Pinturas e esculturas de cores fortes que evocam amizade, afeto, juventude e, principalmente, a representatividade para ser e existir no mundo são alguns dos aspectos que a exposição “Eu, Meus Amigos e o Mundo”, da artista belo-horizontina Juliana de Oliveira, traz ao Palácio das Artes até o dia 2 de junho. A mostra é uma das três selecionadas pelo 4º Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais e ficará no complexo cultural de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e nos domingos de 17h às 21h, com entrada sempre gratuita.
A exposição de Juliana ocupa a Galeria Arlinda Corrêa Lima e traz elementos do expressionismo, onde a artista contempla formas de enxergar a si mesma e ao outro. Reflete também sobre como esse olhar a conecta com sua própria história enquanto pessoa periférica, evidenciando a identidade da juventude em cores fortes, pinceladas rápidas e marcadas, além dos trocadilhos com marcas de roupas e tênis. São quase 50 obras divididas em cinco séries: “Autorretrato”, “Amigos e o Mundo”, “Colors”, “Ori” e “O que você leva na bolsa?”.
Em seus trabalhos, a artista sempre busca trazer um ambiente que possa ser íntimo e seguro para jovens negros e LGBTQIA+. “Eu cresci em um lar com pais muito religiosos e não acho que o preconceito venha 100% deles e sim de uma pressão da igreja e da sociedade de serem assim. Na minha adolescência foi mais difícil eles aceitarem a mim e meus amigos gays/lésbicas, por isso, não me sentia à vontade dentro da casa deles. Tudo se inicia a partir do momento que saio da casa da minha mãe e tenho a minha própria”.
As vivências pessoais de Juliana são uma das principais inspirações. “Olhar para si mesmo é a melhor forma de se inspirar, mesmo que possa parecer meio pacato ou nada de diferente, sua inspiração e ideias estão mais perto do que você imagina. É difícil sair do modo mecânico das coisas e do dia a dia, mas os encontros com meus amigos, os eventos culturais pela cidade, as conversas sobre a vida, uma dança de um amigo no meio do bar do nada, são momentos que guardo muito e que servem de inspiração. São pessoas simples, mas esses rostos carregam memórias, identidade e encontros”.
“A sociedade nos enxerga de forma muito marginalizada e busco retratar meus amigos com dignidade e afeto. Quero que o meu trabalho seja como um arquivo e que daqui alguns anos possamos mudar imageticamente a forma como somos pré-julgados. Deixo clara minhas aspirações políticas e sociais no meu trabalho porque é minha vivência. Para além disso, gosto de pensar nos prazeres da vida e de sermos quem somos, mesmo que pareça difícil sustentar nossa identidade e que o racismo grite diariamente na nossa cara. Adoro retratar os momentos bons”, completa.
Juliana explica que Belo Horizonte também é uma grande fonte de inspiração. “Sou uma pessoa periférica e por muitas vezes não tive acesso à cidade e ao que ela oferecia de bom. Tive que lutar para dar voz ao meu trabalho. Lugares como o Viaduto Santa Teresa, o Teatro Espanca, a Escola Livre de Artes – Arena da Cultura me formaram”.
Por fim, a artista destaca a importância de ter uma exposição selecionada pelo Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais. “Isso é muito relevante para minha carreira, além de um sonho sendo realizado. Exibir a mostra no Palácio das Artes, que é um veículo institucional com visibilidade nacional, é só a confirmação de que estou no caminho certo”, conclui.