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Juros altos dificultam acesso ao crédito para pequenos negócios

Gestão financeira é importante na hora de tomar empréstimos / Foto: Freepik.com

Os microempresários vêm enfrentando dificuldades para obter crédito para seus empreendimentos. De acordo com o DataSebrae, em 2024, a taxa média de juros para crédito a microempreendedores individuais (MEIs) foi de 44,04% ao ano, enquanto, para microempresas, chegou a 42,49%.

Outra alternativa dos empreendedores, o cheque especial, também registrou taxas elevadas: 128,46% ao ano para MEIs e 302,84% ao ano para microempresas. Esse cenário tem impulsionado a busca por crédito. Conforme o Indicador de Demanda por Crédito da Serasa Experian, houve um aumento de 13,1% nas solicitações de financiamento no ano passado.

A analista de desenvolvimento territorial e serviços financeiros do Sebrae Minas, Débora de Souza, destaca que, quanto mais fácil é o acesso ao crédito, mais caro ele se torna no final, como no caso do cheque especial e da antecipação de recebíveis.

“Para reduzir a necessidade de obter crédito é essencial manter uma gestão financeira eficiente, equilibrando prazos de pagamento com recebimentos e garantindo uma precificação adequada. Conhecer as próprias finanças é crucial para evitar custos ocultos, como taxas de antecipação de recebíveis”.

Segundo Débora, na hora de conceder crédito, as instituições financeiras analisam o histórico do empresário e sua capacidade financeira para arcar com o pagamento do empréstimo. Quanto maior o risco, mais altas serão as taxas de juros. Ela também ressalta que os bancos devem ser vistos como parceiros e que a busca por crédito não pode ser considerada um vilão, mas deve ser utilizada de forma planejada.

“Se um empresário recorre frequentemente a empréstimos para cobrir despesas fixas, como folha de pagamento e aluguel, isso pode indicar problemas na gestão financeira. Muitas vezes, a solução não está apenas no aumento das vendas, mas em uma administração mais eficiente do fluxo de caixa. Conhecer bem o próprio negócio permite decisões mais assertivas, como estratégias de precificação e promoções para gerar capital de giro sem recorrer a crédito caro”.

Dados

De acordo com o Mapa das Empresas, elaborado pelo Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, no ano passado foram abertas 3.957.869 microempresas e 173.653 empresas de pequeno porte (EPPs), enquanto 2.323.591 microempresas e 57.451 EPPs foram encerradas. Já em 2025, 547.986 microempresas e 16.534 empresas de pequeno porte foram criadas no Brasil.

O economista Gelton Pinto Coelho Filho destaca que, primeiramente, é necessário observar o saldo. “Temos mais empresas abrindo do que fechando. O importante é que políticas sejam criadas de forma adequada e mais próximas da realidade de quem empreende”.

Ele lembra que iniciativas como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) têm sido fundamentais para esses negócios, mas ressalta que a política econômica conduzida pelo Banco Central, em descompasso com os programas governamentais, também acaba prejudicando os pequenos empresários.

“A taxa de juros não resolve o tipo de inflação que nos afeta e provoca um custo demasiado alto em termos de dívida pública, além de sufocar quem precisa de crédito para empreender. As taxas para MEIs e pequenas empresas são incompatíveis com o estímulo necessário, provocando endividamento e o fechamento de alguns negócios”.

Para a sobrevivência das empresas, a analista do Sebrae recomenda que os empresários conheçam os números de seus empreendimentos. “Uma boa gestão financeira não precisa ser complexa, mas exige disciplina. Controle básico de entradas e saídas, fluxo de caixa e análise de precificação já permitem ao empresário entender a saúde do negócio. O posicionamento de mercado, que envolve estratégias de marketing, presença digital e precificação alinhada à concorrência, também é fundamental”.

Débora também orienta a separação das contas e despesas pessoais das empresariais. “Além da desorganização financeira, essa prática pode resultar em uma maior incidência de impostos. Estabelecer um pró-labore e manter um controle rigoroso das retiradas evita a confusão entre despesas pessoais e empresariais”, finaliza.