
O turismo apresentou desempenho negativo por causa do aumento expressivo dos custos no setor, é o que revela a análise da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) sobre os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de janeiro. O segmento foi o mais afetado no período, apresentando um recuo expressivo de 6,4%.
Segundo a CNC, nos três meses encerrados em janeiro, o setor turístico teve um reajuste acumulado de 12%, impactando diretamente a demanda. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro mostrou aumento de 10,4% nas passagens aéreas, enquanto a alimentação fora do domicílio subiu 0,67% no mês e 1,19% em dezembro.
Na avaliação do economista da CNC, João Vitor Gonçalves, os próximos meses serão decisivos para entender se a queda registrada em janeiro é um ajuste pontual da demanda, após os aumentos de preços, ou se reflete uma reversão de tendência no setor.
Gonçalves salienta que o turismo vinha em uma curva ascendente desde a retomada pós-pandemia. “Mas o cenário macroeconômico adverso, com juros elevados e inflação pressionando o orçamento das famílias, pode levar a um período de menor crescimento”.
O mestre em economia, Heldo Siqueira, explica que as passagens aéreas são bastante influenciadas pelo preço do dólar. “A cotação da moeda americana no início de maio do ano passado era de R$ 5,12, chegando a R$ 6,19 em dezembro de 2024. Além disso, houve um crescimento de preços generalizado dos alimentos, não somente na alimentação fora do lar. Ou seja, estamos falando de um aumento bastante expressivo”.
Porém, Siqueira ressalta que após dois anos de expansão do setor acima do esperado, 2,9% em 2023, quando a expectativa era de 0,5% e 3,4% em 2024, quando a expectativa era de 2,3%, é normal que haja uma desaceleração. “Esta hipótese é confirmada pelas últimas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), no sentido de aumentar os juros para conter a atividade econômica. É preciso lembrar que o turismo é um serviço supérfluo e um dos primeiros itens a serem cortados pelas famílias em caso de aperto, ou seja, além dos preços, a desaceleração da atividade econômica pode explicar a queda no setor”.
Para ele, é impossível acreditar que vai haver uma expansão do turismo muito descolada do restante da economia. “Os sinais de desaceleração econômica não indicam que possa haver uma retomada tão cedo. Além disso, os aumentos de juros, por parte do Banco Central, corroboram essa trajetória. Mesmo assim, o governo está sinalizando estímulos econômicos para os próximos meses, como revisão de impostos e outras medidas. No curto prazo, acredito que não vai haver uma reversão do cenário, poderemos perceber uma melhora a partir do segundo semestre de 2025 ou primeiro semestre de 2026”, acrescenta.
Serviços
O setor de serviços registrou leve queda de 0,2% no volume de vendas em relação a dezembro, consolidando a tendência de desaceleração da economia brasileira. Após encerrar 2024, com crescimento acumulado de 3,18%, o segmento segue demonstrando sinais de desaquecimento, já antecipados pelo Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre do ano passado, afirma a entidade.
A CNC destaca ainda que os serviços, como um todo, devem continuar perdendo fôlego, acompanhando essa nova dinâmica econômica. Entretanto, a entidade reforça que segmentos como Tecnologia da Informação e Comunicação, que cresceu 2,3% em janeiro, continuam apresentando resiliência e puxando a média do setor. Já para o turismo, a Confederação tem expectativa de crescimento de 0,89% em fevereiro.
Siqueira pontua que a época de fim de ano é naturalmente de atividade econômica mais elevada. “Assim, a comparação mais adequada é com janeiro de 2024 e não com dezembro. Sob esta comparação, houve expansão de 1,6%. Neste sentido, não é possível confirmar que haja um declínio expressivo ou que vai se manter, pois existem diversos sinais contraditórios na economia. É provável que haja uma desaceleração na expansão econômica, mas não acredito que possa haver uma ampliação do declínio”, finaliza.