Dados de uma pesquisa feita pelo IPC Maps apontam que o setor de alimentação e bebidas brasileiro deve movimentar, até o final de 2021, cerca de R$ 716,8 bilhões. Com esse montante, estima-se que o segmento poderá retomar parte da fatia perdida no ano passado devido à pandemia. Na ocasião, o ramo respondeu por apenas R$ 629,5 bilhões. Mas, embora o cenário seja otimista, o estudo mostra que ainda levará um tempo para que a categoria volte ao patamar que estava antes da crise sanitária. Em 2019, o potencial de consumo do campo era de R$ 806,8 bilhões, ou seja, 11,2% a mais que a projeção atual.
Nos cálculos acima, são levados em conta as despesas com alimentação e bebidas no domicílio, bem como fora dele. A recuperação do consumo fomenta ainda o número de empresas oferecendo os serviços. Segundo a análise, dos 1,8 milhão de restaurantes, bares, lanchonetes e ambulantes existentes em 2019 no Brasil, mais de 78 mil fecharam suas portas quando a pandemia começou. Contudo, neste ano, a quantidade de estabelecimentos voltou a subir, totalizando 1,7 milhão de unidades.
A gastróloga e personal chef Michelle Pires inaugurou este ano um ateliê culinário, onde oferece confrarias. “São aulas-jantares que dou para um grupo. Sempre gostei de reunir pessoas ao redor da mesa e, assim, surgiu a ideia. Em 2022, pretendo ofertar cursos personalizados para turmas ou individuais no espaço”.
A pandemia trouxe dúvidas, mas a chefe preferiu ficar com a certeza de que a experiência intimista atrairia as pessoas. “A procura tem sido muito positiva. O cenário pandêmico causou muita instabilidade para o setor gastronômico, mas acredito que, em meio a crise, sempre há possibilidades e oportunidades. Com a alta dos preços, o que podemos fazer é nos adaptar, valorizar os produtores locais e priorizar alimentos, dentro de sua sazonalidade”.
Para Marcos Pazzini, responsável pelo IPC Maps, a movimentação acima de R$ 700 bilhões é considerada normal para o setor de alimentação, afinal, trata-se de algo essencial. “Esse volume representa 15,2% dos gastos da população brasileira em 2021, enquanto em 2019 era de 18,5%. Isso significa que, apesar do volume de gastos com esta categoria ser inferior ao de 2019, essa participação menor denota que o brasileiro pode ter mais dinheiro para consumo de produtos de outras categorias”.
Ele acrescenta que, assim como vários outros, a recuperação do setor é lenta, pois a economia como um todo está demorando a voltar à normalidade. “De 2019 para 2020, devido ao cenário pandêmico, o consumo brasileiro teve uma retração de 5,5%. Para 2021 tem sido esperado um crescimento da ordem de 3,7%, o que não recupera as perdas de 2020. E, em 2022, o fomento esperado é muito pequeno, entre 0 e 1%. Acredita-se que a vacinação acelere um pouco esse processo, mas a retomada do crescimento econômico depende de ações do governo e não tem como precisar quando elas ocorrerão”.
Apesar disso, o diretor presidente da Bem Brasil Alimentos, Dênio de Oliveira, mantém expectativa positiva para o setor no próximo ano. “A indústria de alimentos segue em uma constante recuperação, iniciada no segundo semestre de 2020. Com a abertura do comércio e a volta gradativa das pessoas para uma rotina fora do lar, a retomada se torna mais possível”.
Pazzini ressalta que as festas de fim de ano poderão ser importantes para o setor. “Elas movimentam um volume considerável de vendas, pois o brasileiro deve receber o 13º salário e fazer suas compras para as comemorações, envolvendo alimentos que não consomem habitualmente, além de cervejas e refrigerantes. Com isso, encerra-se o ano acumulando expectativas de que o segmento mantenha a mesma participação percentual, ou seja, o crescimento não deve ultrapassar 1% em 2022”, conclui.