As empresas da construção civil têm enfrentado problemas desde o ano passado com a falta de itens essenciais e o alto custo da matéria-prima. Segundo levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o percentual do setor com esse transtorno subiu de 39,2% para 50,8% entre o terceiro e o quarto trimestre de 2020, um avanço de 11,6 pontos percentuais. O fato é que isso influencia no valor dos imóveis novos, que podem sofrer reajuste nos próximos meses em todo país. O grande dilema é como finalizar as obras em andamento e tentar evitar repassar o aumento aos consumidores.
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), vários itens estão com problema de abastecimento. “Aço, cabos elétricos, louças, metais, esquadrias de alumínio e tubos de PVC são os que lideram o ranking em termos de maior prazo de entrega. O cimento, por exemplo, que era entregue em até 48 horas, hoje demora cerca de 30 dias. Já o aço e materiais elétricos, agora levam entre 60 e 90 dias para serem recebidos. Dependendo do produto, pode demandar ainda mais, chegando até a 150 dias”, explica Geraldo Linhares, presidente da entidade.
Os fios e cabos elétricos são os produtos que mais sofreram reajuste, alcançando quase 80% no período de janeiro a dezembro do ano passado. Em seguida está o tijolo e a cerâmica, registrando aumento de 70% em algumas cidades de Minas Gerais. O aço teve elevação de 60% e o cimento até 40%. “Este último continua com preço altíssimo, porém mais estabilizado desde o mês passado. Diferente do aço que continua subindo mensalmente. Se não puder esperar, vai ter que pagar mais caro, comprando do distribuidor ao invés de adquirir diretamente com a siderúrgica”, reforça.
O empresário José Carlos Vieira está preocupado com o atraso na entrega de alguns materiais, sobretudo a majoração dos preços de determinados itens. Ele explica que o cronograma de obras é bastante afetado e também pode alterar o valor final do imóvel. “Ano passado faltou cimento e tivemos que esperar mais de 20 dias a nova remessa chegar. Agora, estamos enfrentando a falta de tubos de PVC. Já fizemos a encomenda para o fornecedor, mas o prazo está superando os 2 meses. Isso sem contar que todos os itens estão mais caros. Tudo traz reflexos e pode encarecer o custo final da obra em cerca de 20%”.
Venda de imóveis novos
Ainda de acordo com Linhares, esse aumento no preço da matéria-prima pressiona o custo da obra em relação à venda, prejudicando o previsto nas viabilidades aferidas pelas empresas de lucratividade. “A tendência é de uma majoração no valor dos novos empreendimentos, penalizando a sociedade e impedindo que várias pessoas consigam realizar o sonho da casa própria. Principalmente os produtos econômicos, que são a primeira faixa do Casa Verde Amarela, devem sofrer um aumento em torno de 15%. Então, uma propriedade que custava R$ 130 mil, agora vai ser reajustada para R$ 150 mil. Isso é preocupante, porque tira a possibilidade de grande parte dos brasileiros adquirirem um imóvel”.
Em janeiro de 2021, o gasto da construção, medido pelo Custo Unitário Básico (CUB/m²), calculado e divulgado pelo Sinduscon-MG, cresceu 2,83%. Em janeiro de 2020, a despesa cresceu 0,30%. No acumulado de 12 meses (encerrado em janeiro), o índice teve uma variação de 23,21%. No mesmo período de 2020, a oscilação foi de 3,92%.
Melhora nos próximos meses
O presidente do Sinduscon-MG afirma que o setor continuará crescendo, mas com esse grande problema de desabastecimento e alta no preço dos materiais, deve diminuir o número de lançamentos. “Estamos vivendo um momento crítico. As empresas vão ter que se adaptar, fazer um planejamento mais complexo da obra, talvez até fazer a entrega em um prazo maior”.
Ele acreditava que o aumento dos insumos iria parar no primeiro trimestre. “Mas isso não está ocorrendo, pelo contrário, continuam subindo mensalmente. Então, a perspectiva para os próximos meses é de poucos lançamentos e majoração dos preços de venda dos imóveis. Acalmado o problema, o mercado será perene com um crescimento superior aos últimos anos”.
Geração de empregos
Apesar dos problemas com a falta de insumos e o alto custo dos materiais, a construção civil foi o setor que mais gerou empregos em 2020. Segundo informações do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged), os empreendimentos imobiliários foram responsáveis por abrir 157.881 novos postos de trabalho formais entre janeiro e novembro do ano passado. Mesmo em meio à pandemia de COVID-19, o número foi 34,6% maior em relação ao mesmo período de 2019.
E a construção civil deve continuar aquecida e gerando mais empregos neste ano. A CBIC aposta em um crescimento de 4% no Produto Interno Bruto (PIB) do setor em 2021, o que significa a criação de 200 mil novas ocupações. Essa expectativa acompanha a projeção de alta dos lançamentos imobiliários entre 15% e 20% em comparação com 2020.