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Hábito de vender e comprar itens de segunda mão cresce

Sabe aquele sapato que você não usa mais ou, até mesmo, aquele móvel que você enjoou? Eles podem ter destino certo: o seu bolso. Tem crescido o hábito de vender/trocar mercadorias de segunda mão. De acordo com uma pesquisa do Ibope Conecta, uma pessoa poderia arrecadar R$ 4.267 se vendesse tudo o que possui e que está em desuso. O estudo apontou também que 91% das pessoas poderiam desapegar de itens que não são mais úteis.

O analista do Sebrae Minas, Arnou dos Santos, afirma que é preciso saber dar o preço ao produto que você quer vender. “Colocando em números: se a pessoa comprou o item por R$ 100 e ele tem a vida útil de 10 anos, ela vai dividir 100 por 10. O resultado do cálculo mostra que a cada ano aquele item deprecia R$ 10. Ou seja, se ela vai vendê-lo após um ano de uso, cobra o valor de R$ 90 e, assim, sucessivamente com base no tempo que o possui”.
No entanto, Santos acrescenta que é essencial ver o comportamento de outros vendedores. “Mesmo sendo itens de segunda mão, outras pessoas podem estar vendendo o mesmo que você, então é preciso analisá-los como concorrência. Uma ideia interessante é dar um desconto com base no preço do mercado. Se a pessoa for comprar à vista, então dê a ela 30% de desconto, por exemplo. Em resumo, é este o ciclo: calcular o valor da depreciação, dar desconto, anunciar e vender”.

Muitas pessoas usam as redes sociais para a venda. O comerciante David Junio é administrador de um dos maiores grupos de venda e troca no Facebook, o “Bazar da Catira”. Ele conta que o grupo, que já tem 300 mil membros, começou com um colega que queria promover seus próprios produtos online. “O Facebook só permite que adicionemos 5 mil pessoas em nosso perfil pessoal e esse espaço vai muito além disso”.

Ele conta que depois de um ano, o “Bazar da Catira” tomou uma proporção muito grande, mas acabou saindo do ar. “Depois de 8 meses como administrador, o Facebook barrou o grupo que já estava com 60 mil membros. Eu fiquei muito chateado porque 50% das vendas da minha loja de roupas e acessórios eram feitas por lá. Então, decidi criar outro com o mesmo nome. Depois de um mês já tinha 15 mil membros e foi só crescendo até chegar nos 300 mil que temos atualmente”.

O comerciante acrescenta que o grupo recebe cerca de 70 mil anúncios de venda por dia. “Esse mercado de venda e troca é muito vantajoso. Muitas pessoas que precisam de uma graninha extra acaba anunciando uma blusa, ou um tênis que não usa mais e em questão de minutos consegue vender. Além disso, existem pessoas que tem uma blusa que não usa e precisa de um sapato, então acaba trocando com outra”.

Mais barato
A proprietária do brechó Retrô, Edlaine Cristina, aponta o baixo preço como uma das principais vantagens da venda de produtos de segunda mão. “No caso do meu estabelecimento, por exemplo, vendemos roupas, acessórios, bolsas e sapatos. Sendo que a maioria são de grifes nacionais e internacionais e tudo em um preço bastante em conta e que variam de R$ 30 a R$ 3mil”.

Ela, que possui o brechó há 13 anos, explica que compra as peças para a revenda. “A maioria vem de BH mesmo. Compro mais barato de pessoas que não usam o produto e não o querem mais. Isso é muito bom, porque para uma peça nova, eu teria muitos custos de confecção. Além de tudo, em brechó, é possível encontrar peças únicas e para todos os gostos”, completa.

Alerta
Como na maioria das vezes, a venda é realizada por desconhecidos é preciso cautela. O advogado Claudio Panhotta diz que, para se resguardar, o comprador precisa questionar o vendedor. “É importante pedir fotos do produto, se possível, vídeos dele funcionando, caso seja algum eletrônico”.

Panhotta ressalta que, mesmo com fotos e vídeos, algumas mercadorias podem vir com o que é chamado de vício redibitório. Ou seja, algo que pode ser entendido como um defeito oculto. “Existem algumas regras para que isso possa se instalar. Vamos supor que a pessoa está negociando um celular na internet, você pede fotos dele e vê que há um trincado na tela, mas mesmo assim, compra. Do trincado, você não poderá reclamar, mas, se chegar em casa, e notar que a conexão wifi do aparelho não funciona, então há um defeito oculto e você tem o direito de devolver e ter o dinheiro de volta”.

Um caso semelhante aconteceu com a revendedora Viviane Rodrigues. Ela, que há 2 anos tem o hábito de vender e trocar mercadorias de segunda mão, negociou uma blusa de frio pelo Facebook, mas, quando recebeu o produto viu que o tamanho e a cor eram diferentes. “A vendedora me enrolou tanto que eu desisti de pegar o dinheiro de volta. Fiquei com a blusa e acabei vendendo ela para outra pessoa em um grupo de bazar”.

O problema é que nem todo mundo tem a sorte de Viviane. Em sites de troca e, até mesmo, pelas redes sociais, é muito comum comprar produtos defeituosos e clonados. O advogado elucida que nesses casos, a situação deixa de ser cível para se tornar criminal. “Se a pessoa conseguir localizar o vendedor, ela tem o direito de devolver o produto e receber seu dinheiro de volta. Mas, se ele sumir, então muito provavelmente ela foi vítima de um golpe. É preciso procurar a polícia e solicitar um boletim de ocorrência para que as delegacias especializadas façam uma investigação e as medidas sejam tomadas”, enfatiza.