No meio da catástrofe causada pela COVID-19, o Brasil vive um momento de incertezas de quando a economia será retomada. O reflexo do impacto já é sentido pela sociedade, principalmente no mercado de trabalho. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego passou de 11,2% no trimestre móvel encerrado em janeiro para 12,6% no trimestre móvel encerrado em abril, aumentando para 12,8 milhões o número de pessoas que estão sem emprego no país.
O estudo considera o choque dos primeiros 45 dias da pandemia na economia e no mercado de trabalho brasileiro. Isso significa que 898 mil pessoas entraram na fila do desemprego nesse período devido às medidas de isolamento social, fechamento de lojas e comércio. A recuperação será lenta, mas a grande questão é quando as empresas vão voltar a contratar?
Para o economista Ricardo Carvalho, a situação atual e as perspectivas são muito complicadas. “As estatísticas não conseguem medir com precisão o tamanho da destruição de vagas, pois quem perdeu o emprego ainda não voltou a procurar outro por causa dessa crise sanitária. Acredito que a taxa de desocupados será ainda maior nos próximos meses, afinal, esse é o último patamar da economia a se recuperar da recessão. Além disso, boa parte dos que ainda estão empregados tiveram seus salários suspensos ou reduzidos em até 70%”.
Carvalho explica que a pandemia chegou para agravar ainda mais o cenário de declínio. “O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 1% no ano passado, sendo o menor avanço dos últimos 3 anos. A taxa de desemprego girava em torno de 12%. Sendo muito otimista, o país pode terminar 2020 com cerca de 15% de desempregados e retração de até 7% do PIB”.
Ele critica a postura e as ações do governo para reduzir os efeitos da COVID-19. “Quando estourou os casos de contaminados e o comércio teve que paralisar suas atividades e fazer quarentena, a equipe econômica já deveria ter elaborado um plano de ação com começo, meio e fim para o pós-pandemia. Coisa que ainda não foi feita até agora. O Brasil corre o risco de ser campeão não apenas em número de vítimas, mas também na alta taxa de desocupados e queda do PIB”, alerta.
Socorro econômico
Sobre as medidas de ajuda para quem teve perda total de renda, o economista é taxativo. “É um benefício assistencial e válido somente para passar por esse momento de dificuldade. Esse valor de R$ 600 poderia ser maior e chegar pelo menos a um salário mínimo (R$ 1.045). Por outro lado, o governo não calculou bem quantos estariam elegíveis e nem quanto tempo a quarentena iria durar. Agora, não tem mais condições de continuar bancando o valor até que as pessoas consigam retornar ao mercado de trabalho. Além disso, o programa é muito burocrático e o dinheiro demora ou nem mesmo chega nas mãos de quem realmente precisa”.
Já as ações para que as empresas não venham a falência ou provoquem demissão em massa, ele afirma que são insuficientes. “As medidas de suspensão ou redução de salário e jornada vão funcionar na garantia de manter o trabalho durante um tempo. Porém, o empregado tem uma boa diminuição do seu ganho mensal, o que impacta diretamente no padrão de consumo. Inclusive, o corte pode gerar problemas com endividamento”.
Ele acrescenta também que foram disponibilizadas linhas de crédito emergencial para empresas, mas o plano não funciona para todos na prática. “Muitos não conseguem o acesso fácil. Mais uma vez a burocracia e a morosidade dificultam a análise e aprovação do empréstimo. Os bancos são criteriosos na concessão, ainda mais num momento de crise e que a procura por produtos e serviços diminuiu. Nesse meio tempo, empresas correm o risco de fechar as portas definitivamente, pois não conseguem dinheiro para pagar o salário dos funcionários”.
Trabalho pós-pandemia
O economista salienta que o mercado de trabalho já vinha passando por transformações, tanto com a criação de novas vagas quanto a extinção de outras. A crise sanitária apenas antecipou algumas mudanças. “Entres elas estão o home office, que antes não era bem visto e hoje se tornou uma necessidade. Dados da Fundação Getulio Vargas apontam que 67,4% dos trabalhadores formais estão exercendo suas funções remotamente. Patrão e empregado vão perceber que não precisam estar fisicamente na empresa para serem produtivos”.
Além disso, há uma grande economia nesse modelo, pois o gasto é menor com energia, telefonia, cafezinho, ventilador ou ar-condicionado, entre outras despesas. “Existem estimativas mostrando que a redução é de até 15% para cada funcionário. Sendo assim, as companhias nunca mais serão as mesmas”, garante.
As pessoas também terão que se adaptar, porque podem não conseguir se recolocar na mesma área de atuação que estavam antes. Parte da população tende a migrar para a informalidade enquanto aguardam uma vaga com carteira assinada. “Esse tipo de ocupação é ruim para todos, porque não possui os direitos trabalhistas previstos em lei. Eles não têm FGTS, acesso ao seguro-desemprego e licença médica remunerada. A maioria também não paga a contribuição ao INNS para fins de aposentadoria”, finaliza.