O nome dele era Ayrton Senna da Silva, mas desde sua primeira vitória Fórmula 1, no GP de Portugal, em 1985, ganhou um novo sobrenome e passou a ser conhecido como Ayrton Senna do Brasil. Vinte e cinco anos depois da morte do piloto, que fazia o país acordar cedo aos domingos e aguçava milhares de brasileiros a se interessar por F1, seus fãs não só se mantêm, como continuam aumentando, ativos e apaixonados.
“Quando Ayrton Senna despontou para o sucesso, o Brasil vivia uma fase moral, econômica e social difícil . O Senna era um Brasil que dava certo no momento incerto. Junte a isso o fato de ser extremamente patriota, tudo demonstrava o quanto ele queria um país melhor para todos nós”, diz o jornalista Raphael Lucca, 36 anos, ao tentar mensurar o tamanho do seu ídolo.
Para os mais jovens talvez seja difícil entender como o esportista virou, ainda vivo, uma lenda, e como ele estava presente no dia a dia dos brasileiros. Mas para quem viveu o período, era uma paixão natural. No aniversário de 3 anos, Lucca ganhou dos pais um carrinho de brinquedo e assistiu Senna vencer o GP da Bélgica, em 1985. “Desde então sou fã dele e sempre serei”, conta. Para ele, um dos momentos mais marcantes da carreira do piloto é a vitória do GP da Europa. “Era domingo de Páscoa de 1993 e tinha viajando com minha família para Araxá. Estava com meu padrinho e os demais hóspedes do hotel em um auditório com TV, e quando ele ganhou todos nós vibramos muito. Parecia final de Copa do Mundo. Foi espetacular ver todas aquelas pessoas comemorando e se abraçando para celebrar a conquista dele”.
Parte dos fãs de Senna jamais chegou a vê-lo competir. É o caso da auxiliar de controladoria Fernanda Archangelo, 21 anos. “Não o vi competir, mas ao ler o livro ‘Ayrton: o herói revelado’ me apaixonei pela trajetória dele, sua determinação, a forma como ele tratava os amigos. Ele competia com seus próprios recordes, tirava o melhor dos veículos, conhecia e melhorava o carro, um cara determinado e com bom coração”, resume apaixonadamente.
Mas para os fãs que mantinham o ritual dos domingos na frente da TV para ver Senna disputar o pódio, o baque do começo daquela tarde de 1° de maio de 1994, feriado nacional do Dia do Trabalhador, foi imenso. “Quando o Galvão falou ‘Senna bateu forte’, senti um vazio e muita tristeza”, lembra a governanta Nana Sousa, 39 anos, sobre a reação de Galvão Bueno, que narrava o GP de San Marino, na Itália, ao ficar atônito ao vivo.
Para o jornalista Eugênio Moreira, a F1 perdeu a graça. “Na época da morte dele, lembro que gastei um bom dinheiro com a compra de jornais e revistas e depois de livros sobre sua carreira. A partir daí, perdi o interesse pela Fórmula-1 e até deixei de assistir às corridas”, conta.
“Quando sua morte foi confirmada, chorei muito, aliás, passei uma semana chorando, como se tivesse perdido um amigo, um familiar. Não foi fácil passar aquela semana, mas me marcou muito as pessoas virem me cumprimentar e serem solidárias a tal modo como se eu fosse da família dele”, lembra Lucca.
A psicóloga especializada em esporte Patrícia Leiva explica que a fascinação por determinadas figuras públicas baseia-se em desejos e sonhos. “Aquela pessoa representa algo que permeia nosso desejo de alcançar, de ser”. A trajetória cinematográfica do piloto era a cereja do bolo. “O início de sua história de ser desfavorecido em relação aos outros carros, entrar como preterido e vencer. Isso tudo representa muitas vezes o que se passa no nosso dia a dia cheio de dificuldades. O esporte tem uma representatividade do nosso cotidiano, por isso, grandes ídolos estão envolvidos com esportes porque é uma área em que se trabalha concentração, persistência e resiliência”, conclui.