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Estudos apontam riscos à saúde após tragédia em Brumadinho

Moradores de áreas atingidas estiveram presentes na Assembleia – Foto: Luiz Santana

A saúde e as condições socioambientais das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, foram tema de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O requerimento para o debate foi feito pela deputada Bella Gonçalves (PSOL).

Durante a reunião, foram apresentados estudos realizados pela Fundação Oswaldo Cruz Minas (Fiocruz Minas) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que avaliaram a presença de metais pesados e problemas respiratórios em crianças e adultos residentes, principalmente, em Brumadinho.

Desde 2021, 70% das crianças de 0 a 6 anos das comunidades Córrego do Feijão, Tejuco, Aranha e Parque da Cachoeira vêm sendo acompanhadas pela Fiocruz. Houve uma redução no percentual de risco de atraso no desenvolvimento neurológico, que caiu de 42,5% em 2021 para 28,3% em 2023, além de um aumento no número de crianças com índice de massa corporal considerado normal.

“Mas, quando olhamos a parte respiratória, não houve melhora. Registramos um aumento nos relatos de alterações e detectamos elevação na quantidade de arsênio na urina, principalmente nas regiões próximas às áreas de mineração. Identificamos uma situação de exposição, e não de intoxicação, aos metais pesados”, explicou a coordenadora do projeto Bruminha, Carmen Fróes.

Ela destacou a necessidade de uma vigilância ambiental para investigar as possíveis fontes de contaminação. “O nosso organismo não tem capacidade de produzir arsênio, chumbo ou mercúrio. Sempre vêm do ambiente”.

Entre os adultos do município, outro estudo realizado pela fundação revelou que, em 2024, 18% da população apresentava diagnóstico médico de depressão, índice superior à média nacional, que é de 10%. “Esse número tem se mantido nos últimos cinco anos”, afirmou o coordenador do projeto Saúde Brumadinho, Sérgio Viana Peixoto.

De 2021 a 2023, houve uma queda nos níveis de metais encontrados na urina e no sangue dos adultos, segundo Peixoto. “O manganês praticamente desapareceu da população. Isso ocorreu porque ele estava muito presente na lama. Já o arsênio ainda continua muito presente, cerca de um quinto da população apresenta o metal acima do limite de referência”.

A coordenadora-geral de marcadores sociais das diferenças da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), Cecília Godoi, informou que estudos de impactos socioambientais contratados pela entidade identificaram a presença de mais de quatorze metais nocivos à saúde humana. “A exposição aos contaminantes comprometeu o acesso à água, à segurança alimentar e à vida cotidiana da população atingida, com efeitos agravados para comunidades em situação de vulnerabilidade social”.

Com base nos dados apresentados, a deputada destacou que ainda não existem levantamentos que demonstrem o impacto do rompimento da barragem ao longo de toda a bacia do Rio Paraopeba. “A gente compreende que esses resultados evidenciam a urgência de protocolos e medidas reparatórias em saúde que atendam às populações atingidas pela mineração”.

Moradores presentes na audiência denunciaram que há pessoas ao longo da bacia do Paraopeba sofrendo com doenças, mas sem diagnóstico, e solicitaram a melhoria no atendimento de saúde, além da implantação de um protocolo de exposição.

De acordo com o assessor-chefe de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Saúde, Luiz Fernando Prado de Miranda, a primeira versão desse protocolo estará disponível a partir de maio. Ele também informou que, em novembro deste ano, será apresentado à população um plano estadual de atenção integral à saúde de pessoas afetadas por desastres minerários e residentes em regiões de mineração.