“Meu aplicativo do banco travou, pode me ajudar? Faça uma transferência para mim, te devolvo o valor amanhã”. Essa foi a mensagem que a vendedora Lara Reis recebeu de uma amiga por meio do WhatsApp. Assim que leu o texto, Lara decidiu transferir os R$ 800 solicitados, mas o que ela não sabia era que estava caindo em um golpe.
Cada vez mais comum, a fraude sofrida por Lara trata-se de uma clonagem da conta do WhatsApp. “A mensagem chegou dentro da nossa conversa, era o número e a foto dela. Sendo assim, nem pensei que poderia ser golpe e transferi o valor prontamente, só depois de tudo que ela entrou em contato para dizer o que havia acontecido, porém já era tarde”, relembra.
O período de quarentena por decorrência do coronavírus tem servido de isca para golpistas. Entre março e abril, o total de ataques virtuais em território nacional saltou de 14 mil para 105 mil, um crescimento de 86,6%. Para se ter uma ideia, em março, foram mais de 20 milhões de acessos a links maliciosos
O WhatsApp é um dos principais meios utilizados por golpistas na atualidade, seja para estelionato ou roubo de dados. Mas, com o isolamento social, o aplicativo Zoom, Microsoft Teams, Google Meet e até a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm sido usados por hackers para conseguir informações dos usuários. Um relatório feito pela Check Point indicou que mais de 20 mil domínios relacionados sobre o novo coronavirus, por exemplo, foram registrados na web, desses, 17% comprovadamente maliciosos.
No período analisado, a Check Point ainda registrou 192 mil ataques cibernéticos relacionados à pandemia – um aumento de 30% em comparação com as semanas anteriores. Em alguns, o nome da OMS foi usado para solicitar doações.
Nem mesmo o auxílio emergencial oferecido pelo governo como forma de ajudar as pessoas passou despercebido. Um caso que ganhou muita repercussão da mídia, e exemplifica o golpe, foi o do filho do jornalista William Bonner, Vinícius, que teve o número do seu CPF divulgado e utilizado por criminosos. Bonner relatou em sua conta oficial no Twitter que, há 3 anos, os dados foram roubados e, além do pedido de auxílio emergencial – que foi aprovado, já foi solicitado assinaturas de TV e até feita a abertura de empresas em nome de seu filho.
O especialista em tecnologia da informação Arthur Igreja explica que, no caso do auxílio emergencial, por exemplo, o golpe pode ser proveniente de roubo de dados. “Os golpistas monitoram para saber quais são os assuntos em voga e surfam naqueles em que as pessoas estão procurando e, com isso, ludibriam os sites”.
Ele acrescenta que nossos dados são valiosos, afinal essa é a forma mais rica e precisa para entender o comportamento das pessoas. “Sabendo disso, é possível direcionar marketing, produtos e até influência política como aconteceu, comprovadamente, nos EUA com a Cambridge Analítica e todo escândalo que envolveu o Facebook (com o vazamento de informações de mais de 50 milhões de pessoas, sem consentimento, para fazer propaganda política)”.
Arthur afirma que é importante termos consciência dos limites. “Se você está baixando um aplicativo para ver a previsão do tempo, é normal que ele peça acesso ao GPS do celular, mas se estiver utilizando um editor de fotos e for solicitado acesso ao GPS do celular, desconfie, afinal não é necessário. É fundamental entender em que momentos o aplicativo está monitorando o perfil do usuário. Os dados podem ser compartilhados, contanto que faça sentido para aquela experiência que a pessoa desfruta”
O cofundador e CTO (diretor de tecnologia) da Reamp, empresa pioneira e especializada em marketing programático, Emmanuel Santana, explica que mecanismos de comunicação, como e-mails e plataformas de mensageria, são meios comuns utilizados por criminosos para aplicar golpes na internet. Seja através de falsas ameaças ou até por promessas de recompensa. “Os crimes on-line, em muitos casos, são parecidos com golpes tradicionais. Hoje, as plataformas de e-mail já filtram quase tudo que aparenta ser um potencial golpe. Elas ‘perguntam’ ao próprio usuário se podem avisar e bloquear de imediato os remetentes que enviaram mensagens suspeitas”.
Santana explica que, na maioria das vezes, os golpistas estão atrás de dinheiro. “Considerando a definição de golpe on-line como o ato de enganar pessoas em meios digitais, levando-as a tomar ações contra o seu próprio favor, quem está aplicando, geralmente, busca por dinheiro, seja diretamente, por meio de ameaças; ou indiretamente, através de chantagens. Tudo após o criminoso passar a controlar os dados de usuários, senhas e contas”.
O especialista diz que a consequência mais comum, nesse caso, seria a perda financeira, porque, geralmente, os criminosos procuram coletar dados de cartão de crédito ou receber pagamentos por meio de chantagens. “Em casos mais graves, podem tentar coletar dados sensíveis como senhas e logins de contas, o que pode ter um impacto ainda maior, pois podem sequestrar ferramentas e meios que, hoje em dia, são essenciais a quase todas as pessoas”.