vaga com seu trabalho vitorioso ao longo da carreira.
Treinador de Seleção Brasileira não é missão fácil. Somos todos mestres em futebol, temos nossas preferências, muito bairrismo e clubismo. Treinador de seleção, além de extrema competência, precisa de boa dose de sorte. Pode convocar os jogadores que desejar e, mesmo assim, tem dificuldades para montar um time vencedor. Além de entender bem da parte técnica e tática do seu time e dos adversários, necessita de alto poder de liderança. Comandar estrelas e estrelinhas é uma barra. Para aguentar a pressão dos dirigentes, empresários, imprensa, torcedor e palpiteiros tem que ter aquele negócio de filó.
A Seleção Brasileira já foi comandada por grandes treinadores, gente do nível do Telê Santana e do Tite, bons profissionais, corretos, trabalhadores, mas que perderam duas copas. Outros, com muito trabalho e boa dose de sorte, alcançaram o sonho maior e foram campeões do mundo.
Pouca gente se preocupa com planejamento, projeto, plano de trabalho ou prazo para treinamento. O que vale é o resultado final e o título de campeão. Classificar é obrigação, ganhar amistosos ou Copa América faz parte da brincadeira. O que fica e tem valor é o troféu de campeão mundial. No nosso caso, a conquista do hexa. Não atingindo este objetivo pode jogar todo o resto no lixo. Não nos interessa ser vice, campeão moral ou jogar de forma brilhante.
Faz parte da nossa cultura. Temos cinco copas no currículo. Já deixamos escapar algumas por pura bobeira. Acreditamos que o celeiro aqui é farto. Que todo dia nasce uma joia para o futebol e somos os melhores. Que os adversários tremem ao ver a famosa amarelinha. A história mostra que não é bem assim. Tem mais de duas décadas que não alcançamos o pódio. E o pior é que fomos desclassificados no meio do caminho, mostrando um futebol sem brilho e sem garra.
Vários treinadores tentaram levantar a Seleção. Cada um com um discurso diferenciado. Felipão que não conseguiu repetir o êxito anterior e nos levou ao vexame. O carrancudo Dunga, Tite o poeta, Diniz o filósofo e até o estagiário Ramon Menezes. Nenhum deu conta do recado. Em relação aos jogadores, perdemos muito em afetividade. A maioria se manda muito jovem para os grandes times do exterior. Não tem ligação emocional com o torcedor nativo e são ídolos de outros povos. Chamados até de estrangeiros.
Os que permanecem no Brasil têm poucas oportunidades, quase sempre convocados para reserva ou alguma emergência. A situação é tão estranha que ao sair a lista dos convocados, muita gente, inclusive jornalistas do segmento, ficam sem saber direito quem é o jogador, onde nasceu e qual time jogou. Raro encontrar alguém que consegue falar a escalação da seleção de cor e salteado como no passado. São jovens bons de bola, mas anônimos para o torcedor. De início, tal situação cria desconfiança e se transforma em antipatia com os resultados ruins.
Aí está a dura missão do Dorival Júnior. Saber descascar tamanho abacaxi sem causar mais ferimentos. Baixar a bola das estrelas, mostrando a importância em defender uma camisa consagrada e outrora tão respeitada. Trabalhar com quem realmente queira suar em campo, independente de jogar em times daqui ou de fora.
Preparar o time para jogar de forma moderna, mas com simplicidade. Sem invenções táticas. Respeitar os adversários, tendo consciência que não existe mais time fraco ou bobo. Dentro de campo está tudo muito igual. Do lado de fora também.
E por fim, a missão mais complexa. Buscar o torcedor de volta. Despertar no brasileiro o desejo de abraçar novamente a Seleção. Para que isso aconteça, não adianta discursos, frases de efeito ou campanhas de marketing. O fundamental é ver o time lutando em campo, vencendo, conquistando o título de campeão do mundo, ou melhor, hexacampeão. Vai fundo, seu Dorival. O desafio é seu. Boa sorte.