Os últimos ataques a escolas em São Paulo e Santa Catarina, além de ameaças, inclusive em Minas Gerais, aos locais de ensino, acendeu o alerta em relação à segurança dos estudantes e dos trabalhadores que estão nas instituições. Para discutir quais seriam as soluções para o problema, o Edição do Brasil conversou com o especialista em segurança pública e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Minas, Luis Flávio Sapori.
Quais são as principais características desses ataques?
São uma nova manifestação de violência, que começa a se afirmar no Brasil, diferente das outras que a gente conhece, como os assassinatos. Ela tem características próprias e não é recorrente na história do país. Ainda não temos estudos consistentes para entender o que leva essas pessoas a cometer esse tipo de crime. Em outras nações, como nos Estados Unidos, o fenômeno é muito comum. Lá, alguns pesquisadores afirmam que os autores desses massacres, principalmente jovens, que frequentaram as escolas ao longo da vida, acumularam frustrações diversas e criaram uma personalidade marcada pelo ódio e desejo de vingança.
Qual seria o perfil da pessoa que comete esse crime?
Em alguns casos, a pessoa pode ter manifestações de psicose, como pode ter acontecido em Blumenau (SC). O mais comum nesses ataques é que eles foram feitos por pessoas que não têm algum transtorno mental, mas sim de alguém que tem uma personalidade rancorosa.
As redes sociais contribuem para o aumento dos casos?
Muitos desses indivíduos se inspiram em ataques anteriores. Como o que ocorreu em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011 e o que aconteceu em Suzano (SP), em 2019, serviram de inspiração para novos ataques. As redes sociais não criam as motivações, mas dentro delas, os jovens encontram apoio de outras pessoas que pensam da mesma forma, que sentem as mesmas coisas e acabam se tornando referência, um apoio psicológico e acabam criando uma comunidade virtual. Alguns deles são adeptos de movimentos de extrema-direita, como o Nazismo.
Medidas de segurança, como monitoramento por câmeras, grades, muros altos, além do patrulhamento feito pela Polícia Militar ou Guarda Municipal ajudaria na redução?
São providências feitas em curto prazo para aumentar a sensação de segurança de alunos, professores e outros trabalhadores da escola. Para evitar pânico dentro do ambiente. Ações como o policiamento ostensivo nos arredores das escolas, medidas de restrição ao acesso às instituições de ensino, contratação de segurança privada não-armada, como acontece nas escolas particulares, são medidas que não vão resolver o problema, mas são necessárias.
O que precisamos fazer para acabar com a violência?
Em médio e longo prazo, é necessário que universidades e escolas públicas e particulares invistam em programas de acompanhamento da saúde mental dos estudantes. É onde está a raiz desse fenômeno, essa personalidade pautada pelo ódio e vingança. Isso pode ser investigado dentro da própria escola.
A inteligência das polícias ajudaria a minimizar o problema?
É fundamental a participação do setor de inteligência das polícias nesse combate, monitorando as redes sociais, para identificar possíveis autores. Já que muitos deles anunciam o que vão fazer nas escolas.
Programas para melhorar o relacionamento entre alunos poderiam diminuir os ataques?
Acredito que seria válido a elaboração de um programa com mecanismos de cooperação para se criar relacionamentos harmoniosos entre os alunos, formas para resolver pacificamente os conflitos, maneiras de prevenir o bullying, gerando o espírito de solidariedade dentro desse ambiente.