Escrito pelo advogado, escritor e jornalista Ozório Couto
Se pararmos para pensar, mas no sentido de observar com atenção, cada dia do ano representa um dia de comemorar um fato histórico ou outro qualquer, como os da natureza, das profissões, nascimentos, e muito mais do que os 365 dias que nos oferece o movimento de translação. Efemérides municipais, estaduais, federais e estrangeiras; cada país com a sua forma de cultuar e comemorar de acordo com as tradições.
Está quase terminando o mês de junho (e os primeiros seis meses do ano, ou o primeiro semestre). No Brasil, uma nação opulenta em tradições e festas populares, a maioria oriunda de Portugal, Angola ou Moçambique, e muitas de países como a Alemanha, China, França, Itália e Japão, festejamos neste mês, a tradicionalíssima Quadrilha, tão popular que expandiu o termo para outras paradas.
O ponto máximo das festas juninas, que se estendem até julho, é o Dia de São João, comemorado em 24 de junho, que atrai várias pessoas de idades e classes sociais. Comemorada em todo o território nacional, as várias tradições que fazem parte desta icônica festa abrangem música, culinária, danças, folclore e brincadeiras que agradam geral. Também festejamos Santo Antônio, São Pedro e São Paulo.
A Quadrilha foi trazida da França no começo do século XIX no período regencial, após a abdicação de Dom Pedro I. E como bem observou o grande mestre Câmara Cascudo (1898/1986) no seu dicionário do folclore brasileiro, “por mestres de orquestras de dança francesas, como Milliet e Cavallier, que tocavam as músicas de Musard, ‘o pai das quadrilhas’, e Tolbecque”. O nome original em francês é quadrille. Ainda Cascudo, o maior folclorista brasileiro, potiguar de Natal, foi “a grande dança palaciana do século XIX”, dançada por quatro pares em formação retangular e é uma modalidade de dança de salão, aristocrática até hoje.
A prática se espalhou desde a Corte Imperial aos sertões e se tornou a festa mais popular do Brasil, sem contar o Carnaval. Hoje a Quadrilha é formada por vários pares e todos vestidos a caráter, com figurinos extravagantes, coloridos e bonitos, ganhando vários comandos inesperados, uns em francês, além de um casal de noivos, com padre e tudo, e de grande duração, fazendo com que a execução em cinco partes com comandos gritados pelo “marcador” com inúmeras repetições.
O termo “quadrilha” está além de uma Quadrilha são-joanense, por ironia do termo ou formação do crime organizado, que assola a América Portuguesa e a América Latina, claro, sem contar com os países de nível cultural e desenvolvimentista. Por incrível que pareça não somos considerados latinos em território estadunidense ou alhures, por isso a divisão que apresento, sem contar, no entanto, os países que foram colonizados por outras nações, como a Guiana (inglesa), o Suriname (holandês) e a Guiana Francesa, um território pertencente à França, única nação sul-americana ainda não independente.
Vamos ficar com a Quadrilha tradicional, festiva e com o brio de nossos antepassados. Em Belo Horizonte, o poder público realiza todo ano grandes concursos de Quadrilha, cada grupo mais exótico, bonito e com coreografia de “tirar o chapéu”. Anarriê, avancê, balancê, viva o Arraiá. Em junho de 2023, temos troca de estação. O início do inverno, ou solstício de inverno, aconteceu no dia 21 de junho, a estação mais fria do ano, com noites longas e mais estreladas. O inverno termina no dia 22 de setembro, quando desabrocha a primavera, e avançam as esperanças de um Brasil de ouro amarelo e ouro verde.