E m setembro é celebrado o Dia Mundial da Saúde Sexual (04/09), que visa promover o bem-estar e a igualdade sexual. Mas, quando o assunto é o prazer feminino, muitos tabus ainda existem em nossa sociedade. Prova disso são os dados colhidos pelo Ashley Madison, principal site de namoro para pessoas casadas do mundo. Segundo a análise, 64% das mulheres se sentem negligenciadas sexualmente em seu casamento, sendo que 44% delas dizem que a falta de sexo interessante e frequente é o que as leva a trair.
As informações femininas contrastam com as coletadas nos participantes masculinos da mesma pesquisa. Entre os homens, 43% têm a percepção de que seu parceiro principal goza toda vez que fazem sexo com eles, nas mulheres, este número cai para 18%. A análise mostra ainda uma desonestidade existente entre os casais. Apenas 35% das mulheres que revelaram seus desejos sexuais ao parceiro principal observaram uma mudança positiva em sua vida sexual conjugal.
Não tendo suas necessidades atendidas em casa, parte das mulheres conclui que suas fantasias não precisam ser consideradas por parceiros desatentos. Estima- -se que 61% delas acabem por satisfazer suas preferências sexuais com parceiros secundários.
Para a sexóloga Sônia Eustáquia, o casamento por si só rompe com muitas expectativas de felicidade e plenitude no sexo. “As mulheres, de maneira geral, querem receber um sexo mais romântico e com qualidade. Enquanto eles preferem a quantidade de relações. Além disso, existe uma carga grande de afazeres para as mulheres, mesmo reconhecendo que hoje elas compartilham mais. É preciso investir na relação com mais diversão e entretenimento para compensar e os casais têm feito pouco essa tarefa”
A psicanalista Andrea Ladislau explica que a mulher ainda se sente fragilizada quando o assunto é sexo. “Existe um tabu de que a dominação deve ser feita pelo parceiro e de que as vontades e desejos dela não devem ser levados em conta. Tudo está ligado à comunicação e ao respeito de quem está ao seu lado. Respeitar as fantasias, o querer e ser empático para satisfazer também o prazer do outro. No entanto, quando essa mulher consegue externar o que sente, a relação tende a se tornar mais completa, pois existe uma cumplicidade de gostos e de sentimentos fluindo na intimidade do casal”.
A psicóloga Bárbara de Campos esclarece que o desacerto é parte da vida a dois. “A falta de relações sexuais e de desejo podem ser ou uma fase ou um modo de convivência em si, pois cada casal tem sua maneira de conviver e vai encontrar um modo singular de lidar com a relação e a sua vida sexual, seja entre si ou buscando outras pessoas. Não nos cabe dizer o que é certo”.
Para Sônia, porém, a traição não é a solução. “Ela pode machucar muita gente. Quando duas pessoas se casam, uma nova gestão de vida se inicia e nisso está incluso o sexo. Há vários combinados e compromissos. A deslealdade dói muito e a traição também”.
Porém, isso foi um divisor de águas no casamento de Alice Silva*. Ela conta que não estava feliz após 6 anos casada. “Sentia- -me extremamente sozinha e entediada. Ouvia minhas amigas falarem sobre serem plenas com seus companheiros e me entristecia o tanto que eu estava longe daquilo. Sentei para conversar com ele, não adiantou. Mal me escutou e tudo continuou igual. Até que um dia conheci uma pessoa na academia. Um cara que parecia interessado em me ouvir e me fazer rir. Coisas que já não existiam no meu casamento”.
Ela acrescenta que, no início, se sentia culpada. “Quase desisti várias vezes, mas combinamos uma saída e tive uma noite que há muitos anos não vivia. Quando cheguei em casa, meu marido estava lá, vendo TV e eu sabia que era ali que meu coração estava também, apesar de tudo. Alguns dias se passaram e fui sincera: contei da traição. E ele reagiu da maneira que eu menos imaginei, com medo de me perder. Finalmente me ouviu e decidimos fazer terapia de casal. Um ano depois, nossa história recomeçou”.
Para Andrea, é importante que cada um esteja disposto a fazer parte das ações e movimentos do outro. “Além disso, o sexo exige inovação, apimentadas para que não caia na rotina, na mesmice e deixe de ser prazeroso. Portanto, conversar sobre o que o outro curte, o que não gosta, o que tem vontade de experimentar (de forma consensual), sem sombra de dúvidas, torna o relacionamento transparente, saudável e maduro”.
A pedido da personagem seu nome foi alterado na matéria*