Em 1822, no dia 7 de setembro, às margens do rio Ipiranga, D Pedro I, num gesto de coragem e heroísmo, inspirado nos mais legítimos sentimentos de patriotismo brasileiro, sacou da espada e gritou – Laços fora, soldados. Independência ou morte. Um ato de bravura desejado e esperado pelos colonizados do reino português há muitos anos, séculos. Pedro Américo pintou seu icônico quadro 60 anos após o fato, terminando-o em 1888, por encomenda do Palácio Bandeirantes de São Paulo. A Imperial Guarda de Honra, nele representada, somente foi criada em dezembro de 1822, três meses após a independência. Na verdade, a beleza e o imaginário justificam a pintura.
No passado, vidas foram dadas pela causa da liberdade, como a dos inconfidentes mineiros e inúmeros outros movimentos em nossa pátria amada. Sem dúvida é a maior data de nossa nacionalidade, não importando as muitas e diversas versões e razões de como aconteceu.
Em 1922, para celebrar o centenário da independência, o governo brasileiro fez realizar uma grande exposição internacional, no Rio de Janeiro, voltada para a ciência, tecnologia e grandeza do Brasil, especialmente com destaque para o comércio, higiene e festas, viação e agricultura, caça e pesca, além dos palácios da Indústria e dos estados. O senador Paulo de Frontin foi o autor do projeto de lei, destinando 100 mil contos de reis para o evento. Países como Argentina, EUA, México, Inglaterra, França, Itália, Portugal, Dinamarca e Suécia participaram com pavilhões. O da França é hoje sede da Academia Brasileira de Letras. Na sua inauguração foi feita a primeira transmissão de rádio no Brasil, com o discurso do então presidente Epitácio Pessoa. Foram mais de treze milhões de visitantes, entre brasileiros e estrangeiros que se entusiasmaram com o que viram.
Em 1972, o governo militar, com suas razões estratégicas e na busca de popularidade, houve por bem celebrar os 150 anos da independência do Brasil com enorme destaque, estilo, forma, pompa e circunstância. Fez conhecida e alardeada a palavra sesquicentenário, até então de rara verbalização em nossa língua. Foi comemoração de muitas solenidades, festas, desfiles, celebrações, inauguração da tv a cores na festa da uva, em Caxias. Ufanismo levado aos mais distantes rincões do país para lembrar ao nosso povo que somos independentes e aqui liberdade é muito mais que uma expressão.
Em 2022, exatos duzentos anos da independência, ano do bicentenário de nossa maior conquista, de nossa liberdade pátria, faltando menos de 100 dias para esta celebração, silêncio. Não se tem notícia nem registro de alguma programação alusiva a tão importante data. Raras e pontuais citações no pé das páginas dos jornais, rápidas inserções noticiosas na tv ou rádio e mais nada. Curioso este país e seu povo. Nossos mais caros valores, aqueles pelos quais vale a pena lutar e dar a vida, estão sendo relegados, esquecidos, sem que lhes seja dada a justa importância. Pátria, família, ética, honra, dignidade e altivez. Dirão os obtusos de plantão que este é ano de eleições, de copa do mundo, assuntos suficientes para destaque da grande mídia.
Não é necessário registrar a importância de nossa independência nem o seu valor para a vida de nosso povo, o quanto vale a cultura e tradição de liberdade e escolha de nossos caminhos por nós mesmos. Ter nosso destino, nosso futuro, em nossas mãos vale a vida de cada um, como disse aquele louco inconfidente, embriagado pelo sonho de liberdade, no dizer de Tancredo Neves, ao subir o cadafalso para seu enforcamento – “Tivesse mil vidas, mil vidas eu daria pela liberdade de minha pátria.”