A vacina contra a COVID-19 é considerada uma luz no fim do túnel para empreendedores do mundo todo. Graças aos imunizantes, as internações e mortes pelo coronavírus caíram radicalmente e os governos reduziram as restrições de circulação em todos os estados do Brasil. Mas, quando as pequenas empresas abriram as portas se depararam com outra realidade: a escalada da inflação.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 10,67% nos últimos 12 meses. O valor do combustível é um drama à parte. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tem divulgado aumentos consecutivos. O preço médio da gasolina nos postos do país chega a R$ 6,753, mas já pode ser encontrado por R$7,999 em alguns locais. No acumulado do ano, o encarecimento foi de 50,6%.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Sebrae, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 85% dos pequenos negócios já voltaram a funcionar. Contudo, esse cenário preocupante pressiona empreendedores que são desafiados a lidar com uma população com menor poder de compra.
Insumos e mercadorias (39%), combustíveis (22%), aluguel (15%) e energia elétrica (10%) mais caros são os fatores que mais impactam 90% dos pequenos negócios, segundo o levantamento. Indústria, artesanato, pet shops e clínicas veterinárias, além do setor alimentício aparecem como os mais afetados atualmente pelo peso da inflação.
A analista de Inteligência Empresarial, Paola La Guardia, explica que a inflação causa insegurança ao empreendedor, que fica sem saber como os preços vão evoluir. “Isso dificulta o planejamento e a estimativa de custos e faturamento. É muito importante que os empresários se mantenham atentos para conseguir fazer as adaptações possíveis no seu negócio. Além disso, nesse momento, torna-se ainda mais essencial enxugar as despesas ao máximo para que não haja desperdícios. Vale a pena fazer uma reavaliação dos processos a fim de descobrir se é possível manter o nível de atividade e qualidade gastando menos”, aconselha.
Desde 2009, Janaína Campos é proprietária de um pet shop localizado em Contagem e conta que precisa de medidas diárias para manter a saúde do negócio. “Os valores do mercado pet têm subido muito. As rações, por exemplo, aumentam praticamente todo mês e causam um grande impacto. Tivemos que diminuir nosso markup (índice utilizado na formação do preço com base no custo da mercadoria) para não ficar com o valor do produto muito alto e o cliente não sentir tanto”.
Ela afirma que as despesas cresceram e o faturamento diminuiu. “Tentamos aumentar o fluxo de venda com itens que temos um lucro maior e oferecer promoções. Se a pessoa levar 10 produtos, o valor é um, mas se adquirir 50 peças, o custo é menor”.
Segundo a empresária, os reajustes têm sido semanais. “Tenho poucos clientes que questionam, a maioria concorda que tudo está muito inflacionado e compreendem. Mas alguns reclamam, não entendem que isso não parte de nós, se trata de uma cadeia que acaba refletindo na gôndola”, diz.
Paola corrobora que as adequações são inevitáveis. “Não tem como fugir disso. O que o empreendedor pode fazer é identificar alguma necessidade do cliente que não está sendo bem atendida e realizar uma melhoria no seu produto ou serviço para satisfazer essa necessidade. Assim, o que é oferecido terá mais valor para o freguês e ajudará a compensar o aumento de preço. Obviamente, essa mudança não pode ser algo que gere impactos relevantes nos custos. Outra dica importante é avisar com antecedência ao consumidor sobre as mudanças e ser muito transparente sobre seus motivos”, afirma.
Mesmo com as dificuldades, Janaína integra o grupo que acredita em dias melhores na economia. “O mercado pet está num momento muito bom e não podemos desistir frente às adversidades. É hora de criar novas metodologias para incrementar o negócio. Utilizar as redes sociais gratuitas e os marketplaces para tentar sair da lógica apenas do comércio de ponta a ponta. Depois de tudo que passamos com essa crise, vamos sair mais fortes dessa tempestade e com muito mais garra. Se eu tivesse desanimado, já teria fechado as portas”, relata.