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Pelo fim da reeleição

Em aproximadamente 15 dias ocorrerão as eleições municipais, quando milhares de prefeitos e vereadores serão escolhidos para os seus respectivos cargos. Neste momento de pandemia, cujos malefícios provocados pelos germes afetam os brasileiros, o processo de votação só vai acontecer graças ao tirocínio do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, ao implementar, no âmbito de sua Corte, o adiamento do pleito, passando da primeira semana de outubro, como era tradição, para o dia 15 de novembro, como forma de afastar do período mais crítico da manifestação e contaminação das pessoas pela COVID-19.

Até agora, a estratégia montada pelo ministro está no caminho certo, pois o número de mortos e infectados tem diminuído a olhos nus em todo o Brasil. Além do mais, o próprio TSE se incumbiu de estabelecer protocolos rígidos para o dia das eleições, com o objetivo de evitar aglomeração para que a festa da democracia possa ser levada a efeito sem sobressalto. Isso de certa forma vem frustrar muitos políticos, afinal, prefeitos já trabalhavam pela prorrogação dos atuais mandatos. Essa tese, como não poderia deixar de ser, foi muito propalada pelos próprios interessados, os atuais chefes do Executivo e, principalmente, os vereadores, que também seriam beneficiados com mais 4 anos de mandato sem o menor esforço, apenas com uma canetada, via Congresso Nacional, já que a Justiça Eleitoral, por sua conta e risco, não poderia tomar uma decisão tão drástica.

Apenas uma observação deve ser feita em relação ao tema. O pleito, cuja propaganda é permitida apenas por um prazo de 45 dias, inclusive na divulgação gratuita no rádio e TV, indubitavelmente, está favorecendo os atuais dirigentes. Sendo assim, o caminho está pavimentado para os prefeitos que estão com possibilidade de disputarem a reeleição. Os seus nomes permaneceram em evidência o tempo todo, especialmente por conta de ações relacionadas à área de saúde durante a crise sanitária. Em Belo Horizonte, por exemplo, dificilmente o prefeito Alexandre Kalil (PSD) deixará de ser reconduzido ao cargo. Se no pleito passado ele foi eleito como uma espécie de representante do segmento empresarial, agora, politicamente e ideologicamente migrou para o populismo, ficando ao lado dos cidadãos da periferia. Naturalmente se distanciou da denominada classe A, mas conquistou de vez o povão, segundo especialistas.

Claro que a eleição está desigual para quem está chegado agora, em suas principais incursões como candidato. Até porque, o prefeito de BH, agindo de comum acordo com o que manda a lei, fez uma generosa distribuição de cestas básicas em todas as regiões da cidade, o que neste momento de dificuldades e de desemprego reinante, serve como paliativo enorme perante os menos favorecidos. Em contrapartida, a recompensa pelo benefício alcançado, podem apostar, será em forma de votos. Porém, essa realidade não está ocorrendo tão somente na capital mineira e o fato se tornou corriqueiro Brasil afora. É uma forma do poder público minimizar o sofrimento de quem estava e ainda está passando fome nas comunidades, por conta do descontrole da economia e do desemprego, campeando por aqui como nos demais rincões brasileiros.

A conclusão de toda essa celeuma é que nas próximas eleições, os parlamentares federais deveriam fazer correções com o fito de evitar que situações como estas não se repitam. Talvez, e para o bem de todos, acabando de vez com a famigerada reeleição para os cargos Executivos, pois atualmente, quando um prefeito ou governador assume os seus postos, já começa a pensar na sua própria continuidade no poder. Em Brasília, por exemplo, é nítida a mudança de postura pública do presidente Jair Bolsonaro que, agora, abandonou a sua bandeira moralizadora e se aliou ao Centrão na busca de garantir mais 4 anos de mandato em 2022. Está mais do que na hora de fazer uma reflexão profunda sobre este complexo assunto.