Falar imitando crianças, de forma errada ou melosa com os pequenos é comum. Tanto que o hábito é conhecido mundialmente como “baby talk”. Sobre o costume, pesquisas apontam que essa “linguagem de bebê” pode ser benéfica na relação entre pais e filhos, transmitindo afeto e segurança à criança, porém, profissionais da pedagogia defendem que alguns cuidados devem ser tomados.
Na experiência da pedagoga Rita Schane, é natural que os pais infantilizem suas falas ao conversar com os filhos, mas é preciso saber a hora de parar. “À medida que a criança começa a estabelecer vínculos com outras pessoas e em espaços distintos, essa fala pode prejudicar, inclusive, os seus relacionamentos. Então, os pais precisam discernir que, quando a criança está se apropriando da oralidade, eles devem passar a falar de forma correta, para que o filho se aproprie do vocabulário de maneira adequada”, explica.
Segundo a pedagoga, o maior prejuízo desse hábito é o atraso no desenvolvimento da fala e até da linguagem. “Quanto menos essa fala infantilizada for usada no cotidiano da criança, mais rápido ela vai se apropriando dos códigos formais da oralidade e, consequentemente, da escrita, porque escrevemos o que pensamos”, explica Rita.
Ela orienta que não existe idade ideal para conversar de forma infantilizada com a criança, o indicado é não falar. “Mas, uma vez falando, que essa frequência vá diminuindo ao longo do tempo de modo que a criança se aproprie da linguagem adequadamente, sobretudo, quando ela já frequenta espaços sociais, como escola” completa.
A pedagoga explica que mesmo quando a criança já tem um vocabulário organizado, pode acontecer algumas trocas na hora da fala, como “plato” em vez de “prato”, ou “vrido” em vez de “vidro”. “Isso é natural porque ela está construindo e desenvolvendo a linguagem. Esses erros são questões fonoaudiológicas que, muito provavelmente, serão corrigidos com o tempo”.
Palavras no diminutivo, como “filhinho”, copinho”, etc. não representam uma infantilização da fala, mas apenas um jeito carinhoso de conversar. “Esse tipo de expressão, não vai interferir no desenvolvimento da linguagem. O que deve ser evitada é a forma incorreta de pronunciar as palavras como, por exemplo, falar ‘pepeta’ em vez de ‘chupeta’” defende.
Para ela, esse costume pode, futuramente, acarretar em algum episódio de bullying na escola caso converse assim com colegas. “A criança sofre um choque linguístico porque em casa é ‘pepeta’ e na escola é ‘chupeta’, e ela vai chamar o objeto como se acostumou. É importante que, nesse momento, a família não fale mais assim com ela e já tenha organizado um repertório mais adequado, que articule as palavras de forma correta”.
Fazer com a criança verbalize suas vontades pode ajudar no desenvolvimento do processo da fala. “Se ela aponta para o brinquedo, por exemplo, o pai deve perguntar: “O que você quer? O brinquedo? Sim ou não?”. Sendo possível continuar esse diálogo como “Por que você quer esse brinquedo? Qual a cor dele?”. Enfim, fazer com que a criança verbalize é um ótimo motivador da família em relação ao desenvolvimento da fala”.
Os pais e familiares também podem corrigir erros de pronúncias dos pequenos estimulando-os a falar corretamente. Entretanto, correção em público ou tirar sarro são atitudes que podem começar a intimidar a criança.