O segundo turno de nosso campeonato brasileiro já começou. O Corinthians segue disparado na liderança e, atualmente, somente o Grêmio oferece algum risco para equipe do Parque São Jorge. Disputas acirradas por vagas na Libertadores da América, Copa Sulamericana e contra o temido rebaixamento. Os nervos estão à flor da pele. Jogadores, comissões técnicas, dirigentes e torcedores vivem expectativas e emoções variadas. Afinal, todos querem a vitória a qualquer custo. E quando as coisas não saem conforme o planejado e hora de achar um culpado. E para não perder o costume, a arbitragem é quase sempre apontada como a grande responsável pelo insucesso das equipes.
Essa questão é recorrente em nosso futebol. Ninguém quer assumir sua própria incompetência. Todos os anos a mesma choradeira se repete. E o árbitro responsável por conduzir o espetáculo se encontra entre a cruz e a espada. Jogo tenso, truncado, pressões de todos os lados.
Ora, se as imagens de TV são consideradas provas legais e podem contribuir para punir clubes e jogadores dentro e fora dos gramados, por que não liberá-las para auxiliar os árbitros dentro de campo? Por que não consultar o replay do lance para evitar que a arbitragem seja crucificada por uma jogada em que não foi possível ver com clareza ou que se tenha interpretado de forma equivocada?
Pensando nisso, a CBF, por meio do ex-presidente da Comissão de Arbitragem, Sérgio Corrêa e do idealizador do projeto no Brasil, ex-árbitro Fifa, membro da IFAB (The International Football Association Board) e atual diretor e presidente da Escola Nacional de Arbitragem, Manoel Serapião Filho, vem trabalhando, incansavelmente, a fim de que o uso da tecnologia seja implementado nas competições nacionais, visando auxiliar a arbitragem.
O chamado “árbitro de vídeo (AV)” nada mais é que um oficial de arbitragem designado pela Comissão, que acompanhará a partida por meio de um monitor à beira do campo ou numa cabine de TV. Em caso de lances pontuais e capitais, em que ocorra dúvida quanto à decisão do árbitro e/ou assistente, o “árbitro de vídeo” em conjunto com o árbitro central, irá avaliar as imagens e então confirmar ou até mesmo retificar sua decisão, isto antes que a partida seja reiniciada.
O objetivo desta importante ferramenta é utilizar as imagens para evitar erros nas seguintes situações:
– Dúvida se a bola entrou ou não no gol;
– Saídas da bola pela linha de meta, quando na mesma jogada ou contexto for marcado gol ou pênalti;
– Definição do local de tiros livres diretos, ocorridos nos limites da grande área, para definir se houve ou não pênalti;
– Gols e pênaltis marcados, possibilitados e evitados em razão de erro em lances de faltas claras/indiscutíveis, não vistas ou marcadas de modo claramente equivocado;
– Impedimentos por interferência no jogo, caso na mesma jogada haja gol ou pênalti;
– Jogo brusco grave ou agressão física (conduta violenta) indiscutíveis não vistos ou mal decididos pela arbitragem;
Para aqueles que são contrários à ideia, com o discurso de que a tecnologia vai tornar o futebol moroso, sem emoções e livre das polêmicas que alimentam as conversas de botequim na segunda-feira, com todo respeito, me permito divergir. É sabido que a tecnologia é uma das maiores aliadas do esporte. Os avanços tecnológicos permitem que o público aprecie os jogos com mais qualidade e assegura (na maioria das vezes) que os juízes encarregados de zelar pela imparcialidade possam tomar decisões assertivas.
Um dos sistemas mais usados nos Estados Unidos é a repetição instantânea, que permite que os árbitros tomem a decisão certa diante de uma jogada duvidosa. Outros esportes já aderiram ao uso da tecnologia o que tem representado significativos avanços do ponto de vista da confiabilidade e qualidade dos espetáculos esportivos.
Em verdade, a tecnologia está intimamente ligada ao futebol como nunca esteve antes. Por isso, não podemos nos render aos caprichos e resistências de alguns conservadores do mundo da bola. Fica aqui meu apelo aos amantes do futebol, principalmente, jogadores e técnicos, a fim de que possam encabeçar uma campanha em prol da tecnologia no futebol.
Se cada jogador ou treinador, ao contrário de criticar as decisões da arbitragem, passar a pressionar a CBF para que a entidade invista na implementação do projeto do árbitro de vídeo (imperioso registrar que a ferramenta está pronta para ser utilizada, inclusive, já tendo sido testada na final do Campeonato Pernambucano deste ano), não restam dúvidas que o futebol vai ganhar muito com tal medida. Não podemos deixar de lutar pelas adequações e mudanças. O primeiro passo precisa ser dado. A hora é de mobilização. Todos em prol da tecnologia. O bom futebol e a arbitragem agradecem.
*Desembargador do TJMG e Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo