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Insônia acomete até 30% das crianças em idade pré-escolar

Falta de rotina e má higiene do sono podem acarretar em dificuldades para dormir | Foto: Reprodução/Internet

A insônia tem sido considerada por especialistas do mundo todo o mal do século. Somente no país, segundo dados da Associação Brasileira do Sono (ABS), cerca de 73 milhões de pessoas sofrem com esse distúrbio. E engana-se quem pensa que apenas os adultos estejam sendo acometidos. Dados da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) indicam que de 10 a 30% das crianças em idade pré- -escolar (2 a 6 anos) tenham dificuldades para dormir.

Diferente dos adultos, porém, os pequenos não apresentam queixas diretamente relacionadas ao repouso. É o que explica a médica especialista em sono, Ana Paula Gonçalves. “Frequentemente, essas crianças apresentam quadros de irritabilidade, inquietação, prejuízo de concentração, baixo rendimento escolar e alteração de comportamento. Como o hormônio do crescimento é secretado durante o sono, no caso de transtorno do sono grave, pode acontecer até mesmo prejuízo no crescimento acarretando em baixa estatura”.

O pediatra e neurologista infantil, Clay Brites, explica que, antes rara, a insônia infantil tem se tornado cada vez mais comum. “O principal motivo é a má higiene do sono, causada por hábitos ruins da família. Ou seja, faltam regras e rotinas fixas dos responsáveis pela criança na hora de ir dormir. Além disso, o uso excessivo de tecnologias e mídias pode levar ao quadro. Outro ponto importante é a má alimentação, principalmente à noite, e o sedentarismo. Entretanto, a falta de sono pode sinalizar doenças orgânicas e até mesmo transtornos neuropsiquiátricos”.

Por isso, o especialista reforça a importância de buscar auxílio profissional. “O médico irá avaliar a origem da insônia na criança. Se for um problema de falta de higiene do sono, bastará seguir as orientações. Mas, se o quadro estiver associado a condições clínicas específicas ou transtornos neuropsiquiátricos, outros tratamentos devem ser iniciados. Para isso, poderá ser implementado estratégias psicoeducativas e, inclusive, o uso de medicamentos”.

Consequências

Ângela Mathylde, psicopedagoga e neurocientista, explica que não adianta os pais mandarem as crianças para cama enquanto a casa continua agitada. “A hora de dormir tem que ser respeitada, ou seja, é preciso que todo o ambiente esteja tranquilo para que o sono do pequeno seja eficaz. Isso irá implicar na vida de toda a família, por isso é importante planejamento”.

Foi difícil, mas a nail designer Lúcia Vieira conseguiu criar uma rotina adequada para que seu filho, Pietro, de 5 anos, conseguisse dormir melhor. Ela notou que os cochilos durante o dia e o sono à noite do garoto estavam diminuindo. “A princípio, acreditei que fosse pelo crescimento, mas depois de um tempo percebi que ele não estava se comportando bem. Pietro ficava nervoso com qualquer coisa, muito amuado e, às vezes, parecia com o pensamento longe de tão desatento”.

Ela confessa que a rotina da casa não era favorável. “Eu e meu marido somos empreendedores e fazemos nossos horários. Tentando acertar, acabamos errando, pois desde que o Pietro chegou em nossas vidas, temos trabalhado muito para garantir o melhor para ele. Mas, essa sobrecarga trouxe consequências. A gente acordava muito cedo, cochilava quando dava tempo e dormia tarde. Não tínhamos horários para almoçar, para lanchar, para nada”.

Quando percebeu a mudança de comportamento do filho, ela e o marido foram orientados a diminuir o ritmo. “Sentamos e discutimos nossos horários e orçamento. Reduzimos um pouco a carga de trabalho para que a casa vá desacelerando ao anoitecer. Estamos nesse processo há dois meses e o Pietro já é outra criança, mais alegre e ativo, mas ao mesmo tempo tranquilo. E confesso que até o meu sono melhorou muito”.

Ângela reforça que a privação do sono pode trazer inúmeras sequelas. “A insônia pode afetar a capacidade de memorizar coisas da criança e impactar na sua concentração. Além disso, pode acarretar em uma mudança de humor e deixá-la mais irritada e agressiva. O sono é medicinal e é de extrema importância compreendermos isso. Ele é um remédio natural para a nossa saúde física, mental, cognitiva e emocional. Precisamos valorizá-lo”.