De acordo com os dados da pesquisa “O mercado da maioria: periferia e diversidade como estratégia de negócio”, realizada pelo Instituto Locomotiva para a Central Única das Favelas (CUFA), apesar de representarem cerca de 80% das intenções de compra e 76% do consumo do país, três em cada quatro negros, mulheres, LGBTQI+, pessoas com deficiências e das classes socioeconômicas C, D e E salientam que já sofreram discriminação e constrangimento em comércios.
O levantamento revela ainda que dos 79% que foram humilhados, são relatadas situações como: ser seguido ou revistado por seguranças do estabelecimento; não ser atendido porque a equipe achou que não tinha dinheiro; ouvir de alguém que aquela loja não era para ele; ser injustamente acusado de roubo e ser confundido com um funcionário.
Segundo o estudo, ignorar a diversidade “atrapalha os lucros”. Quase a totalidade dos entrevistados, 98%, disse que não compraria marcas que de alguma forma não respeitassem as diferenças; 89% disseram que não aceitam calados qualquer tipo de preconceito na comunicação e 84% afirmam que preferem marcas que promovam e apoiem iniciativas em prol de maior diversidade racial.
O prejulgamento está também no ambiente de trabalho conforme revela a pesquisa. Dois a cada três entrevistados conhecem alguém que já sofreu preconceito, discriminação, algum tipo de humilhação ou deboche em seu local de trabalho. A principal causa relatada é pela cor ou raça (69%), seguida por orientação sexual (47%) e por ser gordo (45%). Ser pobre ou morador de periferia aparece como a quarta causa de humilhações e discriminação mais frequente, descrita por 43%.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, ressalta que o mercado perde quando não olha para esses grupos ditos minorias, já que, entre aqueles que nos próximos 12 meses pretendem comprar um carro, por exemplo, 23% são das classes C, D e E; 20% mulheres e 26% negros. As porcentagens são semelhantes para outros produtos, como notebooks, cujos compradores são 34% das classes C, D e E; 30% mulheres e 39% negros.
Meirelles garante que “aquilo que homens brancos da elite chamam de minoria, são, na verdade, a grande maioria do mercado consumidor do país”. Para ele, a pesquisa é um convite a enxergar o Brasil real. “Sou branco, paulistano, da terceira geração de universitários da minha família e tenho 42 anos. Pelo simples fato de ser branco, ganho um terço a mais que um homem negro com curso superior e três quartos a mais que uma mulher negra. Estou dizendo isso porque reconhecer a necessidade de inclusão significa identificar a realidade do privilégio. O que está por trás dessa desigualdade é o fato de alguns terem as oportunidades que a maioria não tem e isso acaba sendo naturalizado por anos. Esta não é uma pesquisa sobre minoria, é um convite para enxergarmos o Brasil pelo olhar da maioria da população”, diz.
Para o fundador da Cufa, Celso Athayde, incentivar o empreendedorismo e reconhecer a potência econômica das periferias é evitar que a crise se agrave ainda mais. “Não vamos conseguir viver num Brasil justo e democrático se o país desenvolver e virar uma potência mundial, mas as periferias não crescerem e se empoderarem juntas. Senão, a gente só vai estar aumentando a distância da nação que cresceu e da favela que ficou no mesmo lugar e no meio de um imenso caos”, conclui.