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Pedidos de empréstimo, gastos com cartão e uso do cheque especial já superam 2021

Especialistas afirmam que é preciso frear gastos e tentar renegociar dívidas | Foto: Reprodução

Dados do levantamento “O Bolso do Brasileiro – 2022”, feito pela Hibou, apontam que a inflação está assolando a vida financeira da população. O ano mal começou e, por aqui, os pedidos de empréstimos, gastos com cartões de crédito e uso do cheque especial já superaram 2021. É possível notar um leve crescimento do endividamento de forma geral. Segundo a análise, há diferentes níveis: 32% estão igualmente endividados como no início do ano; 32% não estão com pendências; 21% estão devendo mais e 15% estão menos endividados.

Em relação à instabilidade econômica atual, nota-se que os brasileiros estão atrasando mais o pagamento das contas. Em 2020, 37% da população estava com pendências financeiras; em 2021, esse índice subiu para 44% e, agora, em 2022, houve um acréscimo de 4%, totalizando 48%. Atualmente, 3 em cada 10 pessoas (33%) estão com contas básicas, como água, luz, telefone e gás atrasadas. Um aumento de 16% em comparação ao ano passado.

Dentre outros gastos em atraso, 49% estão com alguma fatura de cartões em aberto – elevação de 4% em relação ao ano anterior. Os boletos em geral estão em segundo lugar e, ainda, não foram pagos por 34% das pessoas. Neste quesito houve diminuição em 6 pontos percentuais quando comparado a 2021. Os consumidores também alegam pendências com cheque especial (20%); parcela de empréstimo (17%); IPTU e IPVA (16%, cada); de algum financiamento (14%); condomínio (7%); aluguel e escola (4%, cada).

Para a coordenadora da pesquisa e sócia da Hibou, Ligia Mello, no primeiro momento, o brasileiro tentou não mexer na rotina. “Ele buscou prorrogar problemas financeiros usando cartão, cheque ou empréstimos como ‘recebíveis’ que ajudariam por um período. Porém, a pandemia veio trazendo incertezas e, com isso, além de ajustar o mix de compras, algumas dívidas já haviam sido feitas e o ciclo vicioso se ampliou. A partir disso, as pessoas tentaram migrar o débito de um meio para outro. Agora que a flexibilização já é quase total, o dinheiro não voltou para o bolso, porque a inflação está alta e o poder de compra baixo”.

Ela acrescenta que o brasileiro entrou no ciclo de vender o futuro para pagar o presente, mas infelizmente a grande maioria não possui conhecimento financeiro para perceber isso e muito menos para se proteger ou aproveitar as mudanças econômicas.

Beco sem saída?

A manicure Dalva Sousa descreve a situação em que se encontra hoje como sufocante. Endividada, ela conta que não sabe como sairá dessa. “Com a alta nos preços, precisei começar a passar coisas simples do dia a dia no cartão de crédito. Com isso, a cada mês, minhas faturas vinham mais altas. Por fim, pagava só o mínimo e virou uma bola de neve”.

Ela tem feito trabalhos extras, mas nem assim as coisas melhoram. “O dinheiro parece que some. Quanto mais trabalho, mais ganho, mas é como se não valesse nada. Tem sido difícil, estou cada dia mais nervosa. Não gosto da ideia de dever ninguém, mas infelizmente estou em um beco sem saída”.

O analista econômico Alexandre Miserani aponta que os brasileiros estão sentindo no bolso as consequências da instabilidade econômica. Ele diz que, para dar conta de tudo, é importante economizar, deixando de consumir o que está caro e trocando produtos por marcas mais populares. “Após a definição das eleições, provavelmente teremos um cenário melhor, apesar das perspectivas indicarem que as coisas só irão melhorar em 2023. Enquanto isso, é preciso atenção a fim de evitar gastos excessivos e controlar o orçamento”.

O educador financeiro Robson Evangelista afirma que essa pode ser a ocasião para se conscientizar da importância de organizar as finanças. “Anotar todos os gastos a fim de saber para onde o dinheiro está indo e conseguir estabelecer melhor as despesas da casa são medidas primordiais. Por fim, é fundamental evitar adquirir novas dívidas, tentar renegociar as que já existem e buscar formas de conseguir renda extra”.

Para concluir, ele acrescenta que pesquisar preço nunca é demais. “Para qualquer produto, a família deve criar o hábito de estudar custos e enxugar despesas extras como anuidades de cartões, gastos supérfluos e outras coisas que podem ser minimizadas. É essencial ter paciência e entender que esse é um momento passageiro e que conseguiremos avançar e sobreviver”, conclui.