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Bolsonaro não seria vilão e sim herói, se… (Ah, esse danado do “se” e a tal de “asse”!)

Foto: Internet

Enfrentando as agruras de 2022, listei em 22 grupos um bocado dos erros que o temperamental e belicoso presidente da República não quis e nem quer evitar. Adepto da morte, sem nenhuma sensibilidade Jair Bolsonaro (PL) ridiculariza o sofrimento alheio de forma reles e prepotente. Ele, que hoje encarna um irascível monstro desperto, até poderia ser herói se…

1) Se parasse de se insurgir contra a ciência, da qual é ignorante inimigo.

2) Se não copiasse seu ídolo norte-americano, Donald Trump (defensor da cloroquina fabricada em laboratório do qual é acionista), e admitisse que tal remédio para malária não possui, assim como outros do inventado “kit COVID”, eficácia contra o vírus que infectou 29 milhões e matou 660 mil brasileiros.

3) Se adotasse, em tempo hábil, as medidas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde para a vacinação, evitando milhares de mortes.

4) Se respeitasse e não desqualificasse as mulheres, se não debochasse, ironizasse e rechaçasse a diversidade de gêneros, se repudiasse meliantes que enriquecem subjugando e dizimando quilombolas e indígenas – que agora sofrem nova ameaça com o governo federal projetando mineração nas reservas onde vivem.

5) Se tomasse medidas efetivas em prol do clima e do meio ambiente, e não incitasse desmatamento e queimadas criminosas.

6) Se não incentivasse projetos e leis insensatas, como a PL 6299/02 que elimina Anvisa, Ibama e ministérios do Meio Ambiente e da Saúde do controle de agrotóxicos. Com exclusividade, a pasta da Agricultura pode ampliar ainda mais o uso de agrotóxicos proibidos mundo afora: no atual governo surgiram 1.467 novos pesticidas (a média anual histórica era 171).

7) Se evitasse conceder vantagens indignas. Vale tudo no troca-troca que arregimenta apoio visando persistir em falcatruas: verbas bilionárias, aumentos salariais, nomeações, indicações, estímulo a leis ordinárias (várias, na acepção da palavra, não prestam mesmo), indultos, compromissos e promessas vãs.

8) Se não colocasse em cargos de comando militar, segurança e judicial, amigos “íntimos” para evitar que ele e família, desde já e no futuro, sofram ritos processuais competentes que culminem em condenações e prisões; se não eliminasse, como usualmente impõe na Polícia Federal, quem tenta agir de forma correta; e criasse juízo que lhe faz e fez falta (vide sua exclusão das Forças Armadas).

9) Se acabasse com a violenta assassina obsessão armamentista, ao ponto de mandar o povo comprar fuzis e não comida. No seu mandato, o número de armas em arsenais particulares triplicou e ultrapassa 2,2 milhões. A sanha é tanta, que arregimenta crianças para posar ao seu lado ou colo, portando réplicas.

10) Se extirpasse o gabinete do ódio, do qual fazem parte, junto ao bando digital regiamente pago, seus filhos e assessores envolvidos em tramoias. 11) Se respeitasse a imprensa, manifestasse hombridade e mandasse apurar denúncias que envolvam familiares e apaniguados que coloca à margem da Lei.

12) Se não atuasse como porta-voz de absurdos fake-news nas lives que tornou oficiosa “A Voz do Presidente”, e no “cercadinho”, onde claques de ingênuos, organizadas por obedientes vassalos, aplaudem seus escárnios.

13) Se parasse de inventar lorotas contra o sistema eleitoral, antevendo futura atitude golpista para, novamente, imitar o esdrúxulo Trump e não aceitar derrota.

14) Se não proclamasse e se ufanasse de invencionices que concorrem com histórias do Barão de Münchhausen e do Pinóquio, como a de ter cumprido promessa de acabar com corrupção no governo.

15) Se não vilipendiasse a cultura e a arte, assim como a educação – limitada pessoalmente ao conhecimento de impropérios e palavrões, com os quais se expressa para deleite dos bajuladores.

16) Se abandonasse a mania de bancar ser mocinho de cinema, tv e revista, em passeios de jet ski, motociatas e outras constantes exibições – com dinheirama (milhões) do secreto cartão corporativo presidencial!

17) Se trabalhasse de fato e deixasse de folgar e esbanjar dinheiro público (oficialmente, R$ 899.374,60 nas últimas férias), enquanto planeja o que fazer para permanecer usufruindo seu nefasto domínio. Acostumado ao descanso, em 27 anos como deputado federal teve aprovados… ufa, que esforço… dois projetos!

18) Se não tentasse ser popular ao comer pizza na mão e esparramar farofa no corpo e chão, mas, à beira de piscinas palacianas, degusta carne de incríveis R$ 1.799,99 o quilo, esnobando o povo que mendiga ossos.

19) Se não ficasse alheio à miséria, fome e violência que tomam conta das ruas, dramas que ridiculariza com seu descabido estilo “e daí, posso fazer o quê”?

20) Se cessasse de destratar, com desdém e ojeriza, mandatários e países que não compartilham suas devastadoras alucinações, inclusive contra a humanidade, desonrando o Itamaraty, a diplomacia e as relações exteriores brasileiras.

21) Se rechaçasse extremistas e, por outro (seu) lado, não fosse um atrevido líder deles; se rejeitasse a própria anárquica postura pessoal, abominasse e afastasse os racistas, nazifascistas e demais “istas” assemelhados que nomeou e preserva.

22) Se, enfim, atinasse que um efêmero governo necessita, no mínimo, ser democrático e capaz, para se consolidar e dar certo.

Tomara que o Brasil não seja reinfectado pela ditadura, regime almejado a qualquer custo pelos adeptos radicais do continuísmo de quem chamam de mito. Para enfrentar ameaças e solavancos, não bastam a debandada de iludidos eleitores enganados em 2018, que crédulos fiquem descrentes e ignorantes aprendam. Além de evitar repetir o erro e constatar que Bolsonaro no poder é o imediato adversário a derrotar nas urnas (oxalá nem vá ao segundo turno), se torna fundamental escolher certo quem possa erradicar seus desarranjos (os usuais belicosos e calamitosos, não os intestinais). Mais do que nunca, “sonhar sonho bom” é preciso. Ah, se é…

*Sérgio Prates
Jornalista
pratesergio@terra.com.br