Um estudo revelou que os brasileiros gastam mais de 10 horas diárias navegando na internet, sendo que 3 horas e 42 minutos desse tempo é para acessar as redes sociais. Os dados são da agência de marketing digital Sortlist, que analisou o uso médio da rede em diferentes aplicativos. De acordo com a pesquisa, o Brasil ocupa o segundo lugar da lista como um dos países que passam o maior tempo nas mídias digitais do mundo, ficando atrás somente das Filipinas (4h15) e Colômbia (3h45).
E são os mais diversos apps para troca de mensagens, postagem de fotos e compartilhamento de vídeos. No entanto, apesar das plataformas serem uma forma de lazer, é preciso ficar de olho para não usar em excesso ou perder o foco ao fazer outras atividades do dia a dia. Sobre esse tema, o Edição do Brasil conversou com Amanda Soares (foto), psicóloga especialista em comportamento humano.
Quais os motivos das pessoas usarem tanto as redes sociais?
A necessidade de se relacionar, aliado a facilidade do instrumento, é uma característica fundamental do ser humano. Hoje, quase todo mundo possui um smartphone e tem essa possibilidade em qualquer tempo vago de tirar do bolso e conferir as redes sociais. Querem saber o que os amigos estão fazendo, leem textos, assistem vídeos, comentam e conversam.
É muito fácil e prático, o que torna o acesso interessante para a maior parte das pessoas. Além disso, as redes sociais têm um esquema de mostrar cada vez mais os assuntos relacionados a partir das interações. Isso quer dizer que a pessoa vê aquilo que mais gosta, acha interessante e considera válido gastar seu tempo, fazendo com que passem mais tempo navegando.
Por fim, nos últimos 2 anos, com a necessidade de isolamento social por conta da pandemia de COVID-19, nunca passamos tanto tempo atrás de uma tela. Isso porque os cidadãos foram forçados a ficarem em suas casas, seja para trabalho, lazer ou estudo. Consequentemente, tiveram mais tempo livre para acessar as mídias sociais e utilizar a variedade de aplicativos à nossa disposição.
Como esse tempo gasto afeta a vida no cotidiano?
Projetos significativos e que demandam um foco maior ficam comprometidos, já que as pessoas tendem a ficar mais distraídas. Usar as redes sociais pode dar um prazer imediato, além de ser fácil e gostoso a interação, mas pode se transformar em uma armadilha. O tempo gasto interfere na produtividade e nos resultados, comprometendo relacionamentos, trabalho, tempos de maior qualidade com os filhos e a família.
Quais os pontos positivos e negativos das redes sociais?
Elas facilitam a nossa vida e podem trazer ganhos interessantes, como estabelecer contatos, seja pessoal ou profissional. As redes sociais também possuem uma divulgação ampla das informações. Por meio do YouTube, muita gente acessa tutoriais, aulas, palestras, o que traz um enriquecimento cultural, maior conhecimento e senso crítico para a vida das pessoas. No entanto, elas trouxeram muitos problemas. E um dos efeitos colaterais é que qualquer um pode colocar conteúdos, expondo ideologias muitas vezes preconceituosas. Existe muita bobagem, fakes, entre outras publicações que podem causar estrago. Por exemplo, a maioria dos adolescentes possuem telefones celulares com câmeras. Alguns tiram fotos sem roupa ou gravam o momento de intimidade. Por alguma razão o material pode cair nas redes, causando transtornos e gerando traumas psicológicos profundos na vida desse adolescente.
O que pode ser feito para minimizar essa situação?
É preciso ter controle e pensar antes de postar qualquer coisa, afinal, todo mundo fica muito corajoso para expressar o que pensa nas redes, muitas vezes por não ter o contato físico. As pessoas muito impulsivas tendem a demonstrar isso de forma mais exacerbada. Às vezes, em um momento de raiva ou de pouca reflexão, perde o controle da situação e publicam coisas que ficarão documentadas e nem sempre refletem profundamente o que gostariam de expressar naquele momento. E isso traz consequências para a vida. Algumas podem perder o emprego e até mesmo amizades.
Por que algumas pessoas sentem necessidade de se expor?
A maior parte das nossas recompensas e as coisas que achamos significativas passam pela relação interpessoal. É muito forte a importância que o outro tem sobre mim. Algumas pessoas gostam de expor a vida na rede para que o outro saiba e ache interessante. O fato de alguém curtir ou comentar, talvez seja uma forma delas serem reconhecidas e valorizadas.
As redes sociais, muitas vezes, enfatizam a questão do reconhecimento social. Isso significa que o olhar que o outro tem sobre mim é mais relevante que a própria experiência. Por exemplo, a pessoa vai em um show e passa o tempo todo filmando e fotografando e assistindo tudo por meio da lente do celular, ao invés de desfrutar com plenitude da apresentação. Para ela, talvez seja mais importante falar que foi e compartilhar nas redes sociais do que ter o prazer de viver as sensações de estar lá presente.
Como identificar o uso em excesso?
Talvez o critério seja quando a pessoa, mesmo percebendo as consequências, não consegue fazer diferente e permanece no mesmo padrão. Esse uso exagerado pode comprometer as outras atividades como, por exemplo, no trabalho. Às vezes pode colocar o emprego em risco, pois o patrão não quer ver seu funcionário brincando ao invés de mostrar produção.
Outro exemplo muito comum é o empobrecimento no diálogo, além de prejuízos para a vida acadêmica. Imagine o estudante produzindo um texto e toda hora olhar o que está acontecendo no WhatsApp ou no Facebook. Há uma grande perda de energia e de foco.
É possível viver longe das redes?
É perfeitamente possível viver sem redes sociais. Hoje, o problema não é a tecnologia e sim a relação que as pessoas têm com ela. Todas as atividades possuem a sua importância quando utilizadas adequadamente. Se formos comparar, antigamente fazíamos uso de outros dispositivos em excesso, como televisão e jogos eletrônicos. Tudo que pode gerar prazer traz junto a possibilidade de a pessoa estabelecer uma relação de vício com aquele objeto. Isso também acontece com alimentos, sexo, bebida, entre outras coisas.