Apesar das informações estarem por toda a parte, as mulheres ainda continuam engravidando na adolescência. Segundo dados levantados pelo Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), em 2015, 546,5 mil crianças nasceram de mães com faixa etária de 10 a 19 anos. Esse valor representa 18% dos 3 milhões de nascidos vivos no país.
A região com mais filhos de mães adolescentes é o Nordeste, que concentra 180 mil nascidos, ou 32% do total. Em seguida, vem o Sudeste, com 179,2 mil (32%); o Norte, com 81,4 mil (14%); o Sul (62.475 – 11%); e Centro-Oeste (43.342 – 8%). Em Minas Gerais, somente no ano passado, 32.450 crianças nasceram de mães adolescentes e no acumulado de 2014 até 2017 foram 153.772.
O professor da UFMG, ginecologista e obstetra Augusto Henriques Brandão esclarece que não existe uma idade adequada para engravidar, porém antes dos 16 anos existe um risco maior de mortalidade materna. “Há dois principais problemas que atingem as mães nessa idade, a pré-eclâmpsia, que pode acometer a gestante após a vigésima semana e é caracterizada por hipertensão arterial, nefrite e perturbações hepáticas; e a prematuridade do parto”.
O médico elucida que a gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública que sempre atingiu a população brasileira e continuará sendo um problema. “Houve melhora no acesso aos métodos contraceptivos de maneira geral, mas, apesar de tudo isso, a falta de informação, ausência de orientação e a estrutura social ainda não mudou. Muitas vezes a mulher nem sabe que tem acesso ao método ou nunca passou por uma consulta de acolhimento com um médico que poderia dar esse tipo de orientação”.
Brandão afirma que o trabalho dos profissionais da saúde visa a prevenção primária da gravidez. “As unidades básicas de saúde oferecem diversas formas de prevenção, desde camisinhas, anticoncepcionais, remédios injetáveis e DIU”. E para aquelas adolescentes que engravidaram, o trabalho deve ser visando evitar a segunda gestação que, nessa faixa etária, geralmente, acontece após um ano do primeiro filho. “Quando ela estiver amamentando, tem que ser orientada sobre planejamento familiar. Essa é uma questão que não deveríamos negligenciar, porque essa paciente já teve contato com o sistema de saúde, então isso passa a ser uma responsabilidade compartilhada das redes básicas de saúde e hospitalar”.
Questão psicológica
A coach familiar, especializada em psicologia e desenvolvimento humano, Valéria Ribeiro explica que uma adolescente que engravida perde a vivência de uma etapa importante, pois ela ganha uma responsabilidade com o filho. “Muitas delas acabam deixando a escola, passam a não ter muitos sonhos para a vida e, normalmente, há uma probabilidade grande de ter o segundo filho logo que o primeiro nasce. Isso é prejudicial, porque elas serão mães muito jovens e sem preparação”.
E quando isso ocorre, na maioria das vezes, quem assume o papel de pais da criança são os avós. “A gravidez precoce também pode gerar conflito interior, pela insegurança financeira e as dificuldades em educar a criança, por isso, as adolescentes necessitam de cuidado, atenção e apoio dos pais. Porém, em alguns casos, os avós acabam cuidando do neto de maneira excessiva e isso é ruim, pois cria a sensação de que alguém vai assumir a responsabilidade por algo que ela faça”.
Valeria reitera que a melhor prevenção é uma boa educação sexual dentro do seio familiar. “É importante informar sobre os riscos e complicações da gravidez na adolescência e todas as mudanças que acontecem a partir do momento em que engravida. O diálogo em família é essencial e deve haver uma conversa aberta e transparente para que as jovens tenham toda a informação ao seu alcance e possam ter atitudes responsáveis e não ter surpresas indesejadas”, finaliza.
Dois lados da mesma moeda
A balconista Roberta Santana teve seu filho quando tinha 18 anos. Ela conta que a descoberta da gravidez mudou a sua vida. “Parei de sair e comprar coisas para mim. Hoje tudo o que faço é para Pietro”.
Ela relembra que o enxoval da criança foi comprado quase que exclusivamente por ela e pelo pai. “Ganhamos algumas coisas, como roupinhas e brinquedos, mas o grosso foi a gente mesmo. Na primeira semana que ele nasceu, a minha mãe veio ajudar, mas depois foi embora e, hoje, eu e Jonathan cuidamos dele”.
Atualmente ganhando um salário mínimo por mês, Roberta tem que se desdobrar para pagar as contas de casa, como luz, aluguel e alimentação, além de prover o necessário para o filho. “Se deixar faltar o leite que Pietro gosta é uma briga feia”.
Outra mulher que engravidou na adolescência foi Esther Gonçalves, estudante de psicologia, quando tinha 15 anos. “A princípio fiquei meio desesperada, mas sempre amei criança e tinha vontade de ser mãe, só não esperava ser tão cedo. Minha família foi incrível comigo, acolheu a mim e ao Fred de braços abertos. Porém, por morar em uma cidade pequena, muitas pessoas falaram mal ou se aproximaram só pra saber o que estava acontecendo e comentar coisas negativas”.
Na questão de saúde, a gravidez de Esther foi tranquila, o que ficou comprometido foi o seu desempenho escolar. “Eu tinha mudado de escola pela primeira vez e engravidei no meio do ano. O novo colégio tinha um sistema de notas diferente e eu peguei várias recuperações. Quando descobri a gravidez, desorientei e guardei essa informação por 2 meses e, por isso, não conseguia fazer mais nada”.
Atualmente, a estudante mudou para Belo Horizonte para finalizar a faculdade. “Trouxe Fred comigo, então deixei a ajuda para trás e assumi a total responsabilidade sobre ele, como levar para aula, fazer almoço e arrumar casa. Nesse caso, tem uma privação maior”.
A fisioterapeuta Vanessa Mesquita também foi mãe aos 15 anos. “Na época, não se comentava nada sobre essas coisas. Meu namorado tinha a mesma idade que eu, éramos crianças”.
Hoje, com 38 anos e seu filho com 23, Vanessa relata que, assim que ele ficou adolescente, conversou sobre sexo. “Eu o chamei no quarto e expliquei tudo sobre isso. Peguei uma banana e mostrei como se colocava camisinha, dentre outras coisas”.