É fato que a crise causada pela COVID-19 mudou a maneira de pensar de muitas pessoas. Por consequência do isolamento social, boa parte da população segue privada de realizar atividades simples como ir até uma loja e comprar. Por causa disso, marcas e comércios precisaram se adaptar a essa realidade.
Segundo um estudo feito pela Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, mais da metade dos brasileiros (53,7%) têm evitado qualquer tipo de aquisições desnecessárias neste período de incerteza. Já 34,7% têm buscado medir melhor a necessidade de uma compra.
Uma minoria (5,6%) está apenas aguardando para retomar seus hábitos de compra, enquanto que para 6,2% nada mudou. Entretanto, uma porcentagem do levantamento chama a atenção: 88,4% dos brasileiros pretendem comprar menos por impulso. Para Marcelo Beccaro, sócio da Hibou e responsável pela pesquisa, isso se dá porque a quarentena trouxe uma espécie de delay entre o impulso e a compra. “Seja por ter entendido que precisa de menos ou pela preocupação financeira nos próximos meses”.
Qual a relação entre a quarentena e o desejo de comprar menos por impulso entre os brasileiros?
Com o clima de incerteza até aquela pessoa menos comedida teve que parar por 5 segundos e repensar na hora de gastar. Além disso, foi preciso encontrar caminhos digitais para chegar à loja e olhar o carrinho no site/aplicativo sem o produto na mão. A quarentena trouxe esse delay entre impulso e compra que, por menor que seja, começou a aparecer na jornada do consumidor. Hoje, quando perguntamos sobre o futuro, essa pausa para pensar é bem-vinda por 88,4% dos entrevistados.
Como você observa o hábito de consumo dos brasileiros pós-quarentena? O brasileiro vai consumir menos (88% afirma isso), seja por ter entendido que precisa de menos ou pela preocupação financeira nos próximos meses. E as pessoas terão uma mescla das antigas formas de consumo com a inclusão de mais aquisições pelo celular (on-line) e um novo olhar para o bairro onde reside quando se pensa no consumo de rotina.
O consumo por impulso é uma realidade no Brasil? A que você atribui isso? “Impulso” é uma realidade no Brasil, não só na área de consumo. O brasileiro é – e sempre foi – passional. Por esse motivo que, em muitos segmentos, acaba consumindo mais do que necessita. O estímulo ao impulso vem de diversas formas, seja reafirmação, status, prazer pessoal – todos passam pelo emocional da aquisição e não necessariamente pela sua utilidade ou necessidade. Por exemplo, 33% dos entrevistados não “necessitam de nada”, mas não veem a hora de sair e experimentar coisas novas.
Esse consumo por impulso é algo que tem auxiliado o recuo da economia com a pandemia da COVID-19?
É algo que afeta os indicadores, afinal, a perda da “compra de impulso” é faturamento a menos. Mas é um pouco pior nesse sentido, porque compras que foram colocadas em espera serão, eventualmente, realizadas, mas as por impulso são mais difíceis de serem resgatadas no futuro. A compra por impulso se perde neste momento do confinamento, pois entra em uma análise de necessidade, juntando a isso as preocupações financeiras com o futuro que tendem a reduzi-las ainda mais.
Acredita que o posicionamento de algumas marcas durante a pandemia alertou as pessoas de que o consumo era exagerado?
Não, acredito que as marcas que se posicionaram ganharam relevância pelos seus valores, independente do exagero ou não. O que o posicionamento das marcas trouxe à tona é a importância dos valores. Valores que antes ficavam esquecidos num canto do site corporativo, quando colocadas em ação, se tornam atitudes valiosas que ressoam bem com a população.
Você observa as marcas e serviços se adaptando a esse novo modelo de consumo?
Elas estão sem opção. As marcas, além de pensar melhor nos seus pontos de venda, lojas e gôndolas precisarão retomar de maneira mais real e efetiva o relacionamento com os consumidores. É preciso que cada marca tenha seu protocolo para voltar a