Em 29 de outubro é comemorado o Dia Nacional do Livro, porém, o setor não tem muito o que comemorar. De acordo com pesquisa realizada pela Nielsen Book e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL), o volume comercializado e o faturamento de setembro caíram em relação ao mesmo período de 2022. Foram 3,76 milhões de exemplares vendidos contra 4,53 milhões, uma queda de 16,6%; e o lucro foi de R$ 170,04 milhões contra R$ 191,93 milhões, um declínio de 11,41%.
Em 2022, o índice alto de vendas, tanto de faturamento como de volume de livros comercializados, foi devido às ações promocionais e ao fenômeno dos álbuns de figurinha da Copa do Mundo. Conforme a pesquisa, um número muito difícil de superar em 2023.
Ainda segundo o estudo, continua em queda o desempenho do setor no acumulado, apresentando uma variação de 5,34% em volume e 0,39% em faturamento. Foram 37,74 milhões de livros vendidos, mas não o suficiente para superar os 39,87 milhões do ano passado. A crescente no preço médio contribuiu para não deixar o lucro no negativo, R$ 1,73 bilhão em 2023 contra R$ 1,72 bilhão, números que têm se aproximado cada vez mais.
O presidente do SNEL, Dante Cid, explica que o mercado ainda colhe os reflexos de um período de perda do poder de compra do consumidor, sentido desde o segundo semestre de 2022. “Entretanto, tivemos com a Bienal do Livro Rio 2023 a prova de que há caminhos para engajar o leitor e manter viva a paixão pela leitura, o que nos deixa esperançosos para o futuro”.
Acesso aos livros
A coordenadora das pesquisas Retratos da Leitura do Instituto Pró-Livro (IPL), Zoara Failla, revela que é possível reverter esse número. “Desde que a gente use as ferramentas digitais como uma forma de compartilhamento de experiências. As pessoas querem contar aquilo que sentiram, as suas emoções, o que estão lendo e isso precisa ser criado dentro dos espaços de convivência e da escola”.
“O Retratos de Leitura perguntou o que as pessoas fazem no seu tempo livre e a grande maioria respondeu que fica nas redes sociais, e isso está roubando o momento dedicado ao livro, seja o impresso ou digital. Como reverter isto? Sem dúvida é buscando estratégias mais efetivas na formação desses leitores, possibilitando e democratizando o acesso às obras literárias. Temos que desenvolver atividades interessantes, atrativas e de compartilhamento de experiências dentro da escola. Precisamos formar o professor leitor e garantir o livro na biblioteca escolar, pública e comunitária”, afirma.
Conforme a Secretaria de Formação, Livro e Leitura, do Ministério da Cultura, atualmente faltam bibliotecas públicas em pelo menos 991 cidades brasileiras e apenas dois estados, Amapá e Sergipe, estão contemplados em todos os municípios. A pasta pretende criar e recuperar esses locais.
Para a coordenadora, a biblioteca pública, na grande maioria das cidades, é o único equipamento cultural oferecido a essa população. “O local possibilita o acesso aos livros de literatura para aqueles que não tem em casa. Seria fundamental essa política pública que está sendo proposta pela Secretaria para garantir essa democratização. Além disso, esse espaço pode ser um lugar para outras atividades culturais, de convivência, troca de experiências de leitura e encontro de autores locais com a comunidade”.
Redução de leitores
Segundo a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, houve uma redução no percentual de leitores entre 2015 e 2019. De acordo com os dados, os índices caíram de 104,7 para 100,1 milhões, uma diferença de 4,6 milhões de pessoas.
Zoara destaca que melhorar esse índice é um grande desafio. “Temos professores que não são leitores, 60% das escolas brasileiras não têm bibliotecas, e sem dúvida, a formação do leitor nessas instituições é essencial para reverter esses números. Aumentar esse percentual vai ajudar a aprimorar a qualidade da educação e do desenvolvimento humano, além de ser a principal ferramenta para a transformação social no país”.