BRUMADINHO. Frequência estabelece tendência. Fôssemos um país sério, que preza pela legalidade real, o presidente da Vale, bem como todos os diretores da mina em Brumadinho, hora dessas deveriam estar na cadeia, respondendo não só pelo crime ambiental, mas sobretudo pelos homicídios dolosos que cometeram – dolo eventual, na minha leitura.
Vou além, o Estado deveria mandar a conta da operação de buscas para a empresa. Depois do desastre em Mariana em 2015, é inacreditável que chegamos ao ponto em que chegamos em Brumadinho. Pior: não é crível que ainda existam barragens do modelo a montante em operação. Elas são verdadeiros barris de pólvora.
Tanto em Mariana como em Brumadinho a mineração destruiu vidas, histórias, sentidos de existência. Além das consequências ambientais, o rastro de destruição permanecerá presente por anos a fio na vida de cada uma das famílias abatidas pela tragédia.
Que não aconteça em Brumadinho o que se estabeleceu em Mariana: o silêncio covarde que trouxe o esquecimento.
BOECHAT. No momento em que escrevo este texto (segunda, 11) acabo de ver pela Globo News o acidente que ceifou a vida de Ricardo Eugênio Boechat, de longe um dos poucos jornalistas autênticos que existem no Brasil. Boechat faz parte de um time como William Waak, Reinaldo Azevedo, J.R. Guzzo, para citar alguns, que sabem que jornalista não escolhe o alvo das suas críticas. Reunia inteligência, refinamento, humor ácido, críticas certeiras contra A e B. Seu compromisso foi com a verdade dos fatos. Sua ausência será sentida, sobretudo num momento de debate tão burro e extremista como temos tido.
GERSON CAMATA. Em dezembro último estive visitando o saudoso amigo ex-governador e ex-senador Gerson Camata. Estive com ele e Rita, em sua casa na Ilha do Frade, em Vitória, na véspera do Natal. Gerson ria, contava histórias, fazia planos para o futuro. Estava por dentro de tudo que se passava na política. Perguntou-me sobre Minas. Contei a ele sobre como se deu a eleição em 2018. Ele lamentou por alguns amigos terem se perdido no meio do caminho, mas era homem do seu tempo e estava absolutamente ligado nas transformações. Tomamos um vinho e comemos uma moqueca preparada por Rita, sempre linda e atenciosa. Marcamos de nos encontrar novamente em janeiro, em Guarapari. Infelizmente, no dia 26 de dezembro, numa tarde quente de Vitória, Gerson foi assassinado num ato covarde e ignorante. No dia 26 de dezembro de 2018 o Espírito Santo perdeu o seu maior governador e seu filho mais ilustre. Gerson era a síntese da fala de Guimarães Rosa: a vida “quer da gente é coragem”.