Mais uma vez recebemos chocados a triste notícia de uma tragédia no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Foram duas mortes e outras duas pessoas ficaram gravemente feridos, envolvendo uma carreta, um caminhão, um reboque e cinco carros. E, justamente, dois dias depois de duas outras mortes ocorridas no mesmo trecho: quando motoqueiro e garupa caíram, após choque com um carro, e acabaram atropelados por um caminhão.
O trecho do anel onde aconteceu é cenário constante de acidentes graves. Apenas em 2022, nos 5 meses, resultaram em 9 vidas perdidas, com 272 incidentes de trânsito, conforme dados do Policiamento Rodoviário. Para a devida comparação, no período de 1º de janeiro a 8 de julho de 2020, foram registrados 258 acidentes naquele trecho, com a morte de 12 pessoas. No ano passado, 2021, o número subiu para 290 com o total de 11 mortes no mesmo período.
Segundo autoridades do setor “é o trecho rodoviário com a maior incidência de sinistros de trânsito”. Isso acontece porque o fluxo diário é de cerca de 160 mil veículos. É comum que os acidentes se convertam em constantes congestionamentos, com o trânsito interrompido por horas, sem opções de desvio. O motorista que passa diariamente pela perigosa via, acostumou-se a ser testemunha de graves ocorrências. O trecho registra média de 1,7 casos diários com vítimas.
Para quem mora na região, acidentes como este se tornam cenas comuns e recorrentes. Um deles relata que estava assistindo televisão em sua casa, quando escutou os estrondos e barulho da batida. “Pela altura parecia que ia arrasar tudo. Foi horrível”. Outro escutou altos estrondos e sentiu a rua tremer. Segundo ele, esse foi o mais grave que já presenciou na rodovia.
Difícil explicar esta série de acidentes trágicos na região. Tem radar, tem sinalização, tem policiamento, tem tudo, menos o fato de que o pessoal de fora não conhece o anel, nem a região e se confunde ao andar por aqui. O local em que mais ocorrem batidas é onde a 3ª faixa deixa de existir, afunilando para duas, exatamente ao final do declive. Os motoristas, conduzindo veículos mais antigos, chegam ao anel cansados, com toneladas de cargas e sem nenhum aviso quanto ao final da faixa. O caminhão desce com freio quente e ao se deparar com o engarrafamento, o freio não obedece e não consegue parar.
Está sendo construída pela prefeitura uma área de escape no trecho já conhecido como descida do Betânia, mas os trabalhos sofrem com contínuos imprevistos e depende agora de uma licitação que não teve nenhum interessado no mês passado. Mesmo assim, insistem em manter a previsão da finalização dos trabalhos ainda no primeiro semestre deste ano. Temos e queremos acreditar em São Tomé!
Os trabalhos foram iniciados em outubro de 2021 e vão custar um total de R$ 3,5 milhões. Esta área de escape é uma estrutura de concreto que funciona como um dispositivo de segurança. É muito usada nas principais rodovias europeias. Parece uma piscina com cerca de 100m de comprimento e várias camadas de brita. A estrutura de concreto atua na redução da velocidade dos veículos que dela conseguem fazer uso. Fundamental para o sucesso da empreitada é a sinalização e iluminação.
Durante o penúltimo governo estadual, cerca de 10 anos atrás, foi apresentado com toda a “pompa e circunstância”, o magnífico projeto do Rodoanel Metropolitano. Mas o edital só conseguiu ser lançado em janeiro de 2022, com previsão de conclusão de 6 anos a partir do início das obras. Neste interregno foi engavetado pelo último governo e no atual, apesar da má vontade dos adversários procurando atrapalhar de todas as formas possíveis, depois de estudos e diálogo, o leilão das obras está previsto para 28 de julho. O empreendimento tem estimativa de gasto total de R$ 5 bilhões, sendo R$ 3 bilhões do estado e o restante da futura concessionária. A verba a ser empenhada pelo governo será proveniente do acordo da Vale, assinado em fevereiro de 2021, pela tragédia em Brumadinho.
O objetivo principal do Rodoanel é retirar parte dos veículos de carga que trafegam na área urbana de Belo Horizonte. A chamada Alça Norte terá 67,5 km de extensão, passando por Betim (atrás da Fiat), Contagem, Ribeirão das Neves, Pedro Leopoldo, São José da Lapa, Vespasiano, Santa Luzia e Sabará, facilitando inclusive o acesso ao Aeroporto Internacional, em Confins. A Alça Sul, com 35 km de extensão, passará por Betim, Ibirité, terminando em BH. Quando pronta será uma rodovia de primeira classe, com os mais elevados padrões técnicos, controle total de acessos e prestação de serviços de alta qualidade aos usuários, como atendimento médico, guincho e suporte 24 horas.
Somos os maiores interessados e torcemos para que tudo dê certo, mas nos damos o direito de ficarmos com um pé atrás, pelas experiências vivenciadas com o poder público. Não precisamos ir muito longe, citando apenas dois exemplos: 1 – o metrô de BH, prometido há 30 anos, sempre usado à época das eleições, com verba destinada pela então presidente e que até hoje não aconteceu; 2 – a BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”, cuja duplicação vai aos trancos e barrancos. E no tempo previsto de construção do Rodoanel, só nos resta elevar as mãos ao céu e dizermos “Até quando, meu Deus?”.
*Roberto Luciano Fortes Fagundes
Engenheiro; Presidente da Federação de C&VB-MG; VP do Brasil C&VB; VP da FEDERAMINAS; Presidente do Conselho do Instituto Sustentar; Sócio-diretor da CLAN Turismo
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