A demanda por itens de vestuário e acessórios foi negativa no primeiro bimestre em Minas Gerais. O volume de vendas no varejo da moda (que engloba tecidos, vestuário e calçados) caiu 1,1%. Porém, a redução foi menos intensa se comparada ao recuo de 8% observado em janeiro e fevereiro de 2023.
De acordo com a presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Juiz de Fora (Sindivest-JF) e da Câmara da Indústria do Vestuário e Acessórios da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Mariângela Marcon, o mercado de trabalho aquecido e a recomposição da renda das famílias podem estimular as compras de itens do vestuário.
“Estudo da Inteligência de Mercado (IEMI) revelou que a variação esperada no varejo para este mês de maio, em volume de peças, ficará em 1,3%. Assim, as 521,79 milhões de peças de vestuário comercializadas em 2023 deverão chegar a 528,67 milhões neste ano”.
“O faturamento também será moderado, da ordem de 5,3%, sem levarmos em conta a inflação do período. Desta forma, os R$ 23,97 bilhões registrados ano passado subirão para R$ 25,23 bilhões em 2024, na estimativa dos analistas. Os primeiros dados mostraram um desempenho um pouco melhor, mas ainda precisamos verificar como o segmento vai reagir aos eventos, tanto climáticos como políticos/econômicos”, completa.
Clima
As vendas das coleções de inverno poderão seguir ritmo similar ao observado em 2023. Por outro lado, é preciso considerar ainda os efeitos dos últimos eventos climáticos, como o El Niño e as ondas de calor, que podem resultar em um inverno mais quente do que o habitual em 2024, impondo mais dificuldades para as vendas dos itens relacionados à estação mais fria do ano.
Mariângela explica que o Brasil é o segundo maior produtor mundial de algodão em pluma, mas existem desafios como o alto custo da produção, a competição com produtos sintéticos e a incerteza do clima. “As condições extremas exigem investimentos na cultura do algodão para estimular o crescimento e desenvolvimento das plantas. Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) traz boas notícias com relação ao aumento da produtividade. O desenvolvimento de novas variedades mais resistentes e estratégias adequadas podem ajudar a reduzir o impacto das mudanças climáticas”.
Taxação
Outro fator que preocupa o segmento é a forte concorrência desleal com a importação de bens. “Além da entrada de produtos estrangeiros sem tributação até 50 dólares, que favorece os itens importados em detrimento dos brasileiros, temos também a taxa de juros, que apesar dos últimos cortes promovidos pelo Banco Central, permanece em patamar restritivo ao consumo e ao investimento, impondo dificuldades às finanças das empresas”, ressalta Mariângela.
Ela afirma ainda que entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional do Comércio (CNC) apresentaram, em janeiro de 2024, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal com relação à isenção de impostos de importação nas compras internacionais de até 50 dólares.
“Aguardamos a sensibilização dos governos quanto à necessidade da implementação de políticas públicas que possibilitem investir com segurança e acreditar no crescimento do país. É de extrema importância restabelecer a isonomia tributária entre produtos nacionais e importados, incentivar a inovação e a reabertura do Programa Especial de Regularização Tributária (PERT) para regularizar os débitos federais”, conclui.