Voltando um pouco no tempo, vale lembrar que o capitão presidente está certo ao se assumir como o mal-educado e grosseiro Johnny Bravo, um pitboy de desenho animado, patético e bronco.
Fazendo blague, há quem diga que ele é a mistura de outros personagens fictícios, como a ignorante Magda (Marisa Orth) do “Sai de Baixo” e a Ofélia (interpretada por Sônia Mamede e depois Cláudia Rodrigues) que dizia com firmeza ao seu marido Fernandinho (Lúcio Mauro): “Só abro a boca quando tenho certeza”. Mas, vindo do presidente, deixa de ser humorístico quando ele faz questão de ser “boca suja”, ao usar palavras de baixo calão, falando mal de quase tudo e de todos que não dizem “amém” às suas crendices. Não só descrê dos índices oficiais do próprio governo ou se refere a um general (Luiz Rocha Paiva) como sendo melancia verde por fora, vermelho por dentro. Vai além!
Partidários de primeira hora são destratados, porque não aceita nenhum tipo de crítica ou opinião contraria à sua. Cercado de puxa-sacos, assessores amedrontados e uma família onde fritar hambúrguer nos Estados Unidos significa ponto a favor para ser indicado embaixador sem nunca ter sido diplomata, mereceu a capa da edição do início deste mês da revista Isto É, que estampou sua foto com a frase “Por que não te calas?”, originalmente dita em 2007 pelo rei Juan Carlos, da Espanha, se referindo ao ex-presidente Hugo Chávez, da Venezuela.
Num medieval estilo militar, o presidente quer porque quer arranjar adversários, não importa quem. Assim, já não será surpresa se os alguns bons ministros que possui deixarem seus cargos mais rápido do que se pensa.
Seu partido político, o PSL, expulsou da legenda o deputado federal Alexandre Frota, que, decepcionado com a intenção do presidente de nomear seu filho como embaixador nos Estados Unidos, lembrou que Eduardo Bolsonaro não tem nada de diplomático, haja visto ter aventado o fechamento do Supremo Tribunal Federal “por um cabo e um soldado”. Inquirido sobre a decisão do PSL, o presidente perguntou “quem é Alexandre Frota”, se esquecendo de que ex-ator era um de seus principais aliados. Sobre a possibilidade de não ser aprovada a indicação, disse que “o Senado pode barrar. Mas imagine que no dia seguinte eu demita o ministro das Relações Exteriores e coloque o meu filho. Ele não vai ser embaixador, ele vai comandar 200 embaixadores mundo afora. Alguém vai tirar o meu filho de lá? Hipocrisia de vocês”.
Na semana passada, sabendo de críticas do apresentador de TV Luciano Huck ao seu governo, o presidente foi taxativo se referindo à hipótese de ter sido usado financiamento subsidiado com de 3% a 4% do BNDES para comprar um avião: “Se Huck comprou jatinho, faz parte do caos. O bicho vai pegar a quem fica arrotando honestidade”.
À esquerda, o capitão não deixa um dia sem “chamar para briga”. Uma das últimas foi dizer que o PT botou no Brasil 10 mil cubanos fantasiados de médicos para fazer células de guerrilhas”. Argumentou: “Precisa ter prova disso daí? Acha que está escrito isso aí em algum lugar?”. Ou seja, ele pode acusar sem nenhuma prova.
Mundo afora, só poupa o ídolo, o controverso presidente Donald Trump, que quer o seu filho lá, quem sabe para ensinar fritar hambúrguer na Casa Branca. Depois de ser contra o Acordo Climático de Paris, aceito por 195 países, o nosso presidente demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por comprovar o aumento do desmatamento no Brasil. Até a Nasa se posicionou contra a atitude de Bolsonaro que, além disso, menosprezou a ajuda internacional para a proteção do ecossistema brasileiro. Em tom de deboche mandou “um recado para a senhora querida” (chanceler Angela Merkel) que suspendeu 80 milhões de dólares para a Amazônia: “Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok?”. Resultado da resposta mal-educada: no dia seguinte, também a Noruega interrompeu os recursos que envia para o Fundo Amazônia que tenta minorar o desmatamento.
O capitão-presidente já fala em abandonar o Mercosul, caso os “bandidos de esquerda”, ganhem a eleição de outubro na Argentina, país onde esteve recentemente pedindo votos para a reeleição de Mauricio Macri. O favorito Alberto Fernández retrucou o brasileiro, a quem taxou de “racista, misógino e violento” e até o nosso presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), lamentou o posicionamento de Bolsonaro, dizendo que “independentemente de questões ideológicas, o Brasil não deve interferir nas eleições de outro país”.
Milhões dos eleitores do capitão-presidente, votaram nele por serem contra o extremismo da esquerda e corrupções envolvendo o governo do PT e políticos em geral. Ledo engano. Se queriam um remédio, foi produzido um antídoto não só violentamente extremista, como capaz de arregimentar inimigos até onde inicialmente só existiam apoiadores. Agindo de maneira esnobe e ditatorial, dividindo ainda mais o País, o agora presidente se revela totalmente despreparado.