Ser doutor em ciência política significa ter coragem de colocar o assunto a limpo, quando envolve a presença da mulher no cenário político brasileiro. Antes de fazer uma análise relacionada à presença feminina neste contexto, o professor Malco Camargos põe o dedo na ferida. Em sua avaliação, um político que nunca precisou de usar o sistema de saúde gratuito, nunca andou no transporte público, nem estudou em uma escola pública, dificilmente sebe ou reconhece a importância que um bom serviço nessas áreas pode gerar para os seus representados.
Dos 853 municípios mineiros, apenas 64 são administrados pelas mulheres, segundo dados do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (Nepem/UFMG). Voltando ao comentário do professor Malco Camargos, o cenário poderá ser bem diferente quando a legislação pertinente exigir a “cota” das candidaturas das mulheres nos pleitos, passando de 30 para 50%. Haveria mais igualdade no resultado final na representatividade tanto no Executivo como também no Legislativo.
Comprovadamente, as mulheres são mais atentas às demandas emanadas do coletivo da sociedade, especialmente no tangente às áreas sociais, incluindo naturalmente a saúde, educação e a assistência social. Esses temas são abordados pelos políticos do sexo masculino ao longo dos anos, porém, a sensibilidade delas é mais concentrada na defesa dos cidadãos menos favorecidos.
O desafio do momento chega a ser ideológico, pois, através do Congresso Nacional, há uma preponderante ala de parlamentares reconhecidamente conservadores. Isso se reflete em pautas que muitas vezes abalam os hábitos de todos, perpassando pela intenção de controlar até mesmo o período de gravidez das adolescentes e das mulheres em geral. Não vai ser uma tarefa fácil, mas as eleitas terão de enfrentar o conservadorismo masculino reinante na capital federal.
Para haver uma harmonia entre os interesses das pessoas comuns, careceria de existir, concomitantemente, o balanceamento na representatividade, oportunizando a paridade entre eles e elas. Tudo vai precisar ser construído com muita discussão, especialmente buscando o convencimento junto ao eleitor, pois não é fácil mudar o hábito de tantos anos de patriarcado na política brasileira.