Surfar pelas calçadas e ruas dos centros urbanos sempre remeteu a liberdade e quebra de regras. Para o Minas no Skate, de Belo Horizonte, a prática do esporte uniu mineiras após tentativas frustradas de patrocínios para mulheres skatistas.
O coletivo surgiu há 3 anos com a criação de um grupo em uma rede social, quando Stephane Brisa Guimarães, Catarina Reis, Lorena Fernanda e Andrezza Maris pensavam em formas de trazer visibilidade ao skate feminino da capital. “Algumas andavam juntas, outras sozinhas por BH. Nos víamos, mas sem intimidade, o que só aconteceu depois do grupo. A união veio naturalmente, indo e voltando de eventos. Com isso, surgiu a necessidade de mostrar a força do skate feminino na cidade”, comenta Stephane, uma das fundadoras e coordenadora do coletivo.
Para Laís Miranda,18 , o interesse pelo skate veio após ser presenteada pelo pai quando criança. “Fui criando gosto não só por praticar, mas também em acompanhar a cena do skate. Comecei andando na minha rua mesmo, por causa da idade, minha mãe não deixava ir pra longe. Conheci uns meninos do bairro que também andavam, eu era a única menina no meio, mas não ligava, apesar de ter sido um pouco desacreditada por causa disso”.
Participar do projeto tranquilizou a mãe de Laís. “O coletivo me ajudou, porque, no início, minha mãe não deixava sair para andar longe. Quando conheci o Minas, de certa forma, ela sentiu mais confiança. Só pude sair e andar numa pista de verdade porque falei que não iria sozinha, com o tempo ela viu que não era nada de outro mundo, já que outras meninas e até mulheres mais velhas também andavam. Foi muito importante para minha evolução no skate”, lembra.
Quem também aparece para as voltas em cima dos shapes é a estudante de veterinária Larissa Lambertucci, 18, que começou a andar com 14 anos na esplanada do Mineirão. “O projeto incentiva muito as mulheres, nos sentimos mais acolhidas. As meninas estão sempre nos estimulando, nos colocando pra frente e tudo mais pra continuarmos sempre nesse corre”.
Apesar da audiência criada e do potencial do skate feminino, os patrocínios não vieram. Hoje, composto por 40 meninas, o coletivo também se tornou uma marca de roupas e acessórios do mundo skatista. “100% das marcas de skate montam uma equipe de skatistas e são eles que dão audiência para essas lojas, só que a maioria é formada, exclusivamente, por homens. Apesar do projeto ter sido apresentado para várias marcas, não houve interesse em nos patrocinar. Depois de muita luta, criei a marca, justamente para poder patrocinar o coletivo. Atualmente, somos uma marca de skate e 5% do que vendo, reverto para o coletivo”, explica Stephane.
Círculo fechado
No caso do Minas no Skate, a discriminação veio com o crescimento do coletivo para uma marca independente e atuante. “Homens, que estão há muito tempo no skate e acostumados a organizar eventos, não abrem espaço para mim”, conta a coordenadora. Além de ameaças em redes sociais que não se concretizaram, um episódio assustou Stephane. “Uma vez, patrocinamos um evento e um locutor de skate famoso daqui de BH arrancou nossos adesivos que estavam pregados na pista. Nos xingou, achei bem agressivo. Isso porque nosso banner estava alguns centímetros fora do padrão, só que ele nem era da organização. Quem estava organizando era eu, com mais três pessoas”, lembra.
Essa exclusão na capital se reflete nas vendas. 90% do que o Minas no Skate vende são de clientes das regiões de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. “Quase não vendemos para Belo Horizonte”, diz.
Ações coletivas
O coletivo não se restringe a pagar apenas as inscrições e custos de viagens das meninas, mas também trabalha na produção de oficinas e rodas de conversas gratuitas em escolas para crianças interessadas no esporte. Na pauta, diversidade, importância do esporte, preconceito e aprendizado pessoal são os principais temas discutidos. Elas também tem seu próprio evento, o Encontro Minas no Skate, realizado na semana do Dia da Mulher, que este ano recebeu cerca de 200 pessoas, e premiou as primeiras 5 colocações nas categorias mirim, open e feminino.