Embora pontualmente alguns segmentos econômicos, como o de serviços, excetuado o comércio, ainda estejam longe de se recuperarem das perdas acumuladas entre a segunda metade de 2015 e os primeiros meses deste ano, o setor produtivo brasileiro está, lenta e gradualmente, mas de maneira constante, conseguindo reverter às quedas acumuladas de desempenho.
O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) já estima um crescimento de 0,7% do PIB brasileiro para este ano, em parte devido ao aumento das exportações (que também possibilitaram o pequeno aumento da produção industrial) mas, especialmente, ao fato de os brasileiros estarem conseguindo voltar às lojas. Um sintoma disto foram às vendas do Dia das Crianças, que tiveram alta de 2,7%, depois de 2 anos de quedas.
Exceção à regra dos índices pífios, o agronegócio deverá fechar o ano com crescimento de pouco mais de 2% no mercado interno e por um salto de 24% nas exportações. O risco é que os contínuos recordes de produção e de produtividade do setor superem além da conta a atual demanda, inclusive externa. Aí…
Mas a grande notícia vem do crescimento dos investimentos produtivos, que em agosto tiveram aumento de 0,8% em relação a igual mês do ano passado, segundo o Ipea. Pode parecer pouco – e realmente é – mas ele acontece depois de muito tempo de paralisia sistemática, expressa pelas quedas de 9,3% em 2014, 25,3% em 2015 e 10,6% em 2016, e traz em si um significado importante.
Apesar de discretos, os sinais de reativação dos investimentos na produção de bens de capital são um fator relevante. Se lembrarmos que investimentos dessa natureza são direcionados para máquinas, equipamentos e construção fica óbvia a percepção de que as empresas destes segmentos estão contando com o crescimento da demanda por obras de infraestrutura (leia-se rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia), certamente resultante da privatização de diversas empresas estatais desses setores e de perspectivas de novas concessões.
Neste ponto, abro parêntese para um comentário: por que será que o Aeroporto de Congonhas, um dos ativos estatais que mais atraem o interesse da iniciativa privada e que até alguns poucos dias estava na lista das próximas concessões agora não está mais? Fecho o parênteses e deixo o assunto por conta do leitor, mas aproveito para reiterar minha opinião de que governos não devem se meter em negócios que não lhe competem. Tanto é que, entre as tantas estatais privatizadas, especialmente aquelas de infraestrutura, praticamente todas passaram a oferecer serviços melhores, gestão mais eficiente, atitudes inovadoras. Exemplos: Vale, Embratel, Aeroporto Internacional Tancredo Neves, Usiminas e muitas outras.
Mas voltemos ao assunto. Os sinais de que os investimentos em bens de capital estão voltando, com a consequente ativação de setores com extensa capacidade de geração de empregos, deverão influenciar significativamente, num efeito cascata, a reposição dos quase 14 milhões de postos de trabalho que a recessão extinguiu a maioria deles na indústria de bens de consumo e na própria ponta do consumo.
O aumento das vendas do varejo, a retomada do setor de serviços, ao puxarem a produção industrial, podem efetivamente sustentar nos próximos anos índices razoáveis de crescimento econômico. Mas ao serem atingidos os patamares pré-crise, ele será praticamente vegetativo e, portanto, incapaz de assegurar resultados consistentes em longo prazo. O crescimento sustentável só se torna possível quando há investimentos e demanda para bens de capital. Máquinas e equipamentos são sinônimos de obras, de construções, inclusive do futuro.
*Engenheiro, vice-presidente da Federaminas, presidente do Conselho do Instituto Sustentar e presidente da Federação de Conventions & Visitors Bureau de Minas Gerais – roberto@clan.com.br