De acordo com dados coletados pela Transfeera – fintech de gestão de processamento de pagamentos, cobranças e validação de dados bancários -, em 4 anos, os bancos tradicionais perderam 43% de mercado. A análise mostra que, em 2018, 96% dos pagamentos realizados por meio da fintech eram direcionados para as cinco maiores instituições financeiras brasileiras: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica, Itaú e Santander. Já em agosto de 2021 esse número caiu para 53%.
As informações fazem parte do estudo exclusivo “Market-Share de Bancos 2021” que, entre abril de 2017 e agosto de 2021, analisou mais de 6 milhões de transações bancárias realizadas pela plataforma. Para o CMO e cofundador da Transfeera, Fernando Nunes, essa queda se dá, principalmente, pelo avanço das fintechs e a competição que a entrada de novos players gera no mercado.
De acordo com a fintech Distrito, essas empresas receberam o maior volume de capital de risco investido em startups no Brasil no ano passado, foram US$ 3,7 bilhões. “Além disso, a perda de espaço dos grandes bancos acontece devido ao impulsionamento do dinheiro para os canais digitais e as facilidades da tecnologia frente a um sistema legado bem engessado, como o bancário”, ressalta Nunes.
Ele acrescenta que o espaço conquistado pelas instituições digitais impactou os bancos tradicionais, que já compreenderam as mudanças de mercado. “Não é a toa que vemos movimentações de digitalização, novos produtos e parcerias com fintechs. Os grandes bancos tendem a se reinventar, são grandes corporações com musculatura para queimar, querem e já demonstram interesse em se modernizar”.
Nunes acredita que a cooperação no sistema bancário deve avançar, “Nenhum player tem obrigação de ser bom em tudo, obviamente que se uma instituição oferecer 100 produtos, alguns deles serão defasados ou aquém da expectativa do cliente. É justamente por isso que a parceria é importante, pois um player pode auxiliar o outro na construção de novos produtos e serviços”.
Vantagens
Nunes explica que os bancos digitais apresentam inúmeras vantagens que os tornaram competitivos. “A principal é a fluência em tecnologia. Os neobancos e as fintechs são nativos digitais. Uma instituição tradicional possui um sistema legado grande e é difícil fazer todas as mudanças necessárias. Alguns ainda oferecem os serviços da mesma forma que faziam em 1980 – apenas colocaram as soluções em um site e chamam isso de digitalização”.
No que se refere ao relacionamento com o cliente, de maneira geral, as startups possuem atendimentos mais próximos, preços atraentes e produtos personalizados. “O que gera uma experiência mais satisfatória, afinal, a pessoa pode escolher com quem deseja se relacionar no mercado financeiro. Há 15 anos, o cliente apenas aceitava que os serviços eram daquela forma e escolhia dentre as opções. Hoje, há mais liberdade, assim você não precisa manter um relacionamento indesejado, por exemplo”.
A analista de marketing Bianca Rodrigues é adepta aos bancos digitais. “As taxas são menores e o rendimento é maior. Além disso, consigo resolver tudo pelo celular. Confesso que, no início, fiquei mais apreensiva. Contudo, após 5 anos de uso, vi que houve avanços significativos nas plataformas, o que contribuiu para uma melhora na comunicação e, consequentemente, na reputação deles”.
Para o assessor de investimentos, Lauro Araujo, atitudes como a de Bianca serão cada vez mais comuns. “Ter uma conta em um banco digital é muito vantajoso. Fui cliente de instituições tradicionais durante 30 anos, mas migrei porque os serviços que me eram oferecidos custavam caro e não atendiam às minhas necessidades”.
No entanto, ele acrescenta que não há como negar que os novos bancos também têm suas limitações. “Por isso é preciso uma análise da maneira de atuar das instituições digitais, antes de decidir migrar. Quando se tem um problema no banco tradicional, basta ir a uma agência. Pode demorar, mas você encontra a solução pessoalmente e é acompanhado por um gerente. É importante que o consumidor entenda isso, inclusive. Se a pessoa não tem habilidade em usar o celular pode ser que não se adapte bem ao digital”.