A contadora Maria Luiza Souza, 35, está desempregada desde o começo do ano passado. Apesar de já ter feito inúmeras entrevistas de emprego e ter um currículo com duas pós-graduações, além de passagens por grandes empresas de Belo Horizonte, ela não consegue voltar para o mercado de trabalho em sua área de formação.
“Já fiquei desempregada em uma outra época da minha vida, porém achei um emprego em menos de 2 meses. Pensei que dessa vez seria até mais fácil, afinal tenho boa formação acadêmica e vasta experiência na área, entretanto, não foi o que aconteceu. Estou a mais de um ano e meio sem uma ocupação formal”, relata Maria Luiza.
Com o acúmulo de contas e por ter que cuidar de sua filha de 10 anos, ela teve que buscar uma alternativa. “Estou fazendo alguns doces e vendendo para padarias e restaurantes perto de casa, além de fazer unha e cabelo de umas amigas semanalmente. Tive que dispensar a empregada e tirar minha filha do colégio particular. Ainda estamos nos readaptando, mas não é fácil”.
Assim como acontece com a contadora, a crise economia tem deixado reflexos na vida dos brasileiros e o número de pessoas subutilizadas no mercado de trabalho não para de crescer. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad-C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012, a população nessa situação atingiu o número recorde 28,3 milhões de pessoas no primeiro trimestre deste ano. Isso representa 5,6% a mais do que no último trimestre de 2018 e 3% a mais do que no primeiro trimestre daquele ano.
O IBGE considera subutilizado toda pessoa desempregada, que trabalha menos do que poderia, não procurou emprego, mas estava disponível para trabalhar ou procurou emprego, mas não estava disponível para a vaga.
Além dos subutilizados, os números de desalentados e de trabalhadores por conta própria também são recordes, 4,9 milhões e 24 milhões de pessoas respectivamente. Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, diz que é possível observar um movimento positivo em relação ao mercado de trabalho. “Apesar desses dados, é importante destacar que a população ocupada cresceu e já há mais de 92,9 milhões de pessoas nessa situação. Esse valor é 1,2% superior em relação ao trimestre anterior e 2,6% maior na comparação como o mesmo período de 2018”.
Ele reitera que a alta da ocupação se deve, principalmente, pelo aumento do trabalho informal. “Um quarto dos novos meio milhão de empregos foram de carteira assinada, então mais da metade das vagas são na informalidade. Essa condição sempre vai ser preocupante para nós, pois essas pessoas que não possuem vínculo empregatício não tem direito às proteções sociais e o Estado não arrecada”.
Azeredo acrescenta ainda que a informalidade teve como principal catalisador a crise econômica, que durante o seu auge, em 2017, extinguiu mais de 4 milhões de empregos formais. “Os desempregados tiveram que ir para a informalidade para ter uma renda ou complementar o orçamento familiar. Além disso, não se pode esquecer que a crise atinge as pessoas de maneira diferente. Ela tem as suas mazelas e a população mais pobre sempre será a que mais vai sofrer nesses momentos”, finaliza.