Conforme um estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 65% dos brasileiros separaram o lixo para reciclagem com frequência nos últimos seis meses, enquanto 50% reduziram a produção sempre e 28% na maioria das vezes. A pesquisa ouviu 2.021 cidadãos com idade a partir de 16 anos em todos os Estados, entre os dias 18 e 21 de novembro de 2023.
A engenheira ambiental do Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC), Marina Oliveira, acredita que esses números positivos serão uma realidade mais comum no país. “Com o acesso à informação e conscientização ambiental, as pessoas estão se preocupando mais com as questões ambientais. Para que isso se intensifique daqui para frente, é muito importante que essas práticas continuem sendo disseminadas e que haja cada vez mais incentivos para reciclagem e coleta seletiva no Brasil”.
Sobre a metade dos brasileiros reduzirem a produção de lixo, ela aponta que apesar de ser um índice muito significativo, ainda é possível melhorar. “Especialmente considerando que uma grande parcela dos resíduos produzidos no Brasil ainda é destinada a algum tipo de descarte irregular. Dessa forma, continuar com as práticas de reutilização, reciclagem de embalagens e a participação nas práticas sustentáveis podem contribuir ainda mais para a redução da produção do lixo”.
Ainda segundo o estudo, o perfil mais comum dessas pessoas são moradores de cidades do interior, mais velhos e com menor escolaridade, também há variações regionais. E as maiores dificuldades apontadas para adotar a prática foram a falta de costume e esquecer de separar o lixo (29%), não haver coleta seletiva na rua, bairro ou cidade (20%) e falta de informação sobre reciclagem ou coleta seletiva (11%).
Para Marina, esse dado reforça a necessidade da realização da educação ambiental e a contínua conscientização e disseminação dessas informações para toda a população. “Apesar dos índices indicados pela pesquisa serem bons, ainda temos muitos pontos que podem melhorar no Brasil. A mudança de hábitos e a adoção de uma cultura alinhada a práticas sustentáveis são de grande importância para que cada vez mais as pessoas optem por contribuir para a reciclagem e coleta seletiva”.
“E para isso, precisamos não só que sejam feitos programas educacionais e campanhas de conscientização da população, mas também que haja investimentos em infraestrutura para garantir e facilitar o acesso das pessoas a essas práticas sustentáveis”, acrescenta.
Realidade
Segundo dados mais recentes, elaborados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2021, revela que o índice de reciclagem no Brasil é de apenas 4%. Sendo que o país produz 27,7 milhões de toneladas anuais de resíduos recicláveis.
O engenheiro civil e professor da escola de engenharia da Universidade de Minas Gerais (UFMG), Raphael Barros, diz que até se surpreende com esse índice. “Por exemplo, em Belo Horizonte, historicamente, é de 1%, de papel, vidro, plástico e metal, os quatro materiais mais reciclados. Alguns fatores que dificultam o aumento desse indicador é a falta de vontade política. Existe uma lei para fechar os lixões, porém, não foram criadas alternativas para que as pessoas abandonassem esses locais”.
“Outro ponto é que a população é completamente descolada desse tema. Se espontaneamente acontece pouco, o governo local deveria induzir esse processo, mas não está interessado. Junta a má vontade dos políticos e outros interesses, com a apatia da sociedade”, complementa.
Ele finaliza pontuando que o governo municipal tem que assumir a responsabilidade que lhe cabe. “Apesar da lei e o Ministério Público terem feito pressão, muitas cidades não cumprem a norma e ainda possuem lixões. A coleta seletiva, por exemplo, que já deveria ter começado, vai demorar duas ou três gerações para ter um projeto digno, pois não tem uma perspectiva de início”.
