Neste mês de novembro, período dedicado à saúde do homem, é importante destacar que, além do câncer de próstata, há outro tipo de enfermidade que atinge o sexo masculino de forma dramática: o câncer de pênis.
Considerado uma doença rara em alguns países, como nos Estados Unidos onde a uma incidência de apenas 0,4% dos tumores malignos ou na Escandinávia que apresenta ocorrência de 1 a 1,3 por 100.000 habitantes, no Brasil a realidade é outra. Segundo dados do Inca, o câncer de pênis representa 2% de todos os tipos de tumores que atingem os brasileiros, sendo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste e com surgimento maior após os 50 anos. Em 2013, a doença matou 396 homens e, em 2015, último ano do levantamento, 402 pessoas faleceram por causa da enfermidade.
O oncologista e diretor da clínica Personal, André Murad, explica que a incidência do câncer tem como principal fator a falta de higiene nas partes íntimas. “Observamos que essa doença ocorre, na maioria das vezes, em pessoas de baixo nível socioeconômico, geralmente moradores de periferias e locais com pouco acesso à postos de saúde e médicos. Além disso, a enfermidade atinge aqueles que não tomam banho todos os dias ou não sabem fazer a higienização correta do pênis”.
A falta de limpeza do órgão gera um acúmulo de esmegma (secreção produzida que tem como principal objetivo umidificar e lubrificar a pele da glande). “Esse líquido mistura-se com bactérias e forma-se uma substância leitosa e mal cheirosa. Isso faz com que o local se torne bastante ácido, facilitando o processo inflamatório crônico naquela célula, que acaba sofrendo uma degeneração ou alteração no DNA, transformando-se em câncer”.
Além disso, a presença da fimose, ou seja, excesso do prepúcio (pele que reveste a glande), também pode ser um fator de risco para a doença. O médico elucida que o correto é que o prepúcio seja totalmente aberto e que a glande seja exposta. “O prepúcio dificulta a higienização. Com isso, o esmegma, que é causador de câncer, vai acumulando naturalmente”.
Para a prevenção da doença, a cirurgia de fimose tem que ser feita na infância. “Por exemplo, os judeus, por questão religiosa, fazem esse procedimento bem pequeno e, por isso, dificilmente terão câncer de pênis”.
Ademais, pessoas que possuem HPV, doenças que comprometam a imunidade, como Aids e fumam têm uma predisposição maior a ter a enfermidade. Porém, casos de câncer de pênis envolvendo esses fatores de riscos são raros.
Diagnóstico
O médico conta que, geralmente, a doença começa com uma ferida pequena e, ao invés do homem procurar um profissional para melhor diagnosticá-lo, eles vão pelo caminho mais simples: ir a farmácia e pedir orientação para quem está atendendo no local. Segundo Murad, normalmente, o que leva o paciente a procurar o especialista é sangramento ou mal cheiro. “Em 30 anos atendendo no Hospital das Clínicas, posso contar nos dedos os casos que chegaram com um ferida pequena. Eles procuram um profissional quando a lesão está bem grande e a única solução é a amputação total ou parcial”.
O diagnóstico precoce também possui outro dificultador: o preconceito. O urologista fala que os homens possuem uma ideia de que aquela ferida possa ser uma doença ruim, então entram em pânico por saber que devem ser submetido a alguma cirurgia ou, eventualmente, sofrer o processo de remoção parcial ou total do pênis. “Eles acreditam que o tratamento vai levar a impotência sexual e isso já assusta muito. Imagina se alguém fica sabendo que aquele homem não tem mais o pênis? Com certeza, ele vai ser piada entre os amigos”.
Murad faz um alerta: “Nem toda ferida é câncer, mas ela, obrigatoriamente, tem que te levar ao médico”, finaliza.
Lidando da melhor maneira
O funcionário público Aquiles Teixeira, 41, descobriu a doença há 3 anos. Ele conta que começou a sentir uma ardência no pênis e, com a orientação de sua mulher, resolveu fazer um teste de DST e o resultado foi negativo. Neste momento, resolveu procurar um urologista. “Quando o médico disse que eu poderia ter um câncer, fiquei um pouco triste, mas depois levei na esportiva. Coloquei na minha cabeça que era uma doença como qualquer outra”.
Teixeira descobriu o tumor com 60 dias, o que facilitou no tratamento e a manter uma parte do seu pênis. “Tive que amputar 6 centímetros, mas falei para Deus que se precisasse tirar tudo podia. Eu só queria ficar livre daquela dor”. Após a amputação, ele precisou fazer quimioterapia. “Os médicos aconselharam que eu passasse no psicólogo, mas não precisei”. Tanto que Aquiles preferiu não esconder que tinha a doença. “Se você não levar na esportiva, acaba morrendo”.
[table “” not found /]Foto: Zico Crédito: Reprodução