Pouco mais de 3 semanas após o fim da Copa do Mundo, os brasileiros foram surpreendidos por um pedido de desculpas de Neymar. O vídeo foi transmitido em rede nacional e promovido pela Gilette, marca que patrocina o jogador há algum tempo. Nele, o craque pede para que as pessoas não joguem pedras, mas que o ajudem a levantar depois dos tombos. Segundo o jogador, quando ele se levanta, o Brasil inteiro se ergue junto.
Em questão de segundos o vídeo tomou proporções gigantescas nas redes sociais e Neymar voltou a ser criticado por sua atuação na Copa da Rússia e pela fama de mimado, que carrega há um tempo. Um outro tema reacendido, após o pedido de desculpas, foi o despreparo emocional dele e de todos os jogadores da seleção mediante a pressão que sofrem em jogos decisivos como os da Copa.
Uma das questões levantadas foi que a seleção brasileira não é acompanhada por uma equipe de psicólogos. “O time da Alemanha, por exemplo, tem um departamento com 16 psicólogos que acompanham desde a seleção de base e não só na Copa. É um trabalho a longo prazo e que surte efeito”, informa o psicólogo esportivo Marcos Franco.
Ele acrescenta que essa área ainda não recebe a devida importância. “Na Copa no Brasil, por exemplo, o Felipão chegou a chamar uma equipe de psicólogos para, em um momento mais crítico, conversar com os jogadores. Mas um trabalho pontual não surte efeito. Não tem como fazer uma mudança em pouco tempo, é preciso um acompanhamento a longo prazo”.
O psicólogo esportivo diz que é um trabalho focado no rendimento do atleta. “Na parte condicional e no foco dele. Auxilia a abstrair a pressão da torcida, família e a ter como prioridade o papel esportivo da melhor maneira possível e com mais atenção”.
O que é?
O presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício Físico (APPEE), João Ricardo Cozac, explica que a psicologia esportiva é uma ciência que estuda os fenômenos psicológicos, emocionais e sociais que ocorrem antes, durante e após qualquer ação esportiva. “Seja ela de caráter competitivo ou recreativo”.
Nova geração
Marcos explica que, atualmente, há uma mídia exacerbada acerca dos jogadores. “Isso traz muita exposição e gera essa cobrança e interesse sobre a imagem deles, positiva ou negativa. O pedido de desculpas de Neymar, por exemplo, é um reflexo disso. Foi um ato patrocinado por uma marca que precisa que a imagem dele esteja boa. Não dá nem pra saber o quanto de verdade existe ali”.
O presidente da APPEE corrobora ao dizer que os atletas estão se vulnerabilizando pelo péssimo assessoramento e pela forma que utilizam as mídias sociais. “É uma geração que vem com demandas muito peculiares, emocionais e de desenvolvimento psicológico e emocional. A pressão que volta para eles, pelo fato de ficarem desafiando a opinião pública e usando de maneira até imprudente as redes sociais, é enorme”, afirma Cozac.
Marcos elucida que, quando se tem uma grande exposição nas mídias sociais, as críticas passam a ser das mais variadas. “É preciso trabalhar com esse atleta a forma de sentir essa pressão a fim de que ele absorva apenas as críticas construtivas e, nesse ponto, a psicologia esportiva é fundamental”, conclui.