Em meio à verdadeira tragédia que assola o país, há quem majestosamente festeje, saia às ruas sem máscara e distribua abraços e afagos – não ligando para o fato de que, mesmo no período em que preferiu assumir estar (e não ser um) doente, transmitir vírus e poder causar a infecção de adeptos e inocentes. Este personagem da triste figura, cuja loucura não tem nada a ver com as alucinações de Dom Quixote de La Mancha que só queria fazer o bem, está mais para um ogro nu, como na história do rei. Só que apesar dos alertas sobre sua nudez moral, milhões ainda o veem travestido como um líder do bem.
Vamos respeitar a opinião de todos, inocentes na sua crença. Conheço muita gente realmente do bem que foi às ruas para apoiar o mito humorístico na última eleição, achando – doce ilusão – que, com ele, a corrupção seria extirpada. Infelizmente, agora acontecem coisas piores. Não se trata mais só de malas de dinheiro, notas em cuecas, contratos superfaturados, propinas de todo tipo e por aí afora. Hoje, a ladroeira e mentiras vão além das conhecidas criminosas roubalheiras desenfreadas, com mais gente sofrendo e morrendo, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos do Donald Trump, acionista da gigantesca Sanofi, empresa fabricante de – ora, vejam só – cloroquina, com a qual o governo norte-americano fechou acordo de bilhões de dólares para ter prioridade (vai tentar ficar com toda a produção) de uma futura vacina contra a COVID-19.
Nos States, como aqui, a falta de ações governamentais centralizadas, honestas e coerentes para enfrentar a pandemia, é motivo comprovado para se entender a razão dos dois países, sozinhos, terem praticamente a mesma quantidade de mortos pela COVID-19 do que de todas as outras 194 nações do mundo juntas! Há dois principais culpados por esta mortandade de norte-americanos e brasileiros: Donald John Trump e seu fiel admirador Jair Messias Bolsonaro, que desdenharam do coronavírus, ao qual trataram como falso, inexistente, mentiroso, gripezinha atoa, e até difundiram história de que foi inventado na China para prejudica-los eleitoralmente.
Centenas de milhares de mortes provam o erro fatal do desprezo à pandemia, quer queiram ou não iludidos adoradores dos presidentes citados. É preocupante saber que, no Brasil, junto com apoiadores regiamente pagos que erram em cargos dos quais nada entendem, gente simples e honesta ainda negue a ciência e os fatos, dando razão ao todo-poderoso distribuidor de vírus entrincheirado no Palácio do Planalto.
Aqui, junto aos fraudulentos contratos hiperfaturados, até respiradores imprestáveis são adquiridos e não utilizados, enquanto principalmente os mais humildes morrem sufocados. Dissimulados profetas encastelados em palácios e templos, propagam remédios mais falsos ainda, cujos ineficientes insumos o (des) governo federal adquire pagando seis vezes mais do que o Ministério da Saúde comprava até recentemente, quando tinha ministro de verdade. E haja laranjal sendo descoberto! E haja ministro pagando simbólica multa para arquivar investigação confessada de muito mais dinheiro de caixa 2 (ao que se saiba, não precisou dividir a “bufunfa” com rachadinhas). E tem a Lava Jato sendo perseguida e aniquilada, pois agora pode atingir políticos de um estilo mafioso cuidadosamente articulado para chegar, estar e se manter no poder.
O Tribunal Penal Internacional, popularmente conhecido como Tribunal de Haia (nome da cidade holandesa onde funciona) tem recebido seguidas denúncias de crimes contra a humanidade e genocídio praticados pelo autoproclamado atleta que se ufana de exibir caixa de cloroquina para as emas que com ele habitam o Palácio da Alvorada (à bem da verdade, é bom lembrar que uma das emas, inteligente, se revoltou e bicou o homem que de fato e não de direito, se faz de médico e quiçá de ministro da Saúde).
Por falar em quem se arvora assim, nada contra militar trabalhar no Ministério da Saúde. Mas seriam precisos tantos e justamente nos mais altos cargos que deviam ser ocupados por quem entende do ramo? Aliás, a questão é muito maior! Há indícios de que grande parte de íntegros integrantes da Aeronáutica, Exército e Marinha estão incomodados com tantos militares saindo da área fim para assumir cargos civis do governo federal. Se já não aumentaram ainda mais, são, segundo levantamento oficial do Tribunal de Contas da União, 6.157, repito por extenso, seis mil, cento e cinquenta e sete!
Por que será que se aquartela de uma forma que não existiu nem durante a ditadura militar, o homem que é bajulador de Trump – também alucinado com reeleição; que é papai da conturbada tríade politiqueira Eduardo, Flávio e Carlos; que minimiza as queimadas que devastam o país; que adora cultivar inimigos, indiferente se pessoas, entidades ou nações; que se faz de garoto propaganda do uso de remédio que pode matar pelo uso inadequado? Para ele, mais de cem mil mortos pela sua famigerada gripezinha não importam: “é a vida”, tanto assim que, repito, sai às ruas transmitindo vírus que admitiu ser portador. E que pode transformá-lo (se é que já não aconteceu) em homicida culposo, que tira a vida de outra pessoa sem a intenção, por negligência, imprudência ou imperícia – segundo o Artigo 121 do Código Penal Brasileiro.
*Sérgio Prates
Jornalista
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