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Ufa! Ano novo, vida nova

A economia brasileira este ano está dando sinais de que tem força apesar das crises políticas e dos humores do mercado financeiro, ignorando ainda taxas de juros elevadas e câmbio acima de um patamar que seria razoável sem a especulação do mercado, mesmo com a atuação do Banco Central em alguns leilões da moeda americana, como em períodos anteriores para baixar a cotação do dólar. O fato que se espera que ocorra até o final do ano e que pode ser um marcador para 2025, é a aprovação pelo Congresso das medidas do governo para reduzir despesas. Pode ser um sinal para a economia real deixar de lado estes humores do mercado.

A avaliação negativa do governo atual entre agentes do mercado financeiro disparou e chegou a 90%, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada na primeira semana deste mês. O salto foi de 26 pontos percentuais em relação ao levantamento de março, quando 64% viam a gestão de forma negativa. Já a avaliação positiva caiu de 6% para 3%, enquanto a percepção regular recuou de 30% para 7%. Sobre a condução política econômica, a avaliação do ministro da Fazenda também sofreu desgaste, caindo de 50% para 41%, enquanto 61% dos entrevistados acreditam que ele perdeu força desde o início do governo. Este aumento da percepção negativa acompanha o temor de que a economia está indo na direção errada e que deve piorar nos próximos meses. Já no 1º semestre, 71% acreditavam que o governo não estava no caminho certo no plano econômico; agora esse índice chegou a 96%. A expectativa de piora econômica nos próximos 12 meses também saltou de 32% para 88%.

A inflação continua estourando o teto da meta, o que justifica o comportamento do Banco Central, mesmo diante das pressões do governo por reduções nos juros. A alta no preço de produtos de alimentação tem puxado a inflação para cima e, também, o setor de serviços. Analistas já projetam que a Selic ficará num patamar elevado por um longo tempo, podendo chegar a 14% ao ano em 2025. A deterioração das expectativas diante do pacote para controlar os gastos públicos anunciado pelo governo contribui para uma política monetária mais apertada. Ainda segundo eles, a decisão do Copom foi acertada, mais pesada, mais dura; precisava ser duro e foi surpreendendo positivamente.

O que observamos é que a taxa de juros altos tem efeito direto sobre os preços com uma defasagem estimada de seis meses, mas, sobre a economia real e sobre as contas públicas o efeito é imediato e danoso para a atividade econômica. Os juros elevados desestimulam investimentos, por superarem a taxa de retorno dos projetos e terem mais liquidez do que aportes que exigem um tempo maior. Afetam o bolso dos consumidores ao encarecer a compra de produtos e serviços de maior valor e tem um peso significativo sobre a dívida pública, expondo uma contradição: os juros sobem para combater a inflação que sofre o impacto do déficit fiscal que eleva o endividamento público. Aumento de juros impacta também as empresas e consumidores endividados que precisam renegociar dívidas e, obviamente, para quem vai precisar de empréstimo. Provocará, por consequência, mais inadimplência e uma freada brusca nos investimentos das empresas. Além disso, crescem as especulações sobre as eleições presidenciais de 2026. Não se sabe quando o atual presidente poderá reassumir plenamente suas funções, nem se teria condições neurológicas para disputar ou até mesmo, participar de uma campanha eleitoral. Essas dúvidas não são apenas dos políticos de oposição, mas também dos governistas. Nesta situação quem fica na frigideira é o ministro da Fazenda, que tenta evitar que a reforma tributária e o ajuste fiscal sejam desfigurados a ponto de perderem o impacto que poderiam ter para estabilizar a economia, recuperar o equilíbrio e controlar a inflação. Depois de acomodar todas as pressões políticas e técnicas, o próprio governo se deu conta de que o pacote não seria aplaudido pelo mercado, mas, também, não esperava a reação negativa que, segundo interlocutores oficiais, tem sido motivada muito mais pela má vontade que se tem com a gestão atual do que por qualquer razão técnica.

Daí veio a estratégia de agradar as bases, colocando um “bode na sala” – a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil – que concentraria o debate, poderia ficar para ser apreciado no próximo ano, mas que favoreceria a aprovação ainda neste ano das medidas essenciais do ajuste. A realidade que vimos foi outra: a cotação do dólar bateu R$ 6,12 após a divulgação das medidas, com implicações diretas na inflação e na trajetória dos juros. A sensibilidade do mercado segue a todo vapor, ainda mais pelas declarações recentes do presidente da Câmara, de que o governo não tem votos suficientes para aprovar nem mesmo o pedido de urgência para a tramitação do pacote fiscal.

A economia brasileira caminha para encerrar o ano com sinais preocupantes para 2025. Sem dúvida, parte significativa desse diagnóstico desfavorável está diretamente relacionada ao governo federal. A atual administração ainda não conseguiu executar uma política robusta de contenção de gastos, condição primária para alcançar o equilíbrio fiscal. O governo atual tem o dever de implementar uma política econômica mais austera e de credibilidade.

E assim terminamos o ano! A todos vocês que me prestigiaram lendo estas mal traçadas linhas, desejo um Natal de confraternização e alegrias junto aos familiares e amigos, com os mais sinceros votos que o próximo ano seja melhor do que este e que consigamos sobreviver com saúde e muita paz, enfrentando com disposição e coragem as perspectivas que virão. Como dizemos em Minas, “tamo junto”.