É bonito e justificável o grande orgulho do brasileiro por ter um país de proporções territoriais expressivas; pelas enormes riquezas e belezas naturais ainda pouco exploradas. Por ter, apesar de sofrida, uma enorme biodiversidade. Por ser “dono” da maior floresta natural do planeta; por ter clima tropical confortável na maior parte do país e na maior parte do ano; por não ser vítima de grandes catástrofes naturais, como ocorrem em grande parte do planeta. Pela riqueza cultural e reconhecida criatividade. São muitas as características positivas que são só nossas, que nos orgulham. Mas, infelizmente, esse orgulho, esse ufanismo, tem estado extremamente abalados pelos sequentes escândalos de toda natureza nesses últimos tempos, com efeitos internos incomensuráveis e, vergonhosamente, com enorme prejuízo de imagem em todo o mundo.
O brasileiro que saia do país ostentando aquela camisa verde e amarela, hoje prefere se camuflar nas multidões mundo afora.
Temos observado de mãos atadas que a prometida geração de empregos atingirá apenas 20% da meta, se tanto. Assistimos, também, a insegurança jurídica gerada pela briga de egos dos magistrados, dos procuradores e promotores, a impunidade de criminosos dentro do sistema judiciário e o descaminho de grande parte da classe política. O que vemos é o oco do sistema.
Assistimos o vertiginoso crescimento da desigualdade social atingindo níveis insuportáveis. Enquanto banqueiros acumulam recordes de lucros às custas de juros impagáveis – os mais caros do planeta – o cidadão comum vê seu nome perder crédito por não suportar esses mesmos juros. Vemos a entrega das nossas riquezas e de nosso subsolo de forma escusa. Privatizações que revelam negociatas absurdas e, extremamente, danosas ao país. Tudo isso acontece, ainda que 70% da população seja contra essas medidas, contra tudo e todos que estão aí.
Esse brasileiro que saia do país ostentando orgulhoso a camisa verde e amarela, hoje está cheio de desilusões, vendo a cada dia, seu entorno apodrecendo, assistindo seu otimismo se esvair e, para aprofundar esse buraco, aquela enorme paixão pelo futebol, igualmente tem se transformado em enorme desilusão.
O futebol, sendo uma manifestação cultural, como defendem alguns especialistas, refletia o que o brasileiro tem de melhor: sua criatividade, sua alegria e dedicação. Essas marcas levaram nosso país a conquistar cinco Copas do Mundo, ser pentacampeão, um feito até agora exclusivo. Feito que nos fazia levantar a cabeça e sentirmos orgulho do nosso futebol, orgulho de nós mesmos.
Após os anos 50 e 60, com a globalização do esporte, o futebol brasileiro também foi ganhando notoriedade na mídia nacional e internacional e, nos anos 80, o Brasil começou a exportar em grande escala jogadores para times europeus, o que aumentou ainda mais nosso orgulho por sermos esse grande celeiro de craques para o mundo.
Hoje, a realidade política, somada à realidade do nosso futebol remete o brasileiro a um vazio de projetos, esperança e sonhos. Nesta Copa da Rússia vimos o brasileiro buscar seu último suspiro de esperança e orgulho e apostar no sucesso da seleção brasileira. Vimos a tentativa desesperada da grande mídia em construir novos ídolos, novos mitos. Tentaram Tite. Tentaram escandalosamente Neymar. Tentaram tudo. Era muita coisa em jogo. Era a esperança de 200 milhões. Era a esperança de sermos competentes, sermos vitoriosos, sermos campeões. Sermos hexa. Tínhamos que ser modelo para o mundo e não a vergonha do mundo. Mas, também aí o brasileiro foi frustrado e desiludido. Depois do catastrófico 7 a 1, nós precisávamos muito voltar a ter orgulho de nós mesmos. O sucesso do nosso time seria o sucesso dessa nação de cabeça baixa. Mas, o que resultou de todo esse desejo, de toda essa torcida foi uma enorme frustração. O mesmo sentimento em relação aos poderosos que, sem nenhuma cerimônia, despejam em nossas gargantas tudo que podem produzir de pior.
E assim, frustrado com tudo e com todos, esse povo brasileiro terá de encarar, dentro de 3 meses, a eleição de um presidente da República, de um governador de Estado, dois senadores e deputados federais e estaduais. Essa massa sofrida, desiludida e descrente, sem vitórias, sem “Tites”, sem “Neymares”, sem locutores barulhentos e mentirosos “vendendo felicidade”, sem acreditar em nada, terá a sua vez, terá seu verdadeiro momento de poder. Quem torceu e perdeu, quem luta e não ascende, quem grita e não é ouvido, quem acreditou e se ferrou, poderá agora mudar o rumo dessa história. Este sim, é o grande momento. Vota Brasil. Muda Brasil.