De acordo com dados da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS), espera-se que o Brasil registre um aumento nas mortes por tipos de câncer que afetam os homens até 2030. Nos próximos anos, o país deve registrar um crescimento de 20,3% nos óbitos por câncer de próstata, 19,3% por câncer de pênis e 3,5% por câncer de testículo.
Na avaliação do cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, esses números são preocupantes. “Isso impõe que o homem se preocupe ainda mais com sua saúde e faça os exames preventivos. A pesquisa mostra que não só a incidência está avançando, mas a mortalidade também está em alta. Sabendo que hoje existem tantos tratamentos e que as formas de prevenção e diagnóstico precoce são eficazes, esperávamos que essas taxas não aumentassem. É uma quantidade elevada para um período tão curto”.
No caso de alterações no pênis ou nos testículos, Guimarães explica que o próprio homem pode fazer uma verificação durante o banho, o que facilita a identificação de problemas. “Apalpe o saco escrotal e verifique se há algum nódulo ou caroço indolor, algo que surge no início, além da sensação de peso na região. Isso já indica a necessidade de procurar um médico. No caso de tumores de pênis, alterações como feridas, caroços ou vermelhidão persistente na glande ou no corpo do pênis podem ser detectadas ao expor completamente”.
Em relação ao câncer de próstata, sintomas como dor ou ardência ao urinar, fluxo urinário fraco ou interrompido, e necessidade frequente ou urgente de urinar podem aparecer em uma fase avançada. O oncologista Fernando Zamprogno explica que o envelhecimento da população também contribui para o aumento dos casos. “Assim como em outros tipos de câncer, uma das causas é a proliferação desordenada de células. Além de se acumularem no local, elas podem migrar pelo corpo e formar o que chamamos de metástases em outros órgãos, ameaçando a vida do indivíduo”.
Zamprogno ressalta que cerca de 15% das ocorrências de câncer de próstata têm uma correlação hereditária. “Em geral, são casos de parentes próximos que tiveram câncer de mama, ovário, próstata e até mesmo câncer de pâncreas, porque envolvem os mesmos genes”.
Cuidados
Para o câncer de próstata, Zamprogno recomenda que homens entre 45 e 50 anos, dependendo do histórico familiar, realizem exames regulares, como o toque retal e o exame de PSA. “Detectando de forma precoce, as chances de cura aumentam. Não se deve esperar pelos sintomas para procurar um médico, porque quando há sinais, provavelmente a doença já está em estágio avançado”.
Ao perceber alguma alteração nos testículos, é aconselhável buscar orientação médica. Em relação ao câncer de pênis, o cirurgião oncológico destaca que medidas como o uso de preservativo nas relações sexuais e a higiene correta do órgão diminuem significativamente as chances de desenvolvimento da doença.
“Outras ações, como tomar a vacina contra o HPV, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), e o tratamento da fimose, também ajudam. Em países onde a fimose é tratada logo ao nascimento, a incidência de casos e a mortalidade são próximas de zero”, reforça Zamprogno.
“Novembro Azul”
Desde 2011, a campanha “Novembro Azul” conscientiza sobre a importância do diagnóstico precoce de doenças que afetam os homens. Guimarães observa que, nos últimos anos, o sexo masculinos tem deixado de lado tabus e buscado ajuda médica. “A cada ano vemos uma maior procura e conscientização dos homens. Hoje é mais fácil conversar com essa geração, que se preocupa muito mais com a saúde do que há 15 ou 20 anos”.
Ele ressalta ainda que a campanha ajuda a chamar atenção para o problema. “As pessoas estão muito ocupadas no dia a dia. Os homens têm a tendência de se sentirem invulneráveis, acreditando que nada lhes acontecerá, e deixam o cuidado com a saúde em segundo plano”.
“O ‘Novembro Azul’ lembra aos homens e seus familiares que eles são vulneráveis e precisam fazer exames regularmente. A incidência está aumentando, com mais de 71 mil novos casos no Brasil, e 20% deles podem resultar em morte em poucos anos se não houver um diagnóstico precoce ou um tratamento adequado”, finaliza.